Enquanto o presidente Jair Bolsonaro discursava na ONU falando inverdades sobre meio ambiente no Brasil e outros temas, um Jatobá de seis metros de altura, espécie brasileira ameaçada de extinção, teve seu pedido de refúgio aceito terça-feira, 21 de setembro (Dia da Árvore) pela Embaixada da Noruega. A iniciativa do Jatobá, que contou com apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), do Grupo de Trabalho Infraestrutura (GT Infra) e que teve a coordenação internacional dos assessores estratégicos Marcus Vinicius Ribeiro e Zachary Kuipers, da 4H5H MEDIA, buscou chamar a atenção mundial para a destruição acelerada dos biomas brasileiros, em especial da Floresta Amazônica.
Na porta da embaixada, lemos a carta com o pedido de socorro. Depois de várias horas de negociações, o apelo foi aceito e o Jatobá foi replantado no espaço da representação norueguesa. Trata-se de um acolhimento simbólico, mas importante por representar a luta de povos indígenas e ambientalistas, bem como o sentimento da grande maioria da população brasileira pela preservação da nossa floresta e seus povos.
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Segundo definição do Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (ACNUR), refugiados são aqueles que estão fora de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição, como também à grave e generalizada violação de direitos e conflitos. A escolha da Embaixada da Noruega para o pedido de refúgio é por ser esse o primeiro país a proibir o desmatamento.
Esse inusitado pedido pode parecer estranho ao homem branco que vive apartado do mundo natural e se considera acima das árvores, mas a ancestralidade sempre ensinou que o sentido da vida é o coletivo e que nós e natureza formamos um todo coeso. Esse pedido é um clamor pela vida de todas as espécies ameaçadas por uma visão corrompida e ultrapassada de convívio com a natureza.
As espécies de plantas e animais dos biomas brasileiros, nesta ação representadas pelo Jatobá, estão sob ameaça. Estudo recente publicado na revista científica Nature revela que o fogo na Amazônia, provocado pela ação humana, pode ter atingido 95,5% das espécies de plantas e animais vertebrados conhecidas da floresta tropical. O desmatamento fora de controle aproxima a maior floresta tropical do mundo do seu ponto de não retorno. Se o ritmo atual de devastação for mantido, este “ponto de não retorno” pode chegar nos próximos anos, como vem alertando diversos cientistas brasileiros e internacionais.
O inesperado pedido de refúgio mostra a gravidade da situação de milhões de árvores e outras formas de vida que estão sendo exterminadas sem ter a quem recorrer no Brasil, onde autoridades responsáveis por sua proteção muitas vezes estão aliadas aos destruidores. Cabe a nós, cidadãos brasileiros, moradores das florestas, do campo e das cidades nos posicionar com firmeza em defesa desta e de milhões de árvores em busca de uma solução; o que permitirá que nossas florestas, sua biodiversidade e seus habitantes possam viver em paz no Brasil, continuando a prestar seus relevantes serviços para nós brasileiros e para todo o planeta.
A ação visa também retomar as “Cinco Medidas Emergenciais para Combater a Crise do Desmatamento na Amazônia”, proposta apresentada por mais de 60 organizações e coletivos da sociedade brasileira, que incluem, além da moratória do desmatamento, o endurecimento das penas aos crimes ambientais, inclusive o bloqueio de bens dos 100 maiores desmatadores da Amazônia; a retomada do Plano de Controle do Desmatamento da Amazônia que conseguiu reduzir significativamente a devastação ambiental na região, engavetado por Jair Bolsonaro. Também a demarcação de terras indígenas, a titulação de territórios quilombolas e a criação de 10 milhões de hectares em Unidades de Conservação; além da reestruturação do Ibama, ICMBio e Funai, fragilizados pelo atual governo. A íntegra do documento está publicada no site www.arvorerefugiada.com.br e chama para a assinatura de uma petição pelo fim do desmatamento.
“Estamos sob ataque de pessoas e estruturas que deveriam nos proteger. Precisamos chamar a atenção para essa tragédia em curso e mobilizar além da sociedade brasileira, a comunidade internacional para reverter essa dramática situação”, disse o Jatobá ao pedir refúgio. Todo nosso apoio a ele e às milhões de árvores e outras formas de vida que estão sendo dizimadas desnecessariamente no Brasil.
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