Duas semanas depois de partir de Alta Floresta, as equipes da expedição científica ao Parque Nacional do Juruena chegaram à comunidade de Colares, a cerca de seis quilômetros do limite norte da unidade de conservação. Neste ponto vivem 120 pessoas, todas da mesma família. À beira do Tapajós, os pesquisadores de artrópodes, aves, ictiofauna, mamíferos e de levantamentos socioeconômicos se revezam em seus trabalhos de campo nas trilhas da região durante o dia e a noite, dependendo dos levantamentos. Ficarão na área por mais duas noites até partirem para Jacareacanga, cidade paraense a estimadas cinco horas rio abaixo, ponto final da expedição. No breve levantamento da área até agora, os pesquisadores encontraram cachoeiras, paredões rochosos e grutas neste ponto do rio Tapajós, escondidos pela densidade da floresta no parque. Estes são alguns dos mistérios sobre os quais eles se debruçam com o maior cuidado possível nos poucos dias que restam da expedição. Cheia Cerca de 8 metros acima de seu nível normal na seca, o rio Tapajós deixou submersas diversas árvores e pedaços de trilhas usadas pelos ribeirinhos. Em compensação, as corredeiras estão menos perigosas, mas não o suficiente para aliviar a atenção dos piloteiros. Por causa da cheia, os botânicos estão felizes da vida. A quantidade de flores e frutos nas margens dos rios nessa época do ano tem surpreendido dos pesquisadores, que chegaram a coletar seis sacos de plantas em uma única caminhada de duas horas. Enquanto em novembro, na porção sul do parque, os pesquisadores de vegetação usaram aproximadamente metade dos 20 quilos de jornais velhos levados para a primeira expedição, nesta campanha os jornais quase acabaram. Tiveram que pedir mais, no meio dos estudos, para terem certeza de que conseguiriam conservar as amostras coletadas. Em Colares, os integrantes da expedição tem um motivo a mais para comemorar o final da viagem. Neste ponto do Tapajós, puderam armar as barracas sob um teto de palha e chão cimentado, o que permitiu a quem não quis dormir em redes um pouco mais de conforto. Os mosquitos também deram uma trégua. Embora todos exibam as marcadas das picadas principalmente nas mãos e no rosto, dizem que aqui, perto do que viveram em outras áreas do rio Juruena, praticamente não tem mosquito. Próximos passos Depois da expedição científica, os analistas ambientais do Instituto Chico Mendes vao promover reuniões abertas nas sedes dos municípios e nas propriedades que têm áreas dentro do Parque Nacional do Juruena. A intenção é realizá-las até agosto para não misturar parque com período eleitoral nesses municípios. Em meados do ano, serão os fazendeiros que têm áreas abertas dentro do Parque do que receberão a visita dos analistas do ICMbio. A princípio, a maioria dos proprietários se mostrou interessada em negociar a indenização pelas terras. Felizmente, até aqui, poucos quiseram briga. Com menos de dois anos de existência o Parque Nacional do Juruena está bem adiantado em seu processo de implantação. Graças aos recursos do Programa Arpa e da parceria financeira com o WWF-Brasil, o plano de manejo conta com aproximadamente um milhão de reais. Os gestores do parque crêem que seja suficiente, mas só saberão ao final das atividades. Por causa dos atrativos cênicos e da existência da grande cachoeira conhecida como Salto Augusto, na porção sul do parque do Juruena, o Instituto Chico Mendes planeja fazer mais viagens à região para estudar melhor a área. A idéia é conhecer o mais depressa possível as características da região, tão cobiçada pelo seu potencial hidrelétrico. A expectativa é que até julho uma força-tarefa esteja mobilizada. Leia a reportagem sobre a população que reside na área do Parque Nacional do Juruena.
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