Salada Verde

Militares foram mais caros e menos eficientes contra desmate na Amazônia

Taxas de desmatamento são influenciadas por investimentos e políticas públicas, ressalta um artigo de instituição brasileira

Aldem Bourscheit ·
26 de janeiro de 2024
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

As Forças Armadas gastaram mais dinheiro e foram menos eficientes do que órgãos ambientais contra o desmate da Amazônia. De 2004 a 2020, o Ibama usou R$ 1,66 bilhão, enquanto em 2 anos os militares aplicaram R$ 444 milhões. Nesse curto prazo foi gasto quase 1/4 do investido pelo Ibama naqueles 16 anos.

No mesmo período de predominância militar, os alertas de desmate aumentaram 113%, em 2019, e 60%, em 2020, a área queimada na Amazônia voltou a patamares de 2010, ações fiscalizadoras, emissão de autos de infração, confisco e destruição de equipamentos caíram severamente.

As conclusões são de um trabalho recém publicado na revista Scientific Reports por especialistas ligados à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além da “militarização” de ações ambientais, o artigo pesou a eficiência da fiscalização, alterações institucionais e na aplicação de leis.

Nesse sentido, aportes no Ibama e no ICMBio e melhorias no monitoramento por satélite ampliaram e qualificaram a fiscalização e reduziram fortemente a destruição da Amazônia brasileira, de 2000 a 2011. Nesse intervalo, as perdas de floresta equatorial caíram em 84% e multas somaram quase R$ 13 bilhões.

Já na década seguinte, o desmate regional cresceu 60%. As causas incluem anistias a crimes e multas desde a publicação da legislação florestal de 2012, enfraquecimento de processos e órgãos fiscalizadores. Frente a 2012-2018, o número de multas pagas despencou 97%, em 2020, e 85%, em 2021. 

Para seus autores, o artigo indica que melhorar a governança pode fazer o país retomar o combate a crimes ambientais. “Além de aumentar autuações e embargos, é necessário fazê-los valer, concluir julgamentos das multas, aliar o gasto público com governança efetiva”, diz Felipe Nunes, líder do estudo e pesquisador associado do Centro de Sensoriamento Remoto da UFMG.

Desde o início do ano passado, o Governo Federal atua para recuperar o controle e baixar o desmatamento da Amazônia. De janeiro a novembro de 2023, as perdas da floresta equatorial no país caíram 62%, analisou o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). 

Com informações da Comunicação da UFMG.

  • Aldem Bourscheit

    Jornalista cobrindo há mais de duas décadas temas como Conservação da Natureza, Crimes contra a Vida Selvagem, Ciência, Agron...

Leia também

Reportagens
21 de dezembro de 2022

Comando da fiscalização do Ibama teve 19 ocupantes no governo Bolsonaro

Rotatividade frenética nas chefias promoveu caos gerencial numa área crucial para o combate aos crimes ambientais

Notícias
1 de fevereiro de 2022

Ibama usou menos da metade do orçamento disponível para fiscalização em 2021

O órgão ambiental liquidou apenas 88 milhões, o equivalente a 41% do montante de 219 milhões disponíveis no orçamento de 2021 para a fiscalização ambiental

Reportagens
8 de junho de 2021

Sanção ambiental está mais complexa, frágil e sujeita a controle político, diz relatório

Documento divulgado pela organização Climate Policy Initiative compila e expõe fragilidades das mudanças introduzidas por Bolsonaro na aplicação de multas ambientais no país

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.