Você já pensou, depois de horas de caminhada ao longo da trilha, em ser surpreendido com um suco geladinho feito com uma fruta nativa da região? Ser surpreendido com uma bebida que apresenta diversos aromas, que estala na boca a doçura de infinitas possibilidades de sabores? Pois é, isso é possível sim. E é só um exemplo de muitas opções possíveis de serem encontradas nas trilhas de longa distância espalhadas de Norte a Sul do Brasil.
Pensando nisso, a Rede Brasileira de Trilhas organizou uma live (13/10) para discutir o assunto com alguns profissionais de diversos estados. O tema começa a ser tratado por um grupo que, à luz de várias experiências, apresenta propostas de incentivos ao desenvolvimento local e territorial por meio do empreendedorismo.
Os empreendedores locais têm papel fundamental na oferta dos produtos e serviços que encantam os turistas, caminhantes e trilheiros. Pensar e fazer arranjos dessa produção local implica no comprometimento com a sustentabilidade. Aqui podemos pensar no tripé da sustentabilidade que é o social, ambiental e econômico:
- Social porque o consumo de produtos locais irá envolver as comunidades, produtores, gerar serviços, empregos no campo, contribuindo assim para fixação de um número maior de população na área rural (incluindo os jovens). E consequentemente, uma melhora na qualidade de vida das pessoas envolvidas.
- Ambiental porque os produtos tendem a utilizar menos embalagens para sua conservação, haja vista que grande parte são in natura ou pouco transformados, diminuindo assim a produção de lixo. Além disso, não necessitam de transporte para grandes distâncias, diminuindo os poluentes e os custos ambientais.
- Econômico porque fundamenta a busca por alternativas que sustentam as famílias em suas terras, que geram novos negócios, que ampliam a capacidade produtiva da região. A renda é fundamental também para proporcionar vida digna para as famílias rurais. Quando o caminhante opta pelo consumo do produto local, aumenta a demanda de produção, melhorando assim o nível econômico das famílias envolvidas.
Para além das questões da sustentabilidade, estão questões importantes relacionadas à conservação da paisagem rural, das práticas tradicionais da agricultura familiar e da qualidade do produto. Há um nicho de mercado cada vez maior quando se fala na qualidade do produto e é crescente o número de consumidores atentos a essas questões.
Diversas iniciativas estão acontecendo em muitos países quando o assunto são alimentos produzidos localmente ou em “circuitos curtos” de comercialização. Alimentos in natura ou transformados artesanalmente pelas agroindústrias familiares têm reunido adeptos em todo o mundo. Além de preservar a identidade cultural, os produtos locais preservam os “saberes” gastronômicos transferidos de gerações passadas para as gerações atuais. E a grandeza da elaboração de pratos criativos utilizando insumos produzidos localmente é um desafio constante na busca por novos sabores, novos aromas. Autênticos, únicos, fugindo ao apelo do padronizado e valorizando o terroir da região.
No Brasil não é diferente e esse assunto vem ganhando corpo a cada dia, em muitas instituições e principalmente entre os consumidores. Estamos construindo uma história de respeito às comunidades tradicionais, aos povos que habitam o entorno das centenas e centenas de quilômetros por onde as trilhas de longo curso estão se consolidando. Empoderar esses protagonistas locais é valorizar a história e a cultura de cada estado e de cada região deste país, e é fortalecer a soberania alimentar.
As trilhas de longa distância, muito além da caminhada, incentivam o desenvolvimento do turismo: do turismo rural, de base comunitária e de todos os produtos associados aos diferentes segmentos da atividade turística. Impulsionam a busca por inovações que melhoram as condições de produção, de meios que favorecem e contribuem para o desenvolvimento dos territórios e de suas populações.
Como fazer? Eis um desafio à altura da relevância do tema. Em muitos estados essa organização rural é tratada pela assistência técnica – ATER Oficial – como política pública de incentivo ao desenvolvimento territorial, por meio de ações com turismo rural, agroindústria ou mesmo por meio das cadeias produtivas. Partindo deste ponto, identificar e cadastrar as famílias em torno das trilhas para fornecimento de produtos ou serviços é um dos passos iniciais para estruturar um portfólio de qualidade que atenda ao caminhante.
Por outro lado, o caminhante ou o consumidor precisa estar simpático à ideia do consumo local, tanto o relacionado as suas viagens, caminhadas, cicloturismo entre outros, como também adaptado ao seu dia a dia. Valorizar o empreendedorismo local e regional, além de impulsionar a economia das localidades, proporciona uma experiência ímpar ao caminhante, ao turista. Experimente essa ideia!
Assista aqui a live sobre empreendedorismo (13/10) organizada pela Rede Brasileira de Trilhas:
*Terezinha Busanello Freire é Coordenadora Estadual de Turismo Rural do IDR-Paraná – Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná Iapar-Emater.
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Se o Brasil investisse efetivamente no Ecoturismo, diferentes segmentos se beneficiariam, a começar pelo meio ambiente, fornecedores locais de serviços como guias, alimentação regional, artesãos, e muito mais. O Ecoturimo poderia ser um grande motor gerador de renda em prol de comunidades tradicionais, indígenas, parques nacionais, Flonas, entre outros. Potencial natural é o que não nos falta. O BR carece de vontade política neste aspecto, lamentavelmente.
Belo texto, as trilhas de longo curso precisam gerar emprego e renda para prosperar. Vamos continuar trabalhando em parceria com o Sistema EMATER para juntos atingirmos esse objetivo, proporcionando bem estar nas comunidades rurais que nos acolhem.