O combate às mudanças climáticas ganhou espaço relevante no discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da 78ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, na manhã desta terça-feira (19). Uma novidade, já que suas falas anteriores no púlpito da ONU foram notadamente marcadas pela luta contra a desigualdade e pela reforma do sistema internacional. Mas o Brasil quer e pode entregar mais, avaliam organizações brasileiras.
Cerca de quatro dos 15 minutos de discurso foram voltados ao meio ambiente. Lula lembrou as tragédias em decorrência das chuvas extremas que assolaram cidades do Rio Grande do Sul e também das tempestades que atingiram a Líbia no final de semana, deixando cerca de 20 mil mortos.
Ao citar tais tragédias, Lula afirmou que os eventos climáticos não são naturais, mas provocados por ações humanas e intensificados por políticas climáticas ineficientes e pela desigualdade social. Um grande avanço em relação ao que pregava seu antecessor.
“Para a agenda de clima, foi um discurso esperado, dado o que o governo vem fazendo e os compromissos que vem assumindo. Mas, para a imagem do país, foi um discurso revolucionário, se comparado à vergonha que passávamos quando o presidente anterior usava a mesma tribuna”, disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Além das mudanças climáticas, Lula também citou o Plano de Transformação Ecológica e a necessidade de uma transição energética. No entanto, ele escorregou em alguns pontos e falhou em sinalizar metas claras, dizem organizações.
Para o Greenpeace, para que se firme no lugar de liderança ambiental e possa, de fato, cobrar recursos dos demais países, o Brasil precisa abandonar a ideia de abrir novas áreas para exploração de petróleo, lidar com o desmatamento em outros biomas brasileiros além da Amazônia e superar a visão que o mundo tem do país como mero exportador de commodities.
“Estamos diante de um desafio global gigantesco, e o presidente Lula sabe disso. Ele vem posicionando o Brasil como liderança no tema, e tem espaço para isso – em especial quando consegue mostrar resultados estáveis em relação à redução do desmatamento na Amazônia e à implementação de medidas de fomento à transição ecológica […] No entanto, podemos – e queremos – ser mais do que isso”, afirma Carolina Pasquali, Diretora Executiva do Greenpeace Brasil.
O Observatório do Clima ainda lembrou que, além de suas próprias contradições, o governo Lula também vai precisar enfrentar resistências do próprio partido à agenda verde e um Congresso poderoso e reacionário, que corre para aprovar projetos de lei como o marco temporal, a anistia à grilagem e o fim do licenciamento.
“Espero que os presidentes da Câmara e do Senado, presentes em Nova York, tenham aprendido alguma coisa nessa viagem e parem com a sanha antiambiental que impera hoje no Parlamento”, disse Astrini.
Como ocorre todos os anos por convenção entre os pares, o presidente do Brasil faz o discurso inaugural de chefes de Estado, na abertura do debate geral, que concentra os líderes dos 193 países membros da ONU.
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