Assim que começamos a colaborar com a construção da horta, fomos adicionados por Estevan, um venezuelano que viajava pelo Brasil com sua noiva, a argentina Catalina. Outro visitante também aparecia constantemente. Seu nome é Treck, um colorido papagaio, que voava diretamente sobre as nossas cabeças, ombros e chapéus sem pedir licença.
Estrutura terminada, chegara a hora de colocar os postes usados como suporte para o telhado. Feito com folhas de coqueiros, o próprio telhado também se transformaria em matéria orgânica depois de alguns meses – mas não antes de proteger as sementes e vegetais que transplantamos na nossa horta.
Começamos por plantar variedades de alimentos pequenos como a mandioca, abacaxi e banana. Depois de algum tempo essas raízes e árvores frutíferas começarão a produzir sombra suficientes para serem plantadas árvores maiores que necessitam mais água e são menos resistentes ao sol.
Durante nossa convivência com a comunidade, nós percebemos que não são apenas as pequenas árvores que necessitam atenção especial. Piracanga está cheia de outros pequenos que recebem o respeito que merecem.
ABC Experimental
Ao entrar na escola comunitária, imediatamente notamos sobre as mesas alguns jogos sensoriais, blocos para construir e tintas para pintar. Até então, parecia tratar-se de uma escola convencional. Mas ao observar um pouco mais de perto, percebemos as diferenças. A distinção não estava nos objetos, mas na maneira de ensinar.
Passamos a tarde com Margarita, a professora equatoriana convidada por Piracanga a implementar um sistema de educação familiar em seu país: a escola livre experimental, baseada na Fundação Educacional Pestalozzi. O que parece ser algo inovador, na verdade começa a voltar as suas origens. O pedagogo suíço, Joham Heinrich Pestalozzi (1746-1827), costumava dizer que “o papel do educador é o de ensinar crianças, e não matérias”. Pestalozzi enfatizava que todo aspecto da vida da criança contribui para a formação da sua personalidade, carater e razão.
E é esse o propósito da Escola Livre . Segundo Margarita, o conceito da escola é baseado na decisão da criança. É ela quem decide o que quer aprender. Os professores são os facilitadores e estão a volta para preparar o ambiente de acordo com as necessidades da criança, respeitando a sua individualidade. “A melhor maneira de respeitar a criança é não direcioná-la. Ela decide o que fazer e nós encorajamos a sua decisão”, diz Margarita. E aconselha: “Nós, adultos, devemos mudar nossas maneiras a começar pelo respeito a criança. Dessa maneira, respeitaremos também a criança que existe dentro de nós”.
Nós seguimos o conselho de Margarita a risca, e pelo resto do nosso tempo em Piracanga libertamos a criança que existe dentro de nós.
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