Depois da frustração em Copenhague em 2009, todos esperavam que o novo acordo climático que substituirá o Protocolo de Kyoto, pudesse enfim ser definido esse ano na próxima Conferência do Clima da ONU que ocorrerá em Cancun, México, em dezembro.
O principal negociador de política climática da União Européia, Artur Runge-Metzger, jogou um balde de água fria nessas expectativas e pela primeira vez admitiu oficialmente que não acredita em um acordo para esse ano.
“Eu não acredito que teremos um acordo climático legal em Cancun. Eu acho que essas negociações, em um cenário otimista, levarão pelo menos mais um ano”, afirmou Metzger a um restrito grupo de jornalistas da imprensa mundial selecionados para entrevistá-lo ao vivo via web e no qual ((o)) eco esteve presente.
O experiente negociador disse que o “relógio está correndo” e que só há mais duas semanas de negociações até que os países voltem a se encontrar em Cancun. “Isso significa que todos nós precisamos ser mais realistas para chegarmos a um acordo. Acho que as pessoas ao redor do mundo querem ver uma mudança de atitude dos líderes globais em relação às mudanças climáticas”.
Mas, o que é ser mais realista? Isso Metzger não respondeu. O negociador comentou apenas que há “realismo” por parte de 27 dos 194 países que participam da Convenção do Clima. Mantendo o tom diplomático que rege as negociações, não apontou vilões. Mas, sabemos que desde Copenhague uma das principais tensões concentra-se entre as maiores economias do mundo, China e Estados Unidos.
Os americanos não admitem um segundo período de acordo de metas no qual as grandes economias emergentes, sobretudo a gigante China, não esteja também comprometida com metas de redução.
“Estamos procurando uma forma mais equilibrada e orientada para chegarmos a um pacote de decisões para Cancun, o que seria um grande passo rumo a um novo acordo internacional legal e com metas a cumprir. No entanto, até o momento não há pacote equilibrado na mesa de negociação”, reclamou Metzger.
Os entraves, segundo o representante da EU, são obviamente as grandes questões: de quanto serão as metas, como será o cronograma das ações, a execução e o cumprimento, bem como quais seriam as multas ou punições aos países que não cumprirem as metas acordadas.
“Isso tudo constitui uma gravura delicada que inclui as regras sobre o controle, comunicação e verificação das normas de contabilidade das emissões dos países. Por exemplo, ainda não sabemos como será a relação da redução das emissões provenientes do desmatamento”, enfatizou.
Crise do Euro
Diante de um cenário de recessão econômica na Europa, com o aperto do cinto de algumas de suas principais economias, como a Alemanha, o clima torna-se ainda mais tenso nas negociações.
“Os orçamentos públicos da União Européia estão sob forte pressão, por isso temos que ter certeza de que gastamos dinheiro público sabiamente e onde eles trazem maiores ganhos na luta contra as alterações climáticas. Isso requer um bom planejamento e análise mais rigorosa das questões”, alertou o negociador europeu. Ele lembrou ainda que a EU cumprirá a promessa feita em Copenhague de alocar 7,2 bilhões de Euros em três anos em países em desenvolvimento para combater o aquecimento global.
Saiba mais
Reportagens e artigos sobre as mudanças climáticas
Veja também
Cobertura completa da Conferência de Copenhague
Leia também
Entrando no Clima #42 | Texto final da COP 29 frustra em todos os pontos
A 29ª Conferência do Clima chegou ao seu último dia, sem vislumbres de que ela vai, de fato, acabar. →
Entrando no Clima#41 – COP29: O jogo só acaba quando termina
A 29ª Conferência do Clima chegou ao seu último dia, sem vislumbres de que ela vai, de fato, acabar. →
Supremo garante a proteção de manguezais no país todo
Decisão do STF proíbe criação de camarão em manguezais, ecossistemas de rica biodiversidade, berçários de variadas espécies e que estocam grandes quantidades de carbono →