No começo do ano, muita gente comemorou um anúncio da Agência Internacional de Energia segundo o qual as emissões de carbono em 2014 haviam permanecido estagnadas, apesar do crescimento da economia. Nesta segunda-feira (9/11), a Organização Meteorológica Mundial tratou de temperar o otimismo: dados divulgados pela instituição mostram que as concentrações de gases-estufa na atmosfera subiram no ano passado, e bateram mais um recorde.
Segundo o boletim anual de gases-estufa da OMM, em 2014 as concentrações de dióxido de carbono (CO2) chegaram a 397.7 partes por milhão (ppm) na atmosfera global. No mesmo ano, elas romperam a barreira simbólica das 400 ppm pela primeira vez no hemisfério Norte (algo que voltou a acontecer em 2015). O valor é 43% maior do que o máximo visto na era pré-industrial. A última vez que o planeta viu concentrações parecidas de gases-estufa foi provavelmente no Plioceno, há 3,5 milhões de anos. Naquela época, o nível do mar era provavelmente 20 metros mais alto do que hoje.
Os dados da OMM mostram que, mesmo com a alegada “estagnação” das emissões em 2014, a concentração de CO2 na atmosfera cresceu 1,9 ppm em relação ao ano anterior. A relação entre emissões e concentração não é automática, já que é preciso também considerar que oceanos e ecossistemas retiram todos os anos da atmosfera carbono emitido por atividades humanas a taxas que variam de ano a ano. A subida na concentração foi menor do que a média de crescimento da última década (2,06 ppm por ano), algo que a OMM atribui a um maior sequestro pelo mar e pelos ecossistemas.
Já o metano e o óxido nitroso, dois outros gases de efeito estufa, subiram mais do que a média na última década – a concentração de metano cresceu quase duas vezes mais em 2014 do que em 2013. Juntos, todos os gases-estufa equivalem a 481 partes por milhão de CO2 na atmosfera.
O efeito da subida de concentração desses gases é despertar um gás estufa ainda mais poderoso: o vapor d’água. Este também é altamente eficiente em elevar as temperaturas globais, mas, como varia muito de concentração na atmosfera, é uma ameaça menor do que o CO2.
Acontece que gases-estufa demais aumentam tanto a evaporação nos oceanos que a concentração de vapor no ar pode virar um problema sério. Segundo a OMM, se a quantidade de CO2 dobrasse, o vapor d’água sozinho poderia produzir elevações de temperatura três vezes maiores do que as causadas pelos outros gases.
“Em breve estaremos vivendo com níveis médios de CO2 acima de 400 ppm como uma realidade permanente”, disse em comunicado o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud. Segundo ele, o CO2 é uma ameaça invisível, mas muito real. “Significa temperaturas globais mais quentes, mais eventos extremos e enchentes, gelo derretendo, nível do mar subindo e oceanos mais ácidos. Isso está acontecendo agora e estamos entrando em um território desconhecido com uma rapidez assustadora.
*Este artigo foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, republicado em O Eco através de um acordo de conteúdo. |
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