Notícias

Resultado de Bonn indica que Conferência do Clima de Dubai será tensa, diz especialista

Encontro terminou sem respostas concretas que possam pavimentar decisões a serem tomadas nos Emirados Árabes, em dezembro

Cristiane Prizibisczki ·
16 de junho de 2023 · 2 anos atrás

Os resultados alcançados a duras penas na Pré-COP de Bonn, Alemanha, indicam que, este ano, a Conferência do Clima da ONU em Dubai será difícil. Problemas nas negociações, tomadas tardiamente pelos países presentes no encontro e depois de muito embate, antecipam dificuldades potenciais para a 28ª edição da Cúpula do Clima. 

“O ritual foi cumprido, mas muitas coisas vão ter que ser discutidas a fundo e com detalhes em Dubai mesmo. Esperamos em Dubai uma conferência tensa, com muitos temas e muitos detalhes para serem definidos e ratificados, então teremos emoções bastante grandes no final do ano”, diz Isabel Drigo, gerente de Clima e Emissões do Instituto de Manejo e Certificação Florestal Agrícola (Imaflora).

Durante nove dos 10 dias de encontro, um embate entre o bloco de países ricos e pobres travou as discussões e quase fez com que a reunião terminasse sem uma agenda de temas a serem discutidos na COP dos Emirados Árabes.

As Pré-COP, como a de Bonn, são eventos com grande peso técnico e político. São nesses encontros que saem os temas-chave e os rascunhos de acordos que podem ser fechados nas Cúpulas do Clima da Organização das Nações-Unidas.

Três temas principais estavam na mesa para entrar na agenda da 28ª COP: monitoramento dos resultados dos países membros no cumprimento do Acordo de Paris (chamado de Global Stocktake), agenda de Adaptação e Programa de Trabalho em Mitigação.

Isabel Drigo, que acompanhou todo o encontro, trouxe a ((o))eco os resultados do encontro nos três principais tópicos e em outros.

Programa de Mitigação e financiamento

Apesar de ter sido discutido em várias sessões, o Programa de Mitigação – e o financiamento das ações propostas no programa –  ficaram de fora da agenda de negociações da futura COP-28. 

Este foi o principal tópico de discordância. O bloco da União Europeia queria que o tema entrasse na agenda. Os blocos do G77 – grupo das nações menos desenvolvidas e em desenvolvimento – e  da América Latina não aceitavam sua entrada, sem que a questão do financiamento também estivesse em pauta.

Para os países pobres, exigir mais ambição sem oferecer condições financeiras para que tais nações possam retirar do papel suas metas é injusto, justificam. No penúltimo dia do evento, a UE recuou e aceitou que o tema fosse retirado da agenda.

“No final tivemos quatro rodadas sobre o Programa de Mitigação. Ele deixa, de qualquer maneira, algumas discussões registradas, mas como não fazia parte da agenda formal, elas [discussões] vão ter que ser todas retomadas na COP 28”, explica Drigo.

Adaptação

Sobre Adaptação, as discussões em Bonn giraram em torno do estabelecimento de uma meta global. O que se esperava é que saísse do encontro um rascunho sobre métricas, indicadores e formas de monitoramento desta meta.

Segundo Isabel Drigo, o que saiu foi um texto informal, apenas com propostas sobre como elaborar tais indicadores e métricas. “Muito mais ainda um rascunho do método do processo do que já descrito todo esse método passo a passo”.

Global Stocktake 

O último workshop técnico sobre esse tema em nível global foi realizado durante a Conferência de Bonn, de onde saiu um documento detalhando como o mecanismo de monitoramento das metas globais vai ser operacionalizado.

Segundo Drigo, no entanto, também neste tópico o resultado é apenas um documento sobre processos para criação do mecanismo, não sobre como funcionará o mecanismo em si.

“O documento dá uma certa estrutura sobre o passo a passo para realmente se detalhar como vai ser feito o balanço global, como os países vão reportar a implementação concreta das suas NDCs [metas de redução de emissões nacionalmente determinada] para essa contabilidade, mas ainda, de novo, é um documento de processo.”

Perdas e Danos 

O fundo para bancar perdas e danos climáticos em países subdesenvolvidos foi um dos tópicos principais da COP de 2022, no Egito, e esperava-se que sua operacionalização avançasse ao longo deste ano. De acordo com a gerente do Imaflora, no entanto, não houve evolução sobre o tema em Bonn. 

“Esse tema também foi marcado por muita divisão, muita divergência, e terminou sem definição. Não conseguiu nem definir quem vai secretariar essas discussões”, explicou Drigo.

Mercado de Carbono 

Um dos pontos mais polêmicos do Acordo de Paris, e que nunca foi implementado, é o artigo 6, que trata da instalação de um Mercado de Carbono regulado em nível global – e não o voluntário, hoje utilizado por empresas para compensar suas emissões. Segundo a especialista do Imaflora, o tema avançou em Bonn e o rascunho de uma decisão será levado para Dubai.

“A Conferência de Bonn terminou sem um resultado muito concreto para pavimentar realmente boas decisões e decisões mais rápidas na COP 28 em Dubai. Foi uma conferência pautada por muita divisão entre blocos de países […] muito política, mais política do que técnica, marcada por divisões”, finaliza.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

Leia também

Notícias
16 de junho de 2023

Três em cada quatro brasileiros dizem se preocupar com as mudanças do clima, mostra pesquisa

Cerca de 196 milhões de pessoas no país – 94% – disseram acreditar que o aquecimento global está acontecendo. Dados serão usados em políticas públicas, afirma MMA

Notícias
15 de junho de 2023

Encontro climático de Bonn termina com decisões tardias e sentimento de frustração

Apenas no penúltimo dia do evento países-membros concordaram com a agenda de temas que serão discutidos na COP-28. Países pobres saem descontentes

Petropolis-fev-2022-3-Carl-de-Souza-AFP.
Colunas
15 de junho de 2023

A Torre de Babel das mudanças climáticas

As incongruências vão da velha tática da obstrução ao diversionismo parlamentar. Não é de hoje que os interesses nacionais se sentam à mesa das negociações climáticas apenas em defesa de interesses econômicos e geopolíticos domésticos

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.