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Ibama multa influenciador que mantinha capivara domesticada no AM

Conhecido por publicar vídeos de animais silvestres nas redes sociais, estudante de agronomia deve entregar mamífero e um papagaio ao Ibama em até seis dias

Michael Esquer ·
19 de abril de 2023 · 2 anos atrás

O influenciador que mantinha uma capivara domesticada no interior do estado do Amazonas foi notificado pelo Ibama nesta terça-feira (18). Agenor Tupinambá foi multado em mais de R$ 17 mil. Conhecido por compartilhar na internet a rotina com o mamífero, e outros animais, o jovem foi autuado por “práticas relacionadas à exploração indevida de animais silvestres para a geração de conteúdo em redes sociais”, disse o Ibama. 

Segundo Agenor, o órgão ambiental o procurou na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde ele cursa agronomia. Como não estava no campus, o tiktoker se dirigiu até a Superintendência do Ibama no Amazonas (Supes/AM), em Manaus, onde foi autuado. “Chegou lá, a gente foi pra uma sala, o pessoal começou a falar, começou a jogar as informações, mostrou as multas que eu tinha que pagar, as acusações. Foram várias multas, somando tudo dá mais de R$ 17 mil”, disse o estudante. 

A ((o))eco, o Ibama confirmou que Agenor foi notificado a excluir das suas redes sociais todos os registros da capivara, que recebeu o nome de Filó, assim como de outros animais silvestres em condições de domesticação, o que já tinha sido feito nesta quarta-feira (19). “Outra coisa é que eu tenho seis dias para entregar a Filó para eles”, acrescentou o influenciador. 

A deputada estadual Joana D’Arc (União Brasil-AM) publicou a íntegra de parte dos autos de infrações recebidas pelo influenciador nas redes sociais. Entre eles constam: explorar imagem de animal silvestre mantido em situação de abuso (capivara) e irregularmente em cativeiro (um papagaio-da-várzea e uma paca); e praticar abuso contra a capivara. O Ibama também determinou a entrega do papagaio-da-várzea mantido pelo influenciador ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Amazonas. 

“[Ele] está passando constrangimento, como se ele tivesse sendo um criminoso, infringindo alguma lei, por conta dos vídeos que ele faz com a capivara, que é lá na fazenda, no habitat natural dela. Eu estou muito indignada”, afirmou a parlamentar em defesa do influenciador.

Outra infração aplicada contra o tiktoker se deu pela morte de uma preguiça-real (Choloepus didactylus), sem autorização ambiental competente. O Ibama disse que a preguiça era criada na propriedade do influenciador, e foi por conta da morte dela que o caso chegou ao conhecimento das autoridades. “Agenor não tinha autorização legal para manter os animais em sua posse”, relatou o órgão ambiental ao informar que, no Brasil, não é admitida a hipótese de regularização junto aos órgãos ambientais de um animal adquirido ou mantido sem autorização.  

“Fui acusado de matar um animal do qual todos são testemunhas que só dediquei amor e fiz tudo o que podia para preservar sua vida”, se defendeu Agenor. ((o))eco entrou em contato com o tiktoker, que ainda não se manifestou.

Agenor terá que entregar capivara ao Ibama em até seis dias. Foto: Reprodução/Redes sociais

Animal silvestre não é pet

No Brasil, é crime explorar ou fazer uso comercial de imagem de animal silvestre mantido irregularmente em cativeiro ou em situação de abuso ou maus-tratos. A multa varia de R$ 5 mil a R$ 500 mil, segundo o Decreto Federal Nº 6.514/08. Já a multa para quem abusa, maltrata, fere ou mutila animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos varia de R$ 500 a R$ 3 mil, por indivíduo. 

Também é crime matar, perseguir, caçar, apanhar, coletar ou utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente. A multa por indivíduo pode variar entre R$ 500, para animais não ameaçados, e R$ 5 mil, para animais ameaçados extinção. 

“Animal silvestre não é pet. Por mais que algumas pessoas queiram cuidar de animais silvestres, quando os encontram na natureza, é necessário entender que eles não são animais domésticos, como cães e gatos. Capivara e bicho-preguiça são animais silvestres. Criar ou manter esses animais em casa é proibido pela legislação brasileira”, disse o Ibama. 

Além de ser crime, a exposição em redes sociais de animais silvestres mantidos irregularmente como pets estimula a procura por esses animais. A prática, segundo o Ibama, aquece o tráfico de espécies da fauna brasileira. “Por mais que se acredite estar ajudando um animal silvestre, dando comida e abrigo, é importante entender que essa atitude pode prejudicá-lo, pois reduz sua capacidade de sobrevivência na natureza. Animais silvestres também podem transmitir doenças graves para os humanos”, informou o órgão.

Diante do encontro com um animal silvestre ferido, o recomendado é que se acione o órgão público competente imediatamente. “Quem possui animal silvestre em situação irregular pode realizar entrega voluntária ao órgão ambiental competente para evitar penalidades previstas na legislação”, completou o Ibama. 

*Atualizada às 19h do dia 19/04/2023 com manifestação do Ibama

  • Michael Esquer

    Jornalista pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), com passagem pela Universidade Distrital Francisco José de Caldas, na Colômbia, tem interesse na temática socioambiental e direitos humanos

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Comentários 6

  1. Ismercio diz:

    O IBAMA está preocupadaço com capivara, e outros bichos silvestres, que o jovem Antenor acolheu e estava cuidando com carinho, mas errou em tiras fotos e fazer vídeos e não tê-los devolvidos a naturezas, mais ou menos isso né?
    Quero saber qual órgão devo me dirigir quando uma capivara atravessa uma rodovia ou rua, por não estar em cativeiro sendo muito bem tratada, e destroi um carro ou moto, por vezes levando seus ocupantes a óbito.
    Ah!! Tem também as vítimas do carrapato estrela, comum onde tem muitas capivaras, que pode levar a óbito crianças ou idosos por transmitir febre maculosa.
    Qual órgão da apoio a estes cidadãos nrstes casos??
    Aqui na minha cidade Piracicaba-SP temos muitas, muitas mesmo, destas capivaras que saem das margens do rio e andam pelas ruas às margens do tal rio, causando doenças e acidentes.
    E aí??
    A quem procuro?


    1. Rafael L diz:

      Então as capivaras deveriam estar todas em cativeiro? Que perverso! Os lagos e rios, até mesmo de cidades, são o ambiente natural desses bichos onde eles devem estar em bandos livres. O papel do Ibama não é apreender esses seres. Nosso papel como cidadãos seria exigir outras soluções pro problema que vc levantou, como que fossem construídos túneis por baixo das vias pros animais atravessarem em segurança as avenidas, estradas, rodovias.


  2. Charles D diz:

    Quem tem autorizaçao do IBAMA para criar animais silvestres sob o pretexto de pseudoconservação, pode abraçar os animais, por exemplo, onças-pintadas e lobos-guarás, e publicar fotos e vídeos nas redes sociais a fim de angariar seguidores, colaboradores e patrocinadores? Com autorização do IBAMA pode, sem autorização não pode?


  3. Charles D diz:

    Muita gente querendo virar celebridade às custas do rapaz que resgata e cuida dos animais. Pelo menos o Agenor não é do tipo “agente público chamado para resgatar um saruê atacado por um cão” que, ao invés de levar o animal ferido e resgatado para receber cuidados veterinários, solta no primeiro parque urbano que encontra pela frente. Há uma epidemia de inversão de valores. Por exemplo, quem corta a cabeça de duas onças e tortura um filhote de onça com cães mau-tratados não oferece risco para a sociedade, o Agenor parece que sim.


  4. Charles D diz:

    E quem tem autorização do IBAMA para manter animais em cativeiro com fnalidade de pseudoconservação, como onças-pintadas e lobos-guarás, por exemplo, pode abraçar os animais, tirar foto, fazer vídeos e publicar nas redes sociais para angariar seguidores e recursos?


  5. JTruda diz:

    PALHAÇADA! A fiscalização do IBAMA na Amazônia anda sem muito o que fazer. Infelizmente a “capivara do Agenor” não é um caso isolado, e sim um padrão de perseguição ridícula a indivíduos que resgatam e cuidam de animais silvestres que de outra forma morreriam à espera do Estado incompetente e boçal. E os tribunais reconhecem que esse tipo de condiuta n˜˜Está na hora desse tipo de taradismo persecutório acabar!!!