Em todo o Brasil, o não cumprimento do Código Florestal pode levar à perda de 32 milhões de hectares de vegetação nativa em 30 anos, o equivalente a dois terços do território da Espanha, quarto maior país da Europa. O alerta, lançado nesta terça-feira (16), foi feito pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), corpo científico brasileiro que atua como uma espécie de “IPCC da biodiversidade”.
Para chegar a tal número – contido no Sumário para Tomadores de Decisão do Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – os cientistas avaliaram os diferentes cenários de uso do solo no Brasil entre 2020 e 2050, incluindo aquele em que a legislação ambiental não é seguida. Mas a perda da vegetação não precisa ser tão dramática, dizem.
“A mensagem chave [contida no documento] é que é possível conciliar agricultura e conservação no nosso país, com vontade política, com envolvimento do setor privado e com tomada de decisão baseada no conhecimento científico. Temos diversas experiências exitosas no país nos diferentes biomas e em diferentes setores e escalas, mostrando isso”, disse Rachel Bardy Prado, pesquisadora da Embrapa Solos, que também assina o documento.
O documento, elaborado ao longo dos últimos três anos, traz um diagnóstico minucioso sobre a forma como o Brasil tem usado seu solo nas últimas décadas e as interações desses usos com a biodiversidade brasileira. Ele também compila as mais recentes descobertas científicas e esmiúça casos exitosos desta interação, sob a ótica da preservação, do bem-estar humano e do respeito aos saberes tradicionais.
Ao cruzar dados de projeção de crescimento da agropecuária com potencial dos serviços ecossistêmicos, preservação da biodiversidade e clima, os cientistas projetaram modelos e cenários alternativos de uso e ocupação da terra e futuros possíveis.
Cenários que consideram a manutenção da trajetória atual, por exemplo, alertam para os agravamentos dos impactos socioeconômicos e ambientais negativos, com destaque, inclusive, para perdas agrícolas. Na fronteira Amazônia – Cerrado, as variações no clima regional podem comprometer a viabilidade de 74% das atuais terras agrícolas até 2060, lembram os pesquisadores.
A ideia é que o documento subsidie a tomada de decisões sobre o assunto. “As soluções para conciliar agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos – muitas já conhecidas – passam por tecnologias, inovação, incentivos econômicos, extensão rural, entre outros fatores, adaptados à diversidade dos biomas brasileiros, à complexidade do meio rural, ao perfil dos atores locais e aos diversos sistemas de produção”, diz trecho do Sumário.
A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos reúne 120 especialistas no tema da biodiversidade e serviços ecossistêmicos, provenientes de mais de 40 instituições brasileiras.
O Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos completo está previsto para ser lançado em novembro deste ano.
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Vamos pensar em conjunto? Se o Piauí. detém 78% da cobertura de vegetação ainda intacta ou regenerada. E se o modo de civilização imposta a nós ou porque não tivemos outra escolha. Porque não atribuir ao Piauí, um maior valor com base 78% de áreas verdes ao PIB? Porque não se altera os coeficientes da bolsa de valores para quem tem mais áreas verdes? Com as mudanças climáticas deveríamos diminuir a carga hora aula e ensinar o povo a pensar? Talvez daqui a 500 anos poderemos vislumbrar um futuro melhor!