O Pampa, também conhecido como “Campos do Sul”, é o segundo menor bioma brasileiro e o que mais vem perdendo vegetação nativa proporcionalmente ao tamanho de seu território. A partir de análises de imagens de satélite feitas pelo Mapbiomas entre 1985 e 2020, foi observado que o bioma perdeu 21,04% de sua cobertura vegetal, ficando à frente do Cerrado (-19,8%), Pantanal (-12,3%) e Amazônia (-11,6%).
Muito dessa perda se dá pelo avanço da agricultura no bioma gaúcho. Na última década, a atividade humana sobre a vegetação natural do Pampa passou a ser intensificada, podendo ser observada por meio da mudança de perfil do uso comercial do solo. Por ser uma região plana e constituída principalmente por vegetação campestre, como gramíneas, herbáceas e algumas plantas, o Pampa é um território natural para a atividade pastoril. No entanto, como explica Heinrich Hasenack, coordenador do mapeamento do Mapbiomas para o Pampa, ele vem sendo devastado pela substituição da formação campestre pela agricultura, que favorece a perda de biodiversidade e liberação de carbono na atmosfera, além de ser um um desvio de uma vocação econômica natural do Pampa: “Ao contrário da Amazônia ou do Cerrado, onde é preciso desmatar para criar gado, no Pampa a vegetação nativa é um pasto natural, o que permite que a pecuária se desenvolva preservando a paisagem”, explica o coordenador.
Mas a atividade tem perdido espaço. “Apesar de estar na tradição gaúcha, na história da ocupação do bioma e de ser uma atividade que, no Pampa, é mais alinhada aos desafios do Século 21 de preservação da biodiversidade e redução das emissões de carbono, a pecuária sobre campo nativo está perdendo espaço para a agricultura, notadamente a soja”, detalha Hasenack.
O levantamento do Mapbiomas mostra que, nesses últimos 36 anos, o Pampa perdeu 2,5 milhões de hectares de vegetação nativa e, desse total, mais de 1,9 millhão foi destinado à agricultura, o que corresponde a 76% da devastação. A atividade, que ocupava 29,8% do bioma em 1985, passou a usar 39,9% do território em 2020. No ano passado, era o principal uso dos 44,1% antropizados do Pampa e segue uma tendência de crescimento alto a cada ano.
As regiões da Fronteira Oeste, o Planalto Médio/Missões, Zona Costeira e leste da Campanha foram as que mais sofreram perdas com o avanço da agricultura nesse período, mas a substituição pode ser observada em todo o território. Os cinco municípios que mais devastaram o Pampa nos últimos 35 anos foram São Gabriel, Alegrete, Tupanciretã, Dom Pedrito e Bagé.
Vale lembrar que o Pampa, hoje o que mais perde vegetação, é também o que tem a menor proporção de unidades de conservação dentre todos os biomas brasileiros. Apenas 3% dos Campos do Sul são protegidos, sendo 80% Áreas de Proteção Ambiental, categoria com menor grau de proteção. Por conta disso, existem regiões do Pampa que já estão excessivamente descaracterizadas, com sua capacidade de restauração ecológica com as variantes genéticas típicas dessas regiões em risco, aponta a pesquisa.
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