De Ciro Fernando SiqueiraCaro André Alves,O que tu consideras mais fácil, atender as exigências das DRT's ou comprar um trator?? Gostaria de chamar atenção para o tratamento que a mídia está dando ao que se convencionou chamar de "erradicação do trabalho escravo". Quando a sociedade joga sobre os proprietários rurais a pecha de "escravagistas" e brada pela "erradicação do trabalho escravo", a reação dos proprietários é simples: eles substituem mão-de-obra braçal por máquinas e herbicidas (aumentando escala de produção com a conseqüente concentração da propriedade da terra), resultando em redução dos postos de trabalho no campo, redução da renda rural, êxodo, urbanização, favela, violência urbana, etc., etc. Pensar é sempre bom André. Existe um ditado popular que diz que "de bem intencionados o inferno está cheio". Não é mais do que um reflexo da percepção de que ninguém e capaz de prever todas as conseqüências das atitudes que toma. As favelas de hoje foram cultivadas inconscientemente ontem, assim como as favelas de amanhã são cultivadas inconscientemente hoje. Ninguém favorece êxodo rural e favelização deliberadamente. Tu és capaz de imaginar alguém, por ocasião dos estertores do feudalismo europeu, nos burgos que floresciam, quando as relações de trabalho eram terríveis (por desbalanço entre oferta e demanda de mão-de-obra), bradando pela "erradicação do trabalho"?? Ou durante a revolução industrial ?? Talvez, meu caro André, "regulamentar adequadamente o trabalho rural" não cause tanta comoção social, ou venda tanto jornal, quando "erradicação do trabalho escravo". Esse é um problema inerente à prática do jornalismo, grosso modo, é um problema muito mais de vocês do que meu. Acho desnecessário lembrar que o OECO nasceu com a proposta de trazer uma abordagem das questões ambientais diferente do "denuncismo" trágico corriqueiro na mídia convencional. Se tu quiseres aprender mais sobre a tal "erradicação do trabalho escravo" procura o Dr. Gervásio Castro de Rezende no IPEA do Rio, pergunta a opinião dele sobre o assunto e ABRE a tua mente pra OUVIR (e não apenas escutar) a resposta. Quanto a questão da substituição da não-de-obra braçal por máquinas a percepção que eu descrevo nesse e-mail é, não apenas acadêmica, já que eu estou concluindo pós graduação em economia ambiental, mas também empírica, uma vez que sou de uma região da Amazônia onde nunca se vendeu tanta roçadeira e pulverizador de herbicida do que nos últimos 2 anos. Sinceramente eu duvido que venha a receber uma resposta, mas eu gostaria de ver o resultado do possível exercício de raciocínio que esse e-mail vá desencadear em quem o ler. Em todo caso, o editor tem o meu endereço eletrônico. Forte abraço, Respeitosamente, →
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Redação ((o))eco
16 de outubro de 2004