Salada Verde

Unidos de Padre Miguel levará a Amazônia para a avenida

Com o samba-enredo “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”, escola pretende falar do bioma, das suas lendas, dos povos indígenas e população ribeirinha

Sabrina Rodrigues ·
9 de fevereiro de 2018 · 7 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Neste sábado de carnaval (10), a Amazônia será representada na avenida com a Unidos de Padre Miguel (UPM), com o samba-enredo “O Eldorado Submerso: Delírio Tupi-Parintintin”, o tema será contado sob a ótica dos povos residentes à beira do Rio Amazonas e seus afluentes. A Escola da série A, que irá desfilar no Sambódromo, Rio de Janeiro, aposta que entender a Amazônia é entender o Brasil.

A escola se inspirou numa passagem do escritor manauara Milton Hatoum: “Muitos nativos e ribeirinhos da Amazônia acreditavam — e ainda acreditam — que no fundo de um rio ou lago existe uma cidade rica, esplêndida, exemplo de harmonia e justiça social, onde as pessoas vivem como seres encantados. Elas são seduzidas e levadas para o fundo do rio por seres das águas ou da floresta (…) e só voltam ao nosso mundo com a intermediação de um pajé, cujo corpo ou espírito tem o poder de viajar para a Cidade Encantada, conversar com seus moradores e, eventualmente, trazê-los de volta ao nosso mundo” (Milton Hatoum, em “Órfãos do Eldorado”).

É nesse embalo que a Unidos de Padre Miguel vai levar o seu enredo para a passarela do samba dialogando com os povos indígenas e também com a população cabocla e ribeirinha que vivem às margens do rio Amazonas. Na visão da escola, são esses povos que perpetuam, na fluidez das oralidades, a fábula de uma cidade misteriosa, com seres fantásticos e histórias indígenas sobre a criação do homem e do mundo. Esse é o Eldorado submerso que se faz emergir no delírio carnavalesco da Unidos de Padre Miguel.

A representação desse reino misterioso virá do Pajé ou Xamã, que é aquele que pode transitar entre os mundos, com sabedoria ancestral e necessária para a preservação da cultura local. E ficará a cargo do rio Amazonas desaguar nos enigmas do mundo. Parintintin é a forma como são chamados os nativos de Parintins, que no enredo é nova cidade do Ouro.

A Unidos de Padre Miguel quer que todos conheçam o que os antigos ensinaram e convida a todos a assistirem no sábado as histórias desse povo que será mostrada na passarela do samba.

Samba-enredo da Unidos de Padre Miguel na íntegra:

O dia vai raiar

A unidos vem contar

Que ouvindo o chamado do pajé

Saí do beiradão entre o real e a ilusão

Pra mergulhar nas águas do igarapé

Senti quando vi macucauá

O desejo de brilhar

Feito a luz das três marias

Senhor, me responda: o que preciso entender?

Irmão, há um mistério que habita cada ser!

Você renasceu com a missão de se encontrar

No abraço da fera encantada

Aquela que guarda o fogo no olhar

Clareou cidade dourada

No fundo das águas a encantaria

O Amazonas tem na alma a criação

O começo e a razão delirante de magia

Oh yara! Oh yara!

Na correnteza o sol e a lua vêm bailar

Oh yara! Oh yara!

Em seu castelo enfeitiçado ouvi cantar

Índio Tupari prendeu Naoretá

Ao ver Mapuí lembrei de voltar

Às margens da floresta vi brotar

Meu boi bumbá

A pajelança dos parintintins

No festival de canto e dança ancestral Tupi

Misturo encarnado e anil

Ecoa toada no samba

Auê Brasil! Passista de cunhã-poranga

No eldorado eu sou guerreiro parintin

A vida caprichou

Se garantiu em mim

Beijando o rio mar

A noite tece o véu

Pro boi vermelho de Padre Miguel

  • Sabrina Rodrigues

    Repórter especializada na cobertura diária de política ambiental. Escreveu para o site ((o)) eco de 2015 a 2020.

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