Newsletter O Eco+ | Edição #155, Julho/2023
09 de julho de 2023
A rodovia BR-262 cruza o país de leste a oeste, do Espírito Santo ao Mato Grosso do Sul. Inaugurada em 1969, é uma das autopistas mais perigosas do Brasil, para pessoas e fauna silvestre. Nas palavras da pesquisadora Débora Yogui, a BR-262 “é uma das inúmeras rodovias construídas sem prever estruturas para reduzir acidentes com animais.” A vegetação ao longo das laterais da pista e as valas alagáveis são falhas construtivas que atraem animais à rodovia. O licenciamento ambiental, que poderia obrigar medidas para conter as colisões rodoviárias, foi introduzido por lei no país 12 anos depois, em 1981. Mesmo assim, na prática, ações contra atropelamentos de fauna ainda hoje são uma exceção em obras de infraestrutura. Aldem Bourscheit percorreu o trecho mais perigoso para a fauna da BR-262, registrou animais mortos e buscou explicações e soluções para o problema que há décadas dizima a biodiversidade nativa no Mato Grosso do Sul.
“A gente voltou a ter transparência, ninguém fica brigando com os dados do satélite, escondendo o satélite, querendo demitir o presidente do INPE, o que estamos fazendo é mostrar com transparência o que está acontecendo no território, trabalhando com parceiros, buscando acertar as políticas em tempo real”, disse a ministra Marina Silva em coletiva de imprensa na quinta-feira (6). De acordo com números apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança Climática (MMA) durante a coletiva, entre janeiro e junho de 2023, o Cerrado perdeu mais de 4 mil km² de vegetação nativa, área equivalente à cidade de Cuiabá, a oitava maior capital do país em termos territoriais. Para conter essa alta no desmatamento, o ministério anunciou que vai começar a embargar remotamente áreas desmatadas ilegalmente no bioma. Cristiane Prizibisczki traz mais detalhes sobre a retomada da estratégia de combate ao desmatamento através da análise de imagens de satélite, cuja realização foi interrompida durante o governo Bolsonaro.
“A pior forma de continuar nesta linha do business as usual, dos negócios ambientalmente negativos como sempre foram, é ignorar as externalidades nocivas da produção, deixando as consequências para os outros. O setor de petróleo, para continuar a operar, protagoniza uma espécie de encenação “para inglês ver”, expressão cunhada diante da prática de fachada da repressão brasileira ao tráfico de escravos, realizada para agradar aos ingleses”. A análise de Carlos Bocuhy esta semana se volta para as empresas da área de combustíveis fósseis que, diante dos acordos climáticos globais, assumiram compromissos de “carbono zero” e “transição energética”, mas continuam a investir pesadamente naquilo que lhes dá lucro em curto prazo, a extração de petróleo.
Boa leitura!
Redação ((o))eco
· Destaques ·
Por que morrem tantos animais na BR-262?
Para conter alta no desmatamento, governo dará início ao embargo remoto no Cerrado
O recuo climático das empresas de petróleo
· Conservação no Mundo ·
Carbono protegido. Se deixadas sem proteção, muitas das áreas protegidas do mundo provavelmente teriam sido queimadas, derrubadas ou degradadas, liberando grandes quantidades de gás de retenção de calor. Uma pesquisa publicada na revista Nature Communications mostra que, nas duas últimas duas décadas, se isto tivesse ocorrido, teriam sido produzidas 9,65 bilhões de toneladas de carbono, mais que o dobro das emissões de combustíveis fósseis dos EUA em 2022. O estudo destaca “a importância crítica das áreas protegidas para ajudar a mitigar as mudanças climáticas”, mostrando que as áreas protegidas são muito mais ricas em carbono do que as áreas desprotegidas, principalmente no Brasil, que responde por um terço do carbono salvaguardado em áreas protegidas globalmente. [Yale Environment 360]
Degradada, mas ainda valiosa. A humanidade transformou o planeta de uma forma impressionante. Como espécie, modificamos pelo menos três quartos da superfície terrestre da Terra: mosaicos vibrantes de florestas, campinas e pântanos foram substituídos por redes rodoviárias, cidades movimentadas, e pastagens, plantações e terras agrícolas em escala industrial. Com grande parte dos ecossistemas intactos do mundo agora modificados por seres humanos, mais foco precisa ser colocado em reconhecer e preservar o valor da biodiversidade de paisagens dominadas pelo homem, diz uma equipe internacional de pesquisadores em um novo estudo publicado na Global Ecology and Conservation. O estudo adverte que, sem uma gestão cuidadosa, espécies serão perdidas cada vez que a terra for convertida de um tipo de uso para outro, como quando silvicultura é transformada em plantação ou agricultura. Os pesquisadores pedem avaliações de impacto sobre a biodiversidade quando a terra é proposta para conversão, independentemente de ser um habitat primário intacto ou considerado terra “degradada”. [Mongabay]
· Animal da Semana ·
O animal da semana é a anta-brasileira!
De tamanho avantajado – alcança até 1,20 m de altura, 2 m de comprimento e 300 kg –, visual peculiar (corpo de porco, cascos de boi, orelhas de cavalo e focinho de elefante) e vítima de bullying por sua fama de atrapalhada, a anta-brasileira é o maior mamífero terrestre nativo da América do Sul. Ao contrário do que afirma o mito popular, trata-se de um bicho inteligentíssimo.
Seu habitat são as florestas e campos da América do Sul, do leste da Colômbia até o norte da Argentina e Paraguai. Aqui, são mais encontradas nas áreas próximas aos rios Paraná e Paraguai, no Pantanal, na bacia do rio da Prata e na bacia do rio Amazonas. Sempre se mantém próximas aos rios porque, excelente nadadora, é neles onde busca refúgio de predadores, como onças-pintadas e onças-pardas.
Antas não são avistadas na Caatinga há pelo menos 30 anos. Em março deste ano, uma expedição partiu em busca de respostas para o desaparecimento da espécie no bioma. Quer saber mais? Leia “A anta perdida da Caatinga”
🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)
· Dicas Culturais ·
• Pra ouvir •
Bichos, plantas e histórias que não contaram para você | ((o))eco
O segundo maior predador da América do Sul perdeu espaço. Pressionada pela destruição e ocupação do seu habitat, a onça-parda muitas vezes é obrigada ao convívio com outra espécie: a humana. Os conflitos e desafios que emergem dessa convivência homem x onça são pontos críticos em iniciativas de conservação que visam proteger o grande felino. Histórias recentes de onças assassinadas mostram que o medo e a violência ainda protagonizam essa relação. Nesta segunda-feira (10), ouça “Vida de Onça”
• Pra ler •
O livro do clima (2023) | Greta Thunberg
Garantir um futuro seguro para a vida na Terra, em escala e velocidade inéditas, contra todas as probabilidades, parece uma tarefa impensável. Mas há esperança — desde que confiemos na ciência antes que seja tarde demais.
No livro, Greta Thunberg reúne mais de 100 especialistas — geofísicos, oceanógrafos e meteorologistas; engenheiros, economistas e matemáticos; historiadores, filósofos e líderes indígenas —, que fornecem o conhecimento necessário para combater o desastre climático.