A curiosidade e o desejo pelo saber são os motores primordiais da ciência. Cada nova descoberta é mais um facho de luz no obscuro universo que nos cerca. Com cientistas que trabalham com a biodiversidade e sua conservação não é diferente. Mas o que acontece quando esse desejo começa a interferir na própria natureza?
Há algum tempo, pesquisas feitas em laboratório e que envolvam experimentação ou sofrimento animal devem ser previamente aprovadas por comitês de ética. Essa prática garante, a princípio, que os cientistas não ultrapassem limites aceitáveis pela sociedade em busca de respostas para suas perguntas. Quando não houve limites para a busca do conhecimento, observamos na história avanços científicos acompanhados de consequências desastrosas, como os estudos com humanos feitos pelos nazistas.
Entretanto, ainda hoje, a regulamentação das pesquisas por comitês de ética tem foco em trabalhos feitos em laboratório e não no campo, no meio da natureza. Para trabalhos de campo que envolvem coleta de material biológico, experimentação e observações, os comitês tendem a ser mais brandos. Na verdade, eles seguem princípios que envolvam a ausência ou minimização do sofrimento animal (plantas costumam ser ignoradas), mas geralmente não limitam coletas de indivíduos em campo.
Recentemente, um grupo de editores da tradicional revista científica Biological Conservation (eu entre eles) escreveram um artigo que vem dividindo opiniões. Nele, explicamos que recebemos um trabalho para ser avaliado pela revista, visando sua eventual publicação. Nesse trabalho, os autores mataram milhares de peixes dentro de uma área protegida para mostrar que dentro dessa área havia mais indivíduos do que fora dela. Como conclusão, eles diziam que a área protegida era eficiente em preservar aquelas espécies, que se reproduziam melhor em locais onde a pesca era proibida (pelo menos até o momento, inclusão minha). Após conversa entre editores, decidimos negar o trabalho por razões éticas. Ou seja, não aceitaríamos um trabalho enviado para uma revista de conservação da natureza que matava milhares de peixes para provar o que todos nós, convenhamos, já sabíamos. Os autores ficaram furiosos e reclamaram com a revista, argumentando que o trabalho havia sido autorizado pelo comitê de ética da sua instituição. Mas não houve choro nem vela e o trabalho foi negado, sem sequer ter sido revisado pelos pares.
Para nossa surpresa, um mês depois recebemos outro trabalho, com as mesmas características: milhares de animais mortos em uma área protegida e nenhum avanço real do nosso conhecimento. O estudo foi negado com as mesmas considerações. Mais uma vez os autores ficaram indignados… e isso me leva a uma pergunta difícil: que dimensão de ética os pesquisadores têm? Ela pode ser relativa?
Limite
Em nossa opinião, os que escrevemos o artigo em prol de uma ética conservadora em trabalhos de campo, é inconcebível um profissional da conservação realizar um estudo que preveja a morte de milhares de indivíduos, sobretudo dentro de uma área protegida. Mas para nem todos é assim e por isso o artigo levantou uma discussão. Alguns profissionais, principalmente zoólogos, botânicos e taxonomistas (os cientistas responsáveis por descrever, catalogar e sistematizar nosso conhecimento sobre a biodiversidade) argumentaram que é preciso haver coletas para que nossas coleções sejam depósitos fiéis do existe no mundo lá fora dos museus e herbários. E, de fato, há métodos desenvolvidos para que as coletas sejam feitas de modo apropriado. Entretanto, a pergunta persiste: até que ponto essa coleta é aceitável? Qual o limite para acumular indivíduos?
Recentemente estive em um comitê que avaliava projetos de conservação a serem financiados por uma organização sem fins lucrativos. Dois desses projetos chamaram a atenção do comitê. Em um deles, os proponentes fariam marcações em pererecas arborícolas por meio da amputação de alguns de seus dedos (falanges). Esse é um método conhecido por cientistas que trabalham nessa área, mas eticamente questionável. Hoje em dia, há alternativas para esse tipo de marcação, e mais, não será prejudicial cortar os dedos de pereceras que os usam para subir nas árvores? Afinal, elas são arborícolas. No outro projeto, os pesquisadores acreditavam ter encontrado uma nova espécie na natureza, mas para confirmar precisariam ter acesso aos indivíduos. Segundo o projeto, eles o fariam sem sofrimento para os animais, mas caso isso não fosse possível, teriam que abater pelo menos um animal. O mais estranho é que, dentre os materiais necessários para a pesquisa e solicitados como item financiável do projeto, os proponentes incluíram uma carabina! Eu fico pensando… quem tem a ideia de pedir uma carabina em um projeto submetido à uma organização que financia a conservação da natureza? Nenhum dos projetos foram financiados pela organização, é claro.
Em nosso artigo argumentamos que profissionais trabalhando com conservação da natureza devem estabelecer padrões éticos muito altos e servir de exemplo para outros profissionais. Antes de realizar um estudo, os autores devem avaliar se aquela pesquisa é necessária e se os fins justificam os meios. Minimamente, precisam se perguntar: algum animal ou planta será prejudicado pela pesquisa? Se sim, há métodos menos invasivos ou prejudiciais para fazer a pesquisa e coletar os dados necessários? Por quanto tempo e sob qual área os impactos da pesquisa vão persistir? No trabalho há uma tabela com mais detalhes para os leitores mais curiosos.
A revista em questão continuará a negar trabalhos cuja ética, ainda que aceitável pelas instituições por meio das quais o trabalho é desenvolvido, seja questionável ou inaceitável para os editores. Alguns acham que o papel dos editores não é esse, outros, acham que os editores têm que zelar pela qualidade e respeito pela natureza nos trabalhos publicados nas revistas nas quais trabalham.
A discussão é saudável e eu fico com o grupo conservador: conservar a natureza é um dever de todos nós e licenças para matar – como a do 007 – só podem ser concedidas em ocasiões muito especiais. E você, em que grupo está?
Saiba Mais
Mark J. Costello et Al. Field work ethics in biological research (Ética do trabalho de campo na pesquisa biológica), publicado em Biological Conservation
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Rafael, parabéns pelo texto e pelo artigo! Você traz um debate importantíssimo e muito oportuno para a comunidade científica e para os profissionais de conservação! Como alguns já comentaram aqui, a pesquisa científica e o ensino voltado à pesquisa precisam avançar, buscando inovação tecnológica e criatividade e isso não tem acontecido ao mesmo passo em que a sociedade avança. Os professores universitários, que lidam diariamente com jovens devem saber disso muito melhor do que eu! Na minha opinião, os cursos tradicionais de ciências biológicas não estão prontos para formar profissionais a dar respostas aos problemas ambientais do mundo real. Isso inclusive está muito bem documentado na literatura científica sobre o assunto.
Em relação às CEUAs, a exigência de autorizações para TODAS as pesquisas com vertebrados é realmente uma novidade, um entendimento relativamente recente do CONCEA. Mas, considero importante avaliar aspectos éticos das pesquisas, seja por meio de CEUAs ou outras instâncias.
Sinceramente, fui formada por uma universidade considerada uma das melhores do Brasil (tudo bem que já faz algum tempo…), onde a reflexão e o debate sobre a ética na pesquisa simplesmente não existia! É preciso formar profissionais para a prática da conservação e para a pesquisa ética e responsável. Até mesmo para que saibam justificar para toda a sociedade o uso de determinadas metologias. Não fazemos ciência apenas para cientistas, mas sim para toda a sociedade!
Parabéns ao Rafael e ao Reuber pela bela abordagem dessa questão, que está ficando mais com opiniões e decisões desconexas com a realidade da pesquisa e conservação. Se por um lado é necessário que o(a) pesquisador(a) seja ético(a) nas suas ações, atendendo tanto a metodologia científica quanto à realidade populacional ou de local onde o trabalho é feito, pelo outro está havendo um literal assalto de posturas sem embasamento que se transformam em políticas públicas. Como exemplo vou citar uma experiência própria e em andamento. Esse ano vamos fazer uma pesquisa com aves nas praias do rio Araguaia, a Fundação Pró-Natureza, a Universidade Federal do Tocantins e o Museu de História Natural da Flórida. Nosso objetivo central é o censo das aves usando as praias no período de seca, quando baixam as águas, bem como entender a sua dinâmica espacial quando essas praias ficam estacionalmente inundadas. Como iremos capturar individuos para marcação, subsidiariamente iríamos efetuar a coleta de 1ml de sangue da veia braquial dessas aves, um procedimento padrão para análises genéticas. Esse material não seria pesquisado por nós, mas por outros grupos de pesquisa no país. Pois bem, o CNPq e o atual MCTI indicou a necessidade de autorizações das respectivas comissões de ética de uso de animais. O professor da UFT que irá participar da pesquisa solicitou e recebeu essa autorização da CEUA da universidade, apesar de ser a primeira vez em 15 anos de pesquisas com aves e anilhamento na região, bem como para surpresa da própria CEUA, aparelhada para verificar procedimentos de laboratório e não trabalhos de campo. Esses possuem outras autorizações para seu desenvolvimento, as quais a nossa pesquisa já tinha. Pois bem, apesar de contar com essa participação de um pesquisador autorizado pelo CEUA da universidade, houve a exigência do CNPq e MCTI para que os demais também a tivessem. Como não somos ligados à UFT, cada instituição teria que organizar o seu CEUA, o que é inconcebível pelo arcabouço profissional necessário para uma ONG e para uma instituição não brasileira. Resultado, retiramos a coleta das amostras de sangue dos procedimentos por não ser o objetivo central do trabalho e palmas para o obscurantismo, já que é política das duas instituições envolvidas no fomento à pesquisa que qualquer manipulação de animais na natureza tenha essa autorização. Perde-se muito por pouco, tendo em vista o custo e a dificuldade de ter animais silvestres pesquisados, uma oportunidade para suprir outros grupos de pesquisa do Brasil com um material importante.
É obvio que algumas pesquisas científicas requerem coletas. O excelente texto de Rafael enfoca-se no fato de se tratar de coletas em áreas protegidas, e que ainda por cima pouco acrescentam ao conhecimento científico. Quando trabalhei em Abrolhos e em Fernando de Noronha, vi diversas equipes de pesquisadores retirando caixas e mais caixas de espécimens dos recifes para compor as coleções das universidades, todos com permissão. No Parque do Cantão, já retirei um jacaré escondido na barraca de um pesquisador, que queria leva-lo para dissecação em sala de aula com seus alunos; uma ornitóloga deixou pássaros coletados dentro de um saco na areia sob um sol fumegante, alegando que ia classificá-los mais tarde e depois soltar. Metade das aves já estavam mortas por calor e abafamento (e algumas espécies eram triviais até mesmo para uma leiga em pássaros como eu). Recentemente a EMBRAPA buscava na região do Araguaia muitos exemplares de pirarucus selvagens para análise comparativa com os criados em cativeiro. A equipe não encontrou pirarucus em numero suficiente fora do Cantão, e pediram permissão para coleta-los no parque, nas proximidades de nossa base de pesquisas, que está coalhada de pirarucus protegidos há mais de 10 anos. A solicitação foi negada. George falou lá em cima sobre o resgate de botos encalhados, onde os animais combalidos foram submetidos a experiências dignas de Dr Mengele. Como não concordar com Rafael que é necessário ser mais rigoroso com a forma que os dados publicáveis são obtidos? Parabéns Rafael, e a todos os editores de BioCons.
Grande Dr Rafa!!! Parabéns pelo texto! Fábio Borçato
Penso que o texto traz para o debate uma discussão bastante relevante e que nos leva a refletir bastante a respeito.
Usando o exemplo citado, dos peixes, o que falariam os Conselhos de Ética a respeito da pesca profissional (não científica, e sim como fonte de proteínas)? Enquanto pesquisadores coletam algumas centenas de indivíduos, os mesmos são pescados aos milhares / milhões! Considero a comparação inevitável…
E ao esmagarmos os pernilongos que nos incomodam no campo? Nem pensamos nisso…
Concordo com o autor quando ele diz que é a comunidade científica que deve "elevar a régua" (raise the bar) da referência em termos de sacrifício animal. Indubitavelmente há sofrimento e o mesmo deve ser evitado ou minimizado. Por outro lado, na prática, o cenário de "zero captura" ainda não é realidade (e talvez nunca venha a ser…).
Considero dois pontos importantes:
– A qualidade do projeto e seus objetivos, que podem otimizar coletas e definir os melhores métodos – sem aqui descartar nenhum deles, como a ablação de artelhos em anfíbios;
– O avanço tecnológico nos métodos de análise taxonômica, sistemática e de comunidades.
Enfim, a solução passa pelo bom senso, preparo dos pesquisadores e desenvolvimento científico. Sem espaço para paradigmas.
E que a vida tirada dos animais valha a pena!
Parabens, Rafael!
O texto me lembra de uma pesquisadora famosa, que em meio a um resgate de botos em pleno calor de uma tarde tropical, mandou interromper tudo por quase meia hora enquanto obtinha 5-6 biopsias e uma bolsa de sangue de cada animal. As biopsias das nadadeiras tinham vários cm de comprimento, pequenos bifes. Isso tudo era imposto a animais já no limite do estresse e superaquecimento devido ao resgate.
Depois os botos, sangrando profusamente em vários lugares, eram soltos num rio cheio de piranhas. Tudo em nome da ciência.
Parabéns pelo texto, Rafael!
Também vejo colegas meus usando métodos desse tipo e sempre achei estranho o fato de quase nenhum pesquisador questionar a ética de certas práticas. A justificativa (que nunca me convenceu) dada para a aceitação de tais práticas geralmente é a mesma: "tudo pela ciência". Como sempre falo, a ciência está aí para EVOLUIR, em todos os aspectos, inclusive nos éticos.
Tenho certeza que tu vais receber vários comentários elogiando o teu texto (que realmente está muito bom). Mas se esse mesmo texto tivesse sido escrito por alguém "não-acadêmico", certamente seria classificado como "sentimentalismo puro" e outros termos que nem lembro mais, mas que são usados em vários comentários deste site, inclusive por profissionais da área ambiental.
Prezado Rafael,
Como já mencionado acima, eu escrevi um texto há algum tempo aqui no O ECO (que, por alguma razão está com a parte introdutória original cortada) justamente sobre a importância da coleta científica, especialmente porque temos diversos atores sociais (de indivíduos a instituições) que tem dificuldade em entender porque existem museus, porque a coleta científica é relevante e porque aparentemente pesquisadores praticam comportamentos antagônicos ao que defendem. A questão é muito mais ampla e informação nunca é demais.
Existem diversos pontos em seu trabalho que precisam de maior discussão. Questões relacionadas a diferentes grupos taxonômicos (é fácil coletar milhares de cupins, por exemplo, sem causar mudanças relevantes nas suas populações ou nos ecossistemas onde estes animais estão; o mesmo não se aplica a morcegos, por outro lado) precisam de maior discussão. O efeito espacial e geográfico (o tamanho da unidade e esforço amostral; se a amostra está localizada em uma área que será desmatada para a instalação de uma mineradora ou se a coleta é feita em um parque nacional, claramente são aspectos relevantes) e, é claro, a relevância dos museus como lastro do conhecimento em biodiversidade. É preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre o ativismo animal baseado em percepções emotivas humanizadas (que infelizmente povoa fortemente vários setores acadêmicos e ambientais, para o prejuízo da ciência, da conservação e, em última análise, das espécies) e a real tomada de decisões baseadas no entendimento ético do seu trabalho.
Infelizmente, minhas experiências com conselhos de ética no uso animal carecem mesmo de entendiento sobre como é feito o trabalho de campo. Mas, ao contrário da sua opinião, para qualificarem melhor seus pareceres e as bobagens que aparecem. Como o Felipe Xavier colocou acima, a ablação de falanges é método eficiente e de baixo impacto à saúde dos animais, sendo muito menos estressante que, por exemplo, a colocação de microchips. Existem trabalhos relatando aumento na produção de cortisona em animais microchipados e níveis de cortisona normais em animais marcados com ablação de falange. No entanto, por parecer muito "invasivo" ou "mutilador", metodologias que causam muito mais sofrimento animal (mas não nos causam espécie) acabam sendo sugeridas. Já tive pareceristas dos comitês claramente fazendo política profissional (corporativismo), já tive propostas criticadas porque eu pedia para coletar 30 indivíduos durante um ano inteiro para estudos ecológicos e queriam que eu coletasse, no máximo, cinco. Em outras palavras, se eu aceitasse essa recomendação, iria matar cinco indivíduos sem nenhuma razão, porque não iriam gerar informações ecológicas mínimas para o meu trabalho. Infelizmente, não existem tantas técnicas (como alguns erroneamente gritam aos quatro ventos) para evitar a coleta de indivíduos, dependendo do tipo de estudo envolvido.
O ideal seria que cada pesquisador fosse responsável pelo seu comportamento ético e que absurdos, como os que você relata no manuscrito submetido, fossem razão suficiente para que tais criaturas não possam mais fazer pesquisa em biodiversidade.
Forte abraço,
Caro Reuber, não é que seja o caso do "ativismo animal baseado em percepções emotivas humanizadas POVOAR os setores acadêmicos, ambientais"… governamentais, e palpiteiros virtuais no geral…ele infelizmente PREDOMINA em tais setores, e acaba SUFOCANDO qualquer discussão/debate/questionamento racional que envolva dados/fatos/ciência…o que vale mesmo é o tal "ACHAR QUE…". Basta conferir os comentários na matéria sobre uma eventual regulamentação da caça, aqui mesmo n'O ECO.
Apoio total a essa posição do comitê editorial. Vou além em comentar que muitos pesquisadores da área de conservação ambiental tem atitudes cotidianas que são uma afronta a essa mesma conservação.
Obrigado por lerem a coluna e pelos comentários por aqui.
Maurivan, obrigado. O texto do Reuber é excelente e inclusive reforça a ideia acima, do Felipe, de que os taxonomistas se preocupam com a conservação das espécie e que precisam coletar animais (e plantas). Felipe, sei disso, e aliás, fui bem treinado em minha graduação e pós-graduação para fazê-lo. O problema certamente não é coletar 5 indivíduos com licença do ICMBio; a crítica é à coleta desnecessária de material biológico (especialmente para fazer um trabalho fraco e sem novidades). Quando essa coleta se faz necessária, ok; no artigo há inclusive um exemplo com abelhas publicado na própria Biological Conservation.
Sobre os métodos de coleta, sim, eles existem – o que não quer dizer que estejam livres de serem criticados ou que sejam os únicos possíveis. Os trabalhos não eram no Brasil – ainda bem!
Ótimo texto. Oportuna provocação, convite à reflexão. Essas questões foram amplamente debatidas na construção do Sisbio e das normas que o sustentam. Discussão sem fim. Certamente, nunca haverá consenso em torno da necessidade das coletas e dos métodos de marcação que envolvam ablação (amputação). A crítica é necessária. As metodologias deveriam justificar claramente o ganho real para a conservação das espécies. Mas as justificativas se diluem nas tradições dos métodos, em vaidades e caprichos curriculares. O mundo é dinâmico, a ciência é dinâmica é deveria adaptar seus métodos às realidades e contextos de uma planeta cada vez mais menos verde. E o texto nem chegou a abordar a condição de abandono da maioria das coleções nacionais…
http://www.oeco.org.br/colunas/reuber-brandao/258…
Olá Rafael,
Gostaria que me tirasse algumas dúvidas se possível.
Sabe-se que no Brasil é necessário licença do SISBio para coleta de material biológico. Provavelmente este estudo citado no texto jamais teria recebido esta licença. Não ficou claro se este estudo rejeitado pela revista foi realizado no Brasil.
Quando diz sobre a ablação de artelhos em anfíbios (inclusive arborícolas) já foi discutido entre IBAMA, ICMBio, MPF e a Sociedade Brasileira de Herpetologia. O ICMBio junto com alguns pesquisadores e a SBH publicaram na Revista Herpetologia Brasileira uma carta explicando a importância desta metodologia e quais os benefícios (inclusive desmistificando sobre esta questão de marcação em espécies arborícolas). Recomendo a leitura.
Outra questão que gostaria de mencionar é a utilização de carabinas principalmente para coleta de lagartos e aves (sim, existe esta metodologia!), principalmente aquelas que ficam no topo das arvores. O problema não é a metodologia.
Coleta de material biológico é essencial para trabalhos de sistemática e taxonomia e nao devem ser desencorajados. Por isso, o SISBio autoriza geralmente coleta de 5 indivíduos de cada espécie (de anfíbios) como material-testemunho. O que deve ser feito é os professores durante a graduação explicarem justamente a importância da coleção científica, da coleta de material biológico,as metodologias utilizadas e claro, as questões éticas. Assim, teremos estudantes engajados na luta pela conservação. No seu texto deu a entender que taxonomistas não se preocupam com conservação das espécies, e isso na minha opinião é um absurdo.
Muito bom! Fico indignada com a quantidade de animais mortos em "nome" da pesquisa.
Fraco em argumento quando impõe como realidade generalizada exemplos de despreparo dos mau formados.
Muito bom! Também fico abismada com algumas pesquisas/pesquisadores por ai…
Mesmo que muitas universidades possuem comitês de ética, funcionam mal e porcamente.
Parabéns, Rafael, pela reflexão lúcida e muito pertinente para todos nós. Compartilho sua posição.
Parabéns!