Há uma década, pelo menos uma vez por ano, profissionais e voluntários ligados à Trilha Transcarioca e ao movimento que gerou a Rede Brasileira de Trilhas (REDE) tiram dinheiro do próprio bolso para fazer viagens internacionais com o objetivo de aportar experiências e aprender com mais de 50 trilhas de longo curso em 28 países de todos os continentes, exceto a Antártida. Para ficarmos apenas nas Américas, ao longo do tempo essa rica troca de experiências já levou os entusiastas brasileiros das trilhas de longo curso à Florida Trail, à Arizona Trail, à Pacific Crest Trail, à Buckeye Trail e à Appalachian Trail nos Estados Unidos; à International Appalachian Trail, ao Pan Am Path e à Bruce Trail no Canadá, à Waitakubuli Trail em Dominica, à Gran Ruta Inca e a Salcantay, no Peru, ao Sendero de Chile e ao “O” no Chile, à Huella Andina na Argentina e ao Monte Roraima, na tríplice fronteira Venezuela/Guiana/Brasil.
A viagem deste ano aproveitou o contexto do 1º Encontro Latino Americano de Trilhas de Longo Curso, convocado pelo Grupo de Especialistas da UICN em Trilhas de Longo Curso, para acontecer no 17 de outubro em Lima, no âmbito do III Congresso Latino Americano de Áreas Protegidas. Seu trajeto começou no Equador com uma ida ao terreno para conhecer o Quilotoa Loop, uma das trilhas de longo curso mais percorridas pelos trilheiros equatorianos. A seguir, a exemplo de anos anteriores quando houve reuniões de capacitação junto à Lebanon Mountain Trail, à Rota Vicentina, à Pacific Crest Trail, à Peaks of Balkans Trail e à Hoerikwaggo Trail, houve uma densa programação junto a profissionais de trilha do Equador.
Durante três dias, o diretor de capacitação da Rede Brasileira de Trilhas e coordenador-geral de sinalização da Trilha Transcarioca, Ivan Amaral, cumpriu significativa programação preparada pela Embaixada do Brasil em Quito. Nos dois primeiros dias Ivan apresentou os pressupostos teóricos da Rede e o modelo das pegadas amarelas e pretas aos equatorianos em palestras separadas para cerca de 30 analistas ambientais do Ministério do Ambiente do Equador, para duas dezenas de funcionários da área de Parques da Prefeitura de Quito e para uma plateia diversificada de parceiros do governo equatoriano como a agência de cooperação alemã GIZ e ONGs locais. No último dia, o diretor da REDE ministrou uma oficina de sinalização de trilhas para mais de 50 guardas-parque equatorianos.
Esta última atividade culminou com a sinalização da trilha que liga duas áreas protegidas: El Boliche e o Parque Nacional Cotopaxi. O exercício realizado nessas unidades marcou a adoção pelos equatorianos das mesmas pegadas amarelas e pretas que são utilizadas pela Rede Brasileira de Trilhas, com uma diferença: a pegada do Cotopaxi, idealizada pelo presidente da REDE Hugo de Castro, tem o desenho de uma lhama.
No contexto da viagem também foram feitas caminhadas técnicas nos Parques Nacionais equatorianos de Cajas e Podocarpus. Nessas visitas foi demonstrado pelo lado equatoriano o eficiente uso de fitas para a sinalização dos páramos andinos. Este é um ecossistema de alta montanha sem pedras, nem árvores, onde não há como utilizar a sinalização pintada, nem sequer em sua versão zebrada. A solução agradou e, em breve será apresentada ao ICMBio e à REDE com vistas à sua possível adoção pelo Brasil.
Antes de chegar à Lima para a 1ª Reunião Latino Americana de Trilhas de Longo Curso ainda vai haver uma visita de cinco dias ao famoso circuito de trilhas do Parque Nacional Huascarán, Patrimônio Mundial da Humanidade na Cordillera Blanca no Peru.
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