Salada Verde

Ministério da Pesca nas mãos do Senado

Deputados aprovam criação do Ministério da Pesca e Aquicultura, escanteando área ambiental. Novas atribuições do órgão podem ser ainda mais prejudiciais aos ambientes pesqueiros.

Salada Verde ·
31 de março de 2009 · 15 anos atrás
Salada Verde
Sua porção fresquinha de informações sobre o meio ambiente

Nos últimos dias, a Câmara dos Deputados aprovou a criação do Ministério da Pesca e Aquicultura. Depois de uma medida provisória revogada em agosto de 2008 e mais um mês de impasses no início deste ano, novo texto passou por uma comissão especial na Câmara e agora segue para o Senado.
 
Se a criação de mais uma pasta federal já preocupava à época da canetada de Lula, agora parece haver mais motivos para dor de cabeça. Entre as mudanças apresentadas, está a predominância do novo ministério sobre o Ministério do Meio Ambiente (MMA) na regularização e fiscalização do uso de recursos pesqueiros. Pelo texto original, tais competências seriam compartilhadas.
 
O motivo da alteração, segundo o relator do projeto, deputado José Airton Cirilo (PT-CE), seriam os supostos excessos do Ibama no desenvolvimento das atividades. Conforme Cirilo, o órgão vinculado ao MMA age de forma “muito agressiva e desrespeitosa”, o que acaba “intimidando, amedrontando e ameaçando” pescadores.
 
Outra mudança é a inclusão da pesca de espécies ornamentais, de subsistência e amadora ou esportiva na lista atividades que o novo órgão terá de supervisionar. Pelo texto antigo, apenas as pescas comercial e artesanal seriam supervisionadas por ele. A realização de zoneamento ecológico-econômico de áreas pesqueiras, hoje de responsabilidade do MMA, ficará sob responsabilidade comum dos ministérios da Agricultura, Desenvolvimento, Integração Nacional e Pesca, como sugeria a primeira redação do projeto de lei.
 
Para o oceanógrafo Frederico Brandini, apesar de trazer aspectos muito negativos do ponto de vista da conservação, um Ministério da Pesca não vai alterar muito a realidade atual da pesca no país. “(A proposta) está de acordo com a política dos grandes empresários. Mas não vai piorar mais do que está, porque já estão acabando com tudo mesmo”, diz o pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná, lembrando que, todos os anos, o Brasil retira do mar cerca de 44 maracanãs cheios de peixe até a boca.
 
Segundo ele, o fato de a gestão ser compartilhada e a pasta da Pesca se sobressair sobre a do Ambiente não vai tirar a totalidade de poder do Ibama. No entanto, Brandini também lembra que esse órgão, já hoje, não tem condições de fiscalizar corretamente a atividade pesqueira no país. Agora, é esperar pelo parecer do Senado.

Leia também

Notícias
3 de maio de 2024

Eletrobras contraria plano energético e retoma projetos para erguer megausinas no Tapajós

Há oito anos, as usinas do Tapajós estão fora do Plano Decenal de Energia, devido à sua inviabilidade ambiental. Efeitos danosos são inquestionáveis, diz especialista

Reportagens
3 de maio de 2024

Obra para desafogar trânsito em Belém na COP30 vai rasgar parque municipal

Com 44 hectares, o Parque Ecológico Gunnar Vingren será cortado ao meio para obras de mobilidade. Poderes estadual e municipal não entram em acordo sobre projeto

Salada Verde
3 de maio de 2024

Governo do RJ recebe documento com recomendações para enfrentamento ao lixo no mar

Redigido pela Rede Oceano Limpo, o documento foi entregue durante cerimônia no RJ. O plano contém diretrizes para prevenir, monitorar e conter o despejo de lixo nos oceanos.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.