A nova lei da União Europeia (UE) que trata da importação de produtos livres de desmatamento deixa o Cerrado como uma “zona de sacrifício” para o desenvolvimento agrícola. Isto é o que afirma publicação na editora científica Springer Nature, na qual cientistas pedem a priorização do bioma em discussões diplomáticas internacionais.
Publicado no formato de carta na revista Nature Sustainability, o documento discute a situação atual do bioma e propõe mecanismos para reverter o seu cenário de devastação.
“O Cerrado está atualmente excluído dos principais esforços de sustentabilidade do agronegócio – notavelmente, a Moratória da Soja, um bem-sucedido acordo de desmatamento zero de várias partes interessadas que se aplica apenas ao bioma amazônico. Além disso, novas propostas legais devem piorar essa situação”, diz a carta, assinada por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), da Universidade Griffith, na Austrália, e da Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica.
O documento defende que, nacionalmente, reverter o desmatamento no Cerrado – e consequentemente manter seus serviços ecossistêmicos — requer a ressurreição de estratégias tradicionais de conservação, como regulamentação mais rigorosa; aplicação da lei para limpeza de vegetação em propriedades privadas; e investimentos na expansão e melhor monitoramento de áreas protegidas e terras indígenas. “Este momento requer uma discussão diplomática baseada na natureza direcionada a reverter a negligência do Cerrado para evitar crises ambientais e socioeconômicas com repercussões internacionais”.
Os pesquisadores ainda afirmam que a lei de “due diligence” (investigação prévia para garantir ausência de irregularidades) da UE adota uma definição florestal rigorosa que deixa 74% do Cerrado desprotegido. “Internacionalmente, a legislação de ‘due diligence’ deve ser estendida com urgência para abranger savanas e outros biomas não florestais”, completam os cientistas.
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Por favor, explicitar os ‘cientistas; autores da carta