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Cumprimento do Código Florestal evitaria perda de 32 milhões de hectares até 2050

Cálculo foi feito pelo “IPCC brasileiro da biodiversidade”, que congrega 120 especialistas de mais de 40 instituições do país. É preciso vontade política, dizem

Cristiane Prizibisczki ·
16 de julho de 2024

Em todo o Brasil, o não cumprimento do Código Florestal pode levar à perda de 32 milhões de hectares de vegetação nativa em 30 anos, o equivalente a dois terços do território da Espanha, quarto maior país da Europa. O alerta, lançado nesta terça-feira (16), foi feito pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), corpo científico brasileiro que atua como uma espécie de “IPCC da biodiversidade”.

Para chegar a tal número – contido no Sumário para Tomadores de Decisão do Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos – os cientistas avaliaram os diferentes cenários de uso do solo no Brasil entre 2020 e 2050, incluindo aquele em que a legislação ambiental não é seguida. Mas a perda da vegetação não precisa ser tão dramática, dizem.

“A mensagem chave [contida no documento] é que é possível conciliar agricultura e conservação no nosso país, com vontade política, com envolvimento do setor privado e com tomada de decisão baseada no conhecimento científico. Temos diversas experiências exitosas no país nos diferentes biomas e em diferentes setores e escalas, mostrando isso”, disse Rachel Bardy Prado, pesquisadora da Embrapa Solos, que também assina o documento.

O documento, elaborado ao longo dos últimos três anos, traz um diagnóstico minucioso sobre a forma como o Brasil tem usado seu solo nas últimas décadas e as interações desses usos com a biodiversidade brasileira. Ele também compila as mais recentes descobertas científicas e esmiúça casos exitosos desta interação, sob a ótica da preservação, do bem-estar humano e do respeito aos saberes tradicionais.

Ao cruzar dados de projeção de crescimento da agropecuária com potencial dos serviços ecossistêmicos, preservação da biodiversidade e clima, os cientistas projetaram modelos e cenários alternativos de uso e ocupação da terra e futuros possíveis. 

Cenários que consideram a manutenção da trajetória atual, por exemplo, alertam para os agravamentos dos impactos socioeconômicos e ambientais negativos, com destaque, inclusive, para perdas agrícolas. Na fronteira Amazônia – Cerrado, as variações no clima regional podem comprometer a viabilidade de 74% das atuais terras agrícolas até 2060, lembram os pesquisadores.

A ideia é que o documento subsidie a tomada de decisões sobre o assunto. “As soluções para conciliar agricultura, biodiversidade e serviços ecossistêmicos – muitas já conhecidas – passam por tecnologias, inovação, incentivos econômicos, extensão rural, entre outros fatores, adaptados à diversidade dos biomas brasileiros, à complexidade do meio rural, ao perfil dos atores locais e aos diversos sistemas de produção”, diz trecho do Sumário.

A Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos reúne 120 especialistas no tema da biodiversidade e serviços ecossistêmicos, provenientes de mais de 40 instituições brasileiras. 

 O Relatório Temático sobre Agricultura, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos completo está previsto para ser lançado em novembro deste ano.

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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Comentários 1

  1. Vamos pensar em conjunto? Se o Piauí. detém 78% da cobertura de vegetação ainda intacta ou regenerada. E se o modo de civilização imposta a nós ou porque não tivemos outra escolha. Porque não atribuir ao Piauí, um maior valor com base 78% de áreas verdes ao PIB? Porque não se altera os coeficientes da bolsa de valores para quem tem mais áreas verdes? Com as mudanças climáticas deveríamos diminuir a carga hora aula e ensinar o povo a pensar? Talvez daqui a 500 anos poderemos vislumbrar um futuro melhor!