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Em protesto, Apib se retira de conciliação sobre Marco Temporal no STF

Organização alega que processo não tem legitimidade por decidir direitos fundamentais de indígenas por maioria de votos em uma comissão em que eles são minoria

Gabriel Tussini ·
29 de agosto de 2024

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) se retirou, em protesto, da câmara de conciliação instalada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, para decidir sobre o Marco Temporal. Após ter pedidos negados ou não apreciados, como a prévia suspensão da lei 14.701/23, que instituiu a tese, e que a conciliação fosse decidida mediante consenso dos membros, e não simplesmente o voto da maioria, a organização oficializou sua saída durante a segunda reunião da comissão, ocorrida na tarde desta quarta-feira (28).

Como mostramos antes da primeira sessão da Comissão Especial que analisa a constitucionalidade da lei, os representantes indígenas são minoria no colegiado que pode definir seu futuro. Apenas 6 dos 23 membros com direito a voto foram indicados pela organização. A Apib alega que direitos de minorias não podem ser decididos dessa forma, devendo ser protegidos pelo STF, e que essa forma de decisão viola a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário, que obriga a consulta e o consentimento de povos indígenas sobre medidas que os afetem diretamente.

Segundo a ata da sessão, que não foi transmitida, a representação da Apib leu uma manifestação onde a organização manifestava seu descontentamento, e frisou que “não encontra ambiente para prosseguir na mesa de conciliação”. “Não há garantias de proteção suficiente, pressupostos sólidos de não retrocessos e tampouco, garantia de um acordo que resguarde a autonomia da vontade dos povos indígenas”. Após a leitura do documento, os representantes da Apib e demais indígenas presentes no local se retiraram.

Em documento protocolado nos autos da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) 87, em que os partidos Republicanos, PP e PL pedem a confirmação da legalidade da lei do Marco Temporal, a Apib afirmou que “os moldes propostos para o processo de conciliação da comissão não podem ser aceitos” e externou que não continuará na comissão. A manifestação traz ainda, em anexo, um resumo dos argumentos e pedidos expostos anteriormente, que não foram acatados.

Nesse documento, a Apib lembrou ainda que a tramitação da PEC 48/2023, que tenta inserir o Marco Temporal na Constituição, foi usada como “ameaça” na reunião anterior. “Conciliar sob ameaça não é conciliação, é chantagem”, frisou o comunicado, assinado pelo corpo jurídico da organização. “Trata-se de conciliação compulsória, na medida em que não há garantia da voluntariedade da conciliação, já que ela está imposta aos povos indígenas, independentemente de sua vontade”, resumiu o documento.

Mesmo sem a representação oficial dos maiores interessados no assunto, o juiz auxiliar Diego Viegas Veras informou a continuidade dos trabalhos, sem suspensão temporária nem definitiva, por determinação do ministro-relator, Gilmar Mendes. As próximas reuniões estão marcadas para os dias 9 e 23 de setembro, e o encerramento da comissão está previsto para dezembro.

“Os povos indígenas pediram condições mínimas, o respeito à lei, para estar na conciliação. A resposta foi não. Mesmo com a saída da Apib, a sessão continuou: sem legitimidade, sem respeito à lei, à Constituição e aos tratados. E a lei, claramente inconstitucional, em vigor”, protestou Eloisa Machado, advogada da Apib, por meio de postagem na rede social X (antigo Twitter).

  • Gabriel Tussini

    Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), redator em ((o))eco e interessado em meio ambiente, política e no que não está nos holofotes ao redor do mundo.

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