Reportagens

Vancouver: o compromisso com o futuro

Preocupada em crescer com sustentabilidade, cidade canadense assume o ambicioso desafio de se tornar a cidade mais verde do mundo em 2020.

Duda Menegassi ·
15 de julho de 2013 · 11 anos atrás
Capa do Plano de Ação para Cidade Mais Verde de 2020.
Capa do Plano de Ação para Cidade Mais Verde de 2020.

Com um presente já digno de aplausos, a prefeitura de Vancouver busca ainda mais com a ambiciosa meta de se tornar a cidade mais verde do mundo até o ano de 2020. O objetivo, traçado em 2011, conta com um plano de ação com três focos principais: carbono, desperdício e ecossistemas.

O plano de ação foi baseado na publicação “From 2020: A Bright Green Future” (A partir de 2020: Um Futuro Verde e Brilhante) e contou com a opinião de mais de 35 mil pessoas ao redor do mundo, que contribuíram com suas próprias ideias, um exemplo da colaboração cidadã que é uma das chaves para o sucesso do plano. “É tarefa de todos fazer a sua parte, para repensar, reavaliar e re-imaginar o jeito que Vancouver funciona e como conduzimos nossa vida”, diz a publicação.

No Greenest City 2020 Action Plan, o Plano de Ação para Cidade Mais Verde de 2020, são apresentados 10 ambiciosos objetivos com metas a longo (2050) e médio prazo (2020), são eles:

(1) Assegurar a reputação internacional de Vancouver como uma meca do empreendimento verde.
(2) Eliminar a dependência de combustíveis fósseis.
(3) Ser líder mundial na construção e design de green buildings.
(4) Fazer com que ir a pé, de bicicleta e transporte público sejam as opções de transporte preferíveis.
(5) Criar zero de desperdício.
(6) Os residentes de Vancouver possam aproveitar incomparável acesso a espaços verder, incluindo a floresta urbana mais espetacular do mundo.
(7) Alcançar uma pegada ecológica de um planeta.
(8) Vancouver terá a melhor água potável de qualquer outra cidade no mundo.
(9) Respire o ar mais limpo de qualquer outra grande cidade no mundo.
(10)Vancouver se tornará líder global em sistemas de alimentação urbana.

Cada um destes objetivos é cuidadosamente explicado e dividido em seções práticas. Os alvos: os números atuais, as ações prioritárias, as estratégias-chave e o que será necessário para que o intento se concretize. Na questão dos combustíveis fósseis, por exemplo, é legitimada a preocupação com as mudanças climáticas e o desafio é reduzir em 33% a emissão de gases causadores do efeito estufa, baseado nos níveis de 2007. Para isso, a prioridade da prefeitura é construir novos sistemas de energia renovável e, com ajuda de parceiros, converter largos sistemas de vapor em fontes renováveis de geração energética. Apesar do grande investimento financeiro, o governo acredita que o preço de ignorar as mudanças climáticas saia bem mais caro. Como estimou o antigo economista-chefe do Banco Mundial, Nicholas Stern (Relatório Stern), os gastos caso não seja possível reverter a crise climática podem custar aos cofres mundiais mais de seis trilhões por ano.

Crescer sustentavelmente pode ser também crescer economicamente, e é nisso que aposta a prefeitura. A cidade que já é considerada a mais habitável do mundo quer crescer verde. Apesar de ter a menor pegada per capita de carbono entre as cidades da América do Norte, Vancouver ainda tem uma pegada ecológica que consome três vezes o que o planeta Terra tem para oferecer. Reduzi-la é uma tarefa conjunta de todos os outros objetivos e o resultado das ações em prol da sustentabilidade.

“O que faz parte da pegada ecológica de Vancouver? Alimentos – 40%; Serviços Governamentais Sênior – 18%; Consumíveis e desperdício – 15%; Transporte – 15%; Construções – 12%; Água – 0%” Fonte: Pesquisa de J. Moore, 2011.

Talvez o objetivo mais ambicioso do Plano de Ação seja zerar o desperdício na cidade. Atualmente, cerca de 480 mil toneladas são desperdiçadas por ano, quando poderiam estar sendo reaproveitadas ou recicladas. Metade desse montante vem das indústrias e do comércio, um terço de moradias e o resto de demolições e obras. Para minimizar esse número, o plano foca na transformação de restos alimentares em composto orgânico, o incentivo às empresas a repensarem suas embalagens e desenvolvimento de um programa que evite que os restos de demolições sejam desperdiçados. Mais principalmente, educar. Criar uma cultura de zero desperdício. Ensinar e estimular a reciclagem dentro de cada casa e prédio. Não importa o esforço da prefeitura, para qualquer grande mudança dar certo é preciso mudar o pensamento das pessoas. Afinal, governos têm mandatos que expiram, pessoas são pais e filhos que inspiram as futuras gerações.

O que é a pegada ecológica?

A pegada ecológica é um termo que surgiu na década de 90 e corresponde a quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar o consumo de determinada população. Dessa forma é possível contabilizar se esse estilo de vida está dentro da capacidade ecológica do planeta. Calcular sua própria pegada ecológica não raro leva a descobrir, surpreendentemente, que consumimos mais do que apenas um planeta Terra é capaz de nos provir. Faça na calculadora.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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