De Gustavo Gatti
Caros editores d’O Eco,
Bom dia, gostaria de enviar a vocês e ao leitor Marcos Bidart alguns comentários sobre a última matéria de Marc Dourojeanni. Obrigado.
Caro Marcos Bidart,
Não sei se o Marc irá ter oportunidade de responder às suas perguntas, então, como leitor de O Eco, acho que podemos ir esclarecendo alguns aspectos:
- gente morrendo de fome versus enormes reservas intocadas: a causa da fome certamente não é a existência das grandes e necessárias reservas intocáveis, mas sim de uma conjuntura histórico-política-social na qual a sociedade, enquanto conjunto, se conforma com situações impróprias de fome e também de devastação da natureza que só gera benefício para alguns poucos porcentos do total. É um processo que se retro-alimenta através de medidas paliativas de favorecer que o ser humano permaneça na ignorância e dependente da extração do pouco que resta do patrimônio natural que pertence à coletividade. Minhas sugestões: assistência social para os necessitados (me refiro à assistência social decente, não essas que vemos por aí), incluindo-os nos processos econômicos que os poderão levar à cidadania e não condená-los ao extrativismo sub-humano. Controle de natalidade urgente. Outro ponto é criar, implementar e manter adequadamente todo o sistema nacional de unidades de conservação, tanto no que diz respeito às grandes reservas intocadas (minhas prediletas) quanto também àquelas que se destinam sim ao uso ordenado dos recursos naturais (importantes no seu caráter complementar). Chamar áreas naturais de “improdutivas” é, no mínimo, ter uma visão bastante limitada dos serviços que os ecossistemas naturais sempre prestaram.
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é melhor que morra um ser humano do que um pato? Meu ponto de vista é que não é necessário que morra ninguém. Corrigindo… bem que não fariam falta os seres “humanos” que fazem da morte desnecessária, seja do Pan sapiens ou de qualquer outra espécie, seu passatempo e trampolim político e econômico. Existem outras formas. Já que o nosso mundo está tão populado que não permite um estilo de vida extrativista que se sustente a longo prazo, fica evidente que é melhor produzir para o consumo que ficar continuadamente extraindo dos poucos remanescentes dos ambientes naturais, que irão colapsar em breve quanto aos seus funcionamentos ecossistêmicos caso providências não sejam tomadas e assumidas pelas sociedades como agenda séria e compromisso para com nossos descendentes. Quanto ao pato, se for um criado, pra panela! Mas se for um pato silvestre, acho que o bicho não deve “pagar o pato”.
Fico pensando se já não está na hora do Brasil deixar de ser colônia e dar um basta nessa economia ridícula que se baseia primordialmente na extração dos recursos naturais e assistencialismo politiqueiro. Já é tempo de pensar em políticas sérias que realmente se baseiem em estratégias que se sustentem ao longo prazo. Só que para isso precisaríamos de vontade de mudar, além representantes sérios e esclarecidos. Está aí o gargalo! Alguém se candidata?
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