Em 2005, foram registrados 161,374 focos de calor na Amazônia legal brasileira. O número de queimadas na região foi apenas 3,04% menor do que no ano anterior. Em estados como Mato Grosso, houve uma redução de 35%. Mas em outros , como o Acre, o número de queimadas quadruplicou (424%). Os dados fazem parte do levantamento “Queimadas na Amazônia Brasileira em 2005”, realizado pela Embrapa Monitoramento por Satélite e previsto para ser divulgado este mês.
Amazonas (168%), Maranhão (36%) e Rondônia (35%) foram outros estados que apresentaram significativo aumento de incêndios agro-florestais.Segundo o estudo, os principais motivos foram “frentes de povoamento e colonização”, ampliação de pastagens e atividade madeireira.
No caso do Acre, os pesquisadores acreditam que o número foi influenciado por construções de rodovias e por desenvolvimento econômico. Eles citam como exemplo a conclusão da ponte que liga o sul do estado a Pucalpa, no Peru. Enfatizam que rodovias estaduais e federais estão sendo reformadas e que houve um surto de crescimento urbano e eletrificação rural. Novas áreas agrícolas também estariam sendo abertas com o objetivo de legitimação de posse de terras. Além do Acre ter tido o segundo maior crescimento de rebanho bovino da Amazônia entre 1990 e 2003.
No ano passado, o estado enfrentou a pior seca da sua história recente. Em 34 anos de medição pluviométrica , nunca se registrou tão pouca chuva, nem tamanha falta de umidade no ar acreano. Devido à seca atípica, as queimadas iniciadas em chácaras ou pastagens se expandiram mata adentro, multiplicando os incêndios e causando estragos de certa forma imprevisíveis, uma vez que a floresta amazônica não costuma ser tão inflamável.
Menos fogo
Entre os estados que diminuíram suas taxas de queimadas estão Roraima (menos 42%) e Amapá (menos 57%). Já o Tocantins, ficou estável. “O estado já foi a maior fronteira agrícola do país”, diz Adriana Vieira de Moraes, pesquisadora de Agrometeorologia e uma das autoras do estudo, “Agora, mantém o número de queimadas praticamente inalterado, com uma ligeira diminuição”. Para Adriana, uma das razões é o esgotamento do estoque florestal. A maior parte das áreas em que se poderia exercer algum tipo de atividade agrícola já está desmatada. “Não há mais o que queimar”, afirma, “Ainda há áreas verdes, mas elas não são tão propícias – em termos de tamanho e localização, por exemplo – para a agropecuária”.
Para Carlos Eduardo Young, economista e colunista de O Eco, o recuo dos índices de queimadas nesses estados foi conseqüência do aumento da fiscalização e da crise econômica referente à carne e à soja brasileira. “Há o fator institucional – o endurecimento da fiscalização, principalmente depois do caso Dorothy Stang – e o fator econômico”, comentou. A sobrevalorização do câmbio tornou pouco rentável a expansão da produção, já que os preços pagos no mercado externo ficaram consideravelmente mais baixos. Com isso, a fronteira agrícola, principal fator de desmatamento na Amazônia, ficou estagnada.
Previsões para 2006
O período de chuva deste ano terminou em abril e os satélites do INPE já detectaram nos primeiros dias de maio um aumento significativo no número de focos de calor – que não necessariamente indicam a presença de queimadas e incêndios, mas são indicadores de onde há altas temperaturas concentradas. No mês de abril, foram detectados 836 focos no país. Só nos dez primeiros dias de maio, o número já chegou a 575.
Segundo o engenheiro Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento de queimadas realizado pelo Inpe, ainda é cedo para traçar qualquer cenário para este ano. “É como tentar dizer o resultado do jogo com cinco minutos de partida. Você pode até fazer um gol no início, mas a situação final é imprevisível”, afirma. As queimadas que se realizaram até agora, representam apenas cerca de 5% do total. Mas uma coisa é certa: 2006 está sendo um ano mais úmido, o que ajuda a impedir o alastramento do fogo.
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