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Newsletter O Eco+ | Edição #136, Fevereiro/2023

Nhecolândia, o retorno do Conama e o Acordo Escazú

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26 de fevereiro de 2023

Era final do século XIX e começo do século XX. Ao pecuarista Cyríaco da Costa Rondon pertenciam quase metade das terras da atual “Nhecolândia”, uma sub-região do Pantanal em Mato Grosso do Sul composta por propriedades gigantes que pertenceram a pioneiros como Cyríaco e a Joaquim Eugênio Gomes da Silva, o “Nheco”. Meio século depois, parte do território do pecuarista, que um dia alcançou mais de 350 mil hectares, começa a ser adquirido por novos proprietários. Vindos de outras partes do Brasil, esses novos donos encontram ali um ecossistema ainda preservado, onde passa-se a configurar um grande corredor de preservação, com a implementação de uma série de iniciativas – turismo ambiental, serviços ambientais, venda de crédito de carbono, projetos de conservação de espécies ameaçadas, entre outras. É neste cenário que o livro  recém-publicado da jornalista Teté Martinho, “Memórias de um Pantanal: Histórias de homens e mulheres que desvendaram a região do rio Negro”, busca documentar e perpetuar a história particular dessa sub-região do Pantanal. Michael Esquer e a autora conversam sobre a formação da região pantaneira que já pertenceu quase que pela metade ao tio de marechal Rondon, e onde hoje se configura polo de preservação.

Com a reativação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o órgão volta à vida com um colegiado maior do que no período anterior ao governo Bolsonaro – 114 membros, contra os 96, pré-2019. Sua composição também trouxe de volta uma distorção antiga: a desigualdade de representação. As entidades da sociedade civil têm apenas 22 assentos, contra 92 representantes de governos, nas três esferas, e do setor empresarial. Essa assimetria foi abordada em um ofício, encaminhado no último dia 6, pela representante do Ministério Público Federal junto ao colegiado, Fátima Aparecida de Souza Borghi, à ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva. Gabriel Tussini analisa o documento que, além de criticar a falta de paridade no órgão, fez recomendações para o cumprimento da liminar do STF sobre o assunto.

Apesar do nome complicado – Acordo Regional sobre Acesso à Informação, Participação Pública e Acesso à Justiça em Assuntos Ambientais na América Latina e no Caribe –, o Acordo de Escazú é um tratado que fala, sobretudo, em transparência nas tomadas de decisões ambientais e segurança para quem as defende, unindo questão ambiental com direitos humanos. O brasileiro Rubens Harry Born é um dos 10 nomes da lista de pré-selecionados para compor o Comitê de Apoio à Implementação do acordo e, se confirmado, sua escolha de Born dá duas importantes sinalizações ao Brasil: ela indica que a comunidade internacional vê o país, que ainda não ratificou o tratado, como um importante player em sua implementação, e também mostra que a sociedade civil brasileira está empenhada em sua ratificação, mesmo que o governo ainda não tenha dado esse passo. Rubens Born fala mais sobre o assunto em entrevista para Cristiane Prizibisczki.

Boa leitura!

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Redação ((o))eco

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· Conservação no Mundo ·

Mineração versus DiCaprio. Na revista ZooKeys, pesquisadores da Universidad Autónoma de Chiriquí, no Panamá, descreveram cinco novas espécies de cobras comedoras de caracóis da parte superior da Floresta Amazônica no Equador e na Colômbia e das florestas Chocó-Darién do Panamá. Três destas novas espécies foram nomeadas pelo ator Leonardo DiCaprio, pelo conservacionista Brian Sheth e pela ONG Nature and Culture International para aumentar a conscientização sobre as ameaças que essas cobras enfrentam devido à mineração e ao desmatamento. Equador e Colômbia viram um aumento na mineração ilegal de ouro ao longo de rios e córregos durante a pandemia do COVID-19, o que pode ter afetado as populações dessas espécies e levou a conflitos e divisões nas comunidades. As cobras comedoras de caracóis são arbóreas e dependem de ambientes úmidos para sobreviver, então o desmatamento e a poluição da mineração, incluindo a mineração ilegal de ouro, afetam tanto as cobras quanto os caracóis e lesmas de que dependem para se alimentar. [Mongabay]

 


 

Outros efeitos da guerra. Depois de quase um ano, a invasão da Rússia infligiu mais de US$ 51 bilhões em danos ambientais à Ucrânia, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente do país. A invasão espalhou destroços por cerca de 14 km², com foguetes e projéteis queimando cerca de 607 km² de florestas e plantações, que podem levar décadas para se recuperar, mesmo no cenário mais otimista. Cerca de 687 mil toneladas de produtos petroquímicos queimaram como resultado de bombardeios, enquanto quase 1.600 toneladas de poluentes vazaram em corpos d’água. Produtos químicos perigosos contaminaram o solo. A poluição da água e do solo pode tornar temporariamente impossível o cultivo nas áreas afetadas. Para complicar ainda mais as coisas, cerca de 15% das terras agrícolas na Ucrânia estão repletas de minas terrestres. [Yale E360]

 

· Animal da Semana ·

O animal da semana é a ararinha-azul!

A espécie que compartilhamos hoje, infelizmente, encontra-se em estado grave, criticamente em perigo de extinção. Possivelmente extinta na natureza, restam pouco mais de 160 indivíduos em cativeiro. Um programa de reprodução envolvendo Brasil e parceiros internacionais vem trabalhando para reintrodução da espécie na natureza. 📌

🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)

· Dicas Culturais ·

• Pra ler •

Arrabalde (2022) | João Moreira Salles

Panorama do maior bioma nacional, o livro mistura relatos, entrevistas e pesquisas para retratar as variadas percepções da Amazônia por aqueles que se relacionam com ela num volume que atua em sua ampla defesa.

Companhia das Letras | https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786559211524/arrabalde 

• Pra assistir •

The Need to Grow (2019) | Rob Herring, Ryan Wirick

O filme segue os pioneiros da tecnologia de ponta enquanto eles lutam para localizar sistemas alimentares sustentáveis ​​e regenerar os solos moribundos da Terra.

The Need to Grow

• Pra ouvir •

Rio de Vozes (2022) | Andrea Santana e Jean-Pierre Duret

Lançado em 2022 e exibido em festivais nacionais, como o 30º Cine Ceará e o Panorama de Cinema de Salvador, o documentário “Rio de Vozes” estreia na programação de filmes do SescTV, no dia 25 de fevereiro (sábado), às 22h. Dirigido por Andrea Santana e Jean-Pierre Duret, a produção acompanha a vida de diferentes famílias de pescadores que vivem à margem do Rio São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco. A partir do dia 25, o filme também estará disponível sob demanda no sesctv.org.br/exclusivo.

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