Na tradição judaica, a Páscoa (Pessach ou Pesach) é celebrada para lembrar a libertação do povo hebreu do cativeiro no Egito. Para os cristãos, se comemora a ressurreição de Jesus Cristo. E para os dez peixes-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) criados em tanques de fibra sob proteção dos cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), essa Páscoa significou uma nova vida. Os animais começaram a ser reintroduzidos no baixo Purus, um dos principais rios da Amazônia. A ação começou no sábado de aleluia e terminará nesta terça-feira (03).
Esta será a maior soltura desses animais no Brasil, desde que o Programa de Reintrodução de Peixes-Boi do Inpa foi criado, há dez anos. O projeto guarda uma boa lembrança de abril de 2017, quando foram reintroduzidos cinco animais, três machos e duas fêmeas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Piagaçu-Purus, onde as comunidades da unidade de conservação do estado do Amazonas são parceiras do programa.
Antes de serem liberados para o meio ambiente, os Trichechus inunguis passam por um período de preparação no chamando semi cativeiro. Lá, eles ficaram em adaptação por pelo menos um ano, vivendo num lago privado de piscicultura, em Manacapuru, município a 68 Km de Manaus. Com a retirada dos dez, ficarão outros 14 animais no local. Na capital do estado, tanques do cativeiro que ficam no bosque da Ciência abrigam 53 peixes-boi, que ainda não têm data para serem reintroduzidos.
“Nossa ideia é levar de maneira inédita dez animais de uma só vez. Normalmente, o Inpa tem reintroduzido de quatro a cinco indivíduos por ano, mas o sucesso das solturas passadas com os animais se readaptando muito bem à natureza nos permitiu acelerar o processo”, explica o biólogo Diogo Souza, responsável pelo programa de reintrodução.
Uma vez por ano, os animais do semi cativeiro passam por avaliação clínica para verificar o estado de saúde. Neste ano, os peixes-boi foram avaliados de 20 a 23 de fevereiro por uma equipe de 15 colaboradores do Inpa e da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa), formada por veterinário, biólogos, técnicos, tratadores e voluntários.
Não pensem que após a soltura, os animais são abandonados à própria sorte. Muito pelo contrário, é a partir daí que outro trabalho começa. O biólogo Diogo Souza e uma pesquisadora do Japão continuarão na RDS durante um tempo para acompanhar os primeiros deslocamentos dos animais e entender como estão se comportando pós-soltura.
Existirá também um trabalho de monitoramento que conta com a participação de quatro assistentes, entre eles, comunitários da reserva e ex-caçadores de peixe-boi, que acompanharão os animais através de equipamentos de telemetria fixados na cauda do mamífero. Os equipamentos possibilitam os monitores de encontrar os animais e saber quais os movimentos diários e sazonais, área de vida e tipo de habitat que ele está ocupando na reserva.
Os peixes-boi, apesar do nome, não são peixes, mas sim, mamíferos aquáticos. Os peixes-boi-amazônicos (Trichechus inunguis) foram caçados em escala industrial desde o Brasil Colônia e há registros de sua carne e óleo sendo exportados do então Grão Pará no século XVII. Os peixes-boi encontram-se ameaçados de extinção. Dóceis, grandes e de movimentos lentos, os peixes-boi são alvos fáceis para a caça.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
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Parabéns, isto mesmo, biologia da conservação.
Sensacional!!!!