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Gestão compartilhada em parques: o que aprendemos até aqui

Diagnóstico da Gestão em Parques com Concessão analisa pontos positivos, gargalos e caminhos possíveis na concessão de parques naturais e urbanos

Karina Dominici · Stefanie Saturnino ·
25 de novembro de 2025

Nos últimos anos, vimos crescer no Brasil o número de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada voltadas à gestão de parques naturais e urbanos. Essa movimentação tem como pano de fundo um objetivo claro: qualificar a experiência dos visitantes, promover a conservação ambiental e impulsionar o desenvolvimento econômico das regiões do entorno.

Essa proposta se confirma com os dados reunidos no Diagnóstico da Gestão em Parques com Concessão, um estudo inédito que traz uma análise aprofundada sobre a percepção da gestão desses contratos. Segundo o levantamento, 77% dos gestores públicos e privados responsáveis pelas concessões se dizem satisfeitos com as iniciativas voltadas à atração de visitantes. Esse dado, por si só, mostra que o modelo vem cumprindo parte importante do seu propósito: tornar os parques mais atrativos, acessíveis e conectados com a população.

Ainda mais relevante é notar que 76% valorizam os atrativos criados para crianças, enquanto 53% enxergam efeitos positivos no desenvolvimento local. Esses resultados mostram que as concessões vêm ajudando a transformar os parques em espaços de lazer, pertencimento e conexão com a natureza.

Apesar dos avanços, seria ingênuo ignorar os desafios. O estudo também aponta gargalos importantes, que precisam ser enfrentados com urgência. Para 60% dos entrevistados, o poder público ainda não dispõe das ferramentas adequadas para acompanhar os contratos com a eficiência necessária. Faltam recursos financeiros e humanos em muitos órgãos responsáveis, o que compromete o andamento de projetos e a qualidade da gestão. Questões como morosidade na aprovação de obras, falhas na comunicação com o público e ações insuficientes de educação ambiental para os visitantes ainda persistem.

A comunicação com a sociedade, aliás, merece atenção especial. Em muitos casos, observamos que, nos primeiros meses após a assinatura dos contratos, há pouca divulgação de informações por parte tanto do poder público quanto das concessionárias. Essa ausência de diálogo pode gerar ruídos, insegurança e resistência, especialmente com as comunidades do entorno. Para que as concessões sejam percebidas como instrumentos de inclusão e desenvolvimento, é fundamental investir em comunicação transparente, ativa e contínua.

Ainda assim, é importante reconhecer o que vem funcionando bem, e há bons exemplos que merecem destaque. Algumas concessões têm implementado políticas de inclusão social, como gratuidades e meia-entrada para públicos específicos, além de avanços importantes em acessibilidade e infraestrutura.

Também merecem destaque os investimentos por meio dos encargos acessórios, percentuais da receita bruta das concessionárias destinados a ações de promoção do turismo e fortalecimento do entorno. O uso estratégico desses recursos tem contribuído para valorizar a economia local, incentivar o turismo de natureza e promover o pertencimento das comunidades vizinhas.

Essas boas práticas reforçam que, quando bem estruturadas e acompanhadas, as concessões podem ser instrumentos eficazes para ampliar o acesso aos parques e qualificar a experiência dos visitantes. Um dos papéis do Instituto Semeia é justamente esse: apoiar o aprimoramento dessas parcerias, propondo caminhos e apontando soluções.

Sabemos que muitas dessas concessões ainda são recentes (grande parte dos contratos foi firmada a partir de 2020). Por isso, estamos em um momento-chave: é hora de refletir, corrigir rotas e consolidar boas práticas antes que esse modelo amadureça de forma definitiva.

Ainda que existam desafios na agenda, o estudo buscou indicar caminhos que podem levar ao aperfeiçoamento das parcerias que já estão em andamento. A governança pode ser aprimorada com a criação e capacitação de equipes multidisciplinares, aliada a  alocação de recursos financeiros e tecnológicos adequados. Também recomenda-se a formalização de procedimentos, que pode ser feita por meio de instruções normativas, portarias e manuais de gestão contratual. A comunicação com a sociedade pode ser aprimorada  por meio da transparência ativa sobre metas e resultados da parceria, e com o  fortalecimento dos diálogos desde a assinatura do contrato para uma gestão inclusiva e transformadora 

Ao fortalecer a gestão dos parques, por meio de concessões ou outras formas de parcerias, estamos fortalecendo o uso público dos próprios parques e aproximando os brasileiros e brasileiras destes espaços. E mais: estamos garantindo que eles cumpram, de maneira cada vez mais efetiva, seu papel social, ambiental e cultural.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

  • Stefanie Saturnino

    Analista de estruturação e gestão de parcerias em parques do Instituto Semeia.

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