O alerta ressoa com urgência: estamos à beira do colapso ambiental. As evidências se acumulam de uma forma alarmante, pintando um quadro sombrio da nossa realidade, que inclui desmatamento acelerado, queimadas descontroladas, enchentes devastadoras, perda crítica de superfícies aquáticas, erosão da biodiversidade e aquecimento global desenfreado.
Esses desastres ambientais se intensificam em todo o mundo, mas atingem com maior severidade regiões historicamente desprovidas de governança ou com gestão negligente. Apesar de nossa vasta base de conhecimento e dos avanços em ciência, tecnologia e educação, forças contrárias persistem em minar os esforços para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável. O desafio é claro: transformar conhecimento em ação efetiva para reverter o curso atual e garantir que as gerações presentes e futuras tenham um amanhã.
O impacto no meio ambiente é inquestionável e já foi documentado em diversas áreas do conhecimento. As tecnologias e engenharias parecem ser as únicas esperanças de um futuro em que, privados de nossos direitos básicos, possamos sobreviver em um planeta degradado, enfrentando doenças causadas pela poluição do ar, água e solo. Nesse futuro distópico (ou não), fica a pergunta: até que ponto permitiremos que a degradação avance antes de agirmos decisivamente para preservar não apenas a natureza per si, mas a própria essência de humanidade?
O Cerrado, reconhecido como a savana mais biodiversa do planeta, enfrenta uma crise ambiental sem precedentes. Esse bioma importante no cenário brasileiro e mundial, que também abriga nascentes de rios vitais como o São Francisco, está se tornando uma zona de sacrifício em nome do desenvolvimento econômico de curto prazo. A situação é particularmente alarmante no São Francisco, onde a ameaça de seca compromete não apenas a geração de energia, mas também a agricultura que dele depende.
Não obstante os fatos e o conhecimento científico, projetos de lei obtusos e escusos permitem que áreas que ficaram até o momento livres de grandes impactos, e por isso, ainda ricas em biodiversidade, podem ser transformadas em pastagens e lavouras. Essa destruição ocorre a despeito da Ciência, que ressalta o valor ecológico insubstituível dessas áreas, desafiando acordos internacionais nos temas da biodiversidade e mudanças climáticas.
A preservação do Cerrado não é apenas uma questão ambiental, mas também de segurança hídrica e alimentar para o Brasil. O Rio São Francisco, que um dia fluiu abundantemente, já não apresenta a mesma vitalidade. Hoje enfrenta uma redução crítica em seu volume d’água, comprometendo a geração de energia hidrelétrica e a agricultura que dele depende.
Com uma vasta área, equivalente a grandes estados e uma população de milhões, a bacia do Velho Chico é um mosaico de riqueza e misérias. Ela abrange partes do Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, oferecendo ouro, diamantes e minérios valiosos, mas também enfrenta desertificação, êxodo rural, fome e poluição. A falta de governança e de um planejamento estratégico integrado está levando a uma crise iminente, com a água do rio cada vez mais escassa e a energia comprometida. Se as previsões climáticas se concretizarem, a situação do Cerrado e da bacia do São Francisco só tende a se agravar.
Para evitar uma catástrofe ambiental, é importante implementar ações urgentes e bem planejadas. A região demanda políticas públicas de conservação mais robustas e um repensar no modelo de manejo integrado de ecossistemas aquáticos e terrestres. Uma ação imediata para o desenvolvimento sustentável, em parceria com o governo, comunidades e instituições científicas, que priorize a fluidez dos rios e proteja a rica biodiversidade local é essencial.
É urgente um planejamento estratégico que transcenda fronteiras regionais, unindo todos os atores sociais em um esforço coordenado e devidamente financiado. Recursos provenientes de multas ambientais e das empresas exploradoras devem ser direcionados para a recuperação e conservação da bacia do São Francisco. Projetos de longo prazo e a revitalização da bacia são imperativos para garantir a sustentabilidade e o bem-estar das comunidades locais e do país. Esses esforços devem ser pautados em conhecimento científico e em diálogos simétricos com as comunidades, empoderando as bases locais, que contribuem diariamente na conservação.
Esses esforços devem ser pautados em conhecimento científico e em diálogos simétricos com as comunidades, empoderando as bases locais, que contribuem diariamente na conservação.
O governo e sociedade precisam reconhecer a importância desses ambientes não florestais e agir com determinação para preservar o rio que é um patrimônio nacional, assim como sua rica biodiversidade.
As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.
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Parabéns Geraldo e Stephannie pelo artigo e pela inclusão da sociedade civil no projeto de preservação. De uma forma geral, a visão em relação as pessoas do local é sempre punitiva e impositiva, mas isso deriva da uma sociedade machocrata, que é a raiz de todos os nossos problemas. Acrescentaria o fato de que, como economista, posso dizer que é uma luta inglória, porque essa ciência falsa assume que a natureza é inesgotável, que o processo econômico é neutro para o meio ambiente e que não há limites físicos, ecológicos e biológicos para a sua expansão contínua num planeta finito. Precisaríamos mudar completamente o modelo econômico atual, mas infelizmente apesar de todas as críticas já feitas desde os anos 1970, principalmente do Nicholas Georgescu Roegen, nada foi revisto. Enquanto esse modelo perdurar para atender a machocracia branca dominante que colocou todos os governos no mundo para engraxar seus sapatos, o resultado continuará sendo o mais nefasto possível e a combinação d fatores negativos, planetários e locais, já nos levou à beira do colapso. A mídia, os meios de comunicação e a filmogravia, controlada e dentro da visão de uma plutocracia cleptocrática e ricólatra impedem qualquer mudança e toda agenda de sustentabilidade foi mascarada por ações nulas e não é à toa que temos 29 anos de COPs para tratar do clima, com dois tratados, um de 1995 e outro de 2016, que não conseguiram mudar nada. Estamos muito perto do momento que dinheiro não terá valor algum. E o Brasil é um dos países mais vulneráveis a essa crise planetária, porque 80% da água que circula no nosso país vem de florestas e de biomas saudáveis, enquanto a média mundial é de 50%. Embora EUA e Europa tenham destruído quase 100% das suas florestas naturais, as consequências lá não são iguais as daqui. Tem solução mas no campo das ideias todas as tecnologias só aumentam a pressão sobre os ecossistemas destruídos diária e ininterruptamente até provavelmente já termos atingido seus pontos de não retorno. A sua pergunta sobre se só vamos agir na beira de uma crise ambiental pode ser complementada por outra pergunta: será que ainda temos tempo para parar essa locomotiva destruidora que pode ter ganhado um impulso ladeira abaixo muito maior que a nossa própria atividade destrutiva? Será que não armamos uma bomba que agora não podemos mais deter? Poucas pessoas sabem que três atos diários que nos mantêm vivos – beber, comer e respirar – vem 100% da natureza e não há nenhuma tecnologia humana capaz de replicá-los.