Achei realmente ótima a idéia do Greenpeace de colocar, em sua página na internet, um quadro comparativo entre as propostas ambientais de Lula e Alckmin, com comentários e críticas de quem entende do assunto. Foi realmente divertido ver o quão vagas e imprestáveis são as idéias de ambos os candidatos para o tema. Mas, honestamente, eu me pergunto de que isso efetivamente importa.
Farinha do mesmo saco
De uns anos para cá, eu deixei de acreditar nos políticos. De uma maneira geral. Acho que não passam de mentirosos e demagogos, com diversos motivos para almejar este ou aquele cargo, mas que nunca sequer se aproximam do interesse público. Como eu vejo, das duas, uma: ou estão brigando para serem eleitos ou para eleger alguém que lhes garanta alguma vantagem. Acho que, por isso, ando muito alienado nessas eleições. Talvez mais, até, do que deveria. Não assisti a nenhum debate. Não vi nenhum dia de propaganda gratuita. Não tenho lido a seção de política dos jornais. Acho que, para ver gente mentindo descaradamente, eu prefiro ir ao cinema. Pelo menos é uma mentira mais honesta e, enquanto mentira, mais convincente.
De que importa o programa de governo do candidato A ou B se, uma vez eleito, qualquer um deles vai esquecer tudo aquilo que prometeu? Se a decisão sobre o que fazer, no fim das contas, não é de uma pessoa só, mas de um bando de gente de rabo preso com esse ou aquele interesse particular? Se der Lula ou Alckmin, para mim, tanto faz. A política ambiental brasileira anda mal das pernas há muito tempo — às vezes um pouco melhor, às vezes um pouco pior. Mas sempre uma porcaria, porque, no fundo, fazer a coisa certa pelo meio ambiente não dá voto. Aliás, no curto prazo, isso tira muito mais voto do que a ainda restrita comunidade ambientalista pode garantir. E é só nisso que eles pensam. Acho a política ambiental de Lula particularmente desastrosa, assim como o restante do seu governo. Mas os 8 anos de FHC também não foram grandes coisas nesse sentido. A de Collor/Itamar, não me lembro, e acho que, na época, quase ninguém se preocupava.
O fato é que, se hoje aparecesse um candidato com o melhor programa ambiental do mundo, prometendo se dedicar 24 horas por dia ao meio ambiente e proteger, de arma em punho e acorrentado aos troncos das árvores, cada metro quadrado da Amazônia que nos resta, talvez eu não votasse nele. Quem ou o que me garante que ele cumpriria tais promessas? Ninguém. Nada.
A culpa disso, não é novidade nenhuma, é do brasileiro, que é tão ignorante quanto aquele que hoje nos representa e vota pessimamente mal. Vota em cesta básica, em kit escolar, em restaurante de 1 real – também, pudera, seria pedir de mais a um povo com carências tão prementes, que tivesse uma visão de longo prazo. A gente vota em quem bota, hoje, comida na mesa e nossos filhos na escola, por mais vagabunda que seja.
Promessa é dívida
Antes de nos preocupar, portanto, com as propostas desse ou daquele candidato, seria realmente importante que criássemos um sistema de vincular nossos políticos às suas promessas de campanha. Afinal de contas, se é nisso que nós nos baseamos para votar neles, e tudo não passa de uma mentira, tem que haver alguma sanção. Isso é estelionato, fraude, má-fé, falta de caráter. Chame-se como quiser, contanto que se puna, o que hoje não se faz. Hoje a mentira não traz nenhuma conseqüência a estes senhores e senhoras, mas deveria. Imaginem a apreensão que tomaria conta do horário político eleitoral, com todos os candidatos brigando para ver quem teria menos tempo na tevê, com medo de ficar sem ter o que falar, caso tivessem que cumprir todas as promessas que fizessem. Todos iam querer ser o Enéas de 1989. Quinze segundos seriam mais do que suficientes para a maioria.
A perda imediata dos direitos políticos ou do cargo seria o ideal – até por já terem previsão legal em alguns casos – mas pode ser pedir demais que a própria classe política aprove leis que os obriguem a fazer o que prometem, sob penas tão severas. A perda dos direito políticos é a morte dos candidatos profissionais, que não sabem fazer outra coisa a não ser concorrer em eleições.
Uma boa surra em praça pública, por sua vez, infelizmente, há muito foi banida do nosso sistema jurídico, juntamente com todas as penas corporais. Obrigá-los a usar a cueca por cima das calças seria divertido e lavaria a almas dos eleitores enganados, mas é difícil de passar, porque muitos considerariam isso degradante, o que também é proibido por lei. Uma pena.
Sobram-nos poucas alternativas, portanto, muito próximas das que já temos hoje, sem grandes resultados. Ou votamos melhor, ou recorremos à legislação vigente para punir os casos mais escabrosos, que ultrapassam, muito, a simples falta de compromisso. Por ora, que vença o menos pior, e que essa nossa democracia, hoje podre, siga o seu bizarro curso antinatural, amadurecendo aos poucos, até ficar verde.
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