Análises

Rodeios

De Sílvia Luiza Lakatos34 anos, jornalista, São Paulo, SPPrezada Sílvia Pilz,A única coisa certa que você escreveu no seu texto foi acerca da brutalidade e violência infligidas aos chamados "animais de consumo". Como vegetariana convicta e ativista pela causa dos animais, sinto-me à vontade para questioná-la acerca de um outro ponto: o fato de certos animais sofrerem mais do que as vítimas dos rodeios, torna legítimo o uso de aparelhos de tortura (sedem, peiteira, esporas) contra os cavalos e touros escravizados nestes espetáculos? Aliás, é por causa da dor provocada por estes instrumentos, habilmente manejados pelos peões, que os animais saltam, e não porque achem isso "divertido". De qualquer modo, o fato de alguns animais sofrerem mais do que outros não torna qualquer forma de tortura menos cruel. Crer nisso seria como dizer que, uma vez que existem crianças abandonadas e jovens confinados na FEBEM, os pais de família ricos e que oferecem conforto material a suas crianças têm o direito de espancá-las e castigá-las.A novela AMÉRICA e o recente episódio envolvendo o publicitário Duda Mendonça são fatos emblemáticos, que dão aos poucos brasileiros engajados na luta pela defesa dos animais a chance de levantar bandeiras e conclamar a população a refletir sobre a nossa relação com seres não-humanos. Não sei se a senhora viu o que uns jovens nefastos fizeram recentemente, a uma cadelinha grávida, em Pelotas (RS)... Eles a amarraram no pára-choques do automóvel e a arrastaram, viva, pelas ruas, até esfacelarem completamente a pobrezinha, matando-a e também aos filhotes que ela trazia no ventre... Fizeram isso por "diversão". Enquanto as pessoas acharem que é divertido torturar e matar animais, nossa sociedade não se tornará menos violenta. O desrespeito começa assim -- nos rodeios, nas rinhas, nas touradas, nas vaquejadas, nos tiros de chumbinho contra o gato do vizinho... E vai culminar no aumento da criminalidade, na dessensibilização, em estupros, em assassinatos. O abuso e a crueldade contra os mais fracos são a porta de entrada para todos os males.Lamento que alguém tenha feito menções desrespeitosas à filha morta de Glória Perez. Esta atitude não foi e jamais seria típica das pessoas ligadas aos grupos ativistas que conheço. Talvez tenha sido até obra de algum provocador infiltrado, ou simplesmente de uma pessoa tola e insensível, que confundiu engajamento com discurso atabalhoado e violência gratuita. Posso lhe assegurar que não concordamos com nada disso.Enfim, espero que um dia todos sejam respeitados, independentemente da quantidade de patas que possuem, da capacidade de usar os polegares opositores ou do nível de Q.I.Grata pela atenção,Resposta da colunista:Prezada Silvia Não acredito que eu e você discordemos. Exceto num ponto. Sou contra o marketing de oportunidade para levantar bandeiras políticas. Corre-se o risco de imaginar que os problemas são pontuais e isolados.

Redação ((o))eco ·
19 de abril de 2005 · 20 anos atrás

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