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Trilha de Itaúnas: a Rede Brasileira de Trilhas chega ao Espírito Santo

O início da sinalização e manejo da Trilha de Itaúnas, no Parque Estadual de Itaúnas, marca primeiros passos da rede capixaba de trilhas

Gustavo Rosa ·
8 de outubro de 2021 · 3 anos atrás

No último sábado de setembro pintamos a primeira pegada amarela e preta na sinalização da Trilha de Itaúnas, no norte capixaba. Um momento histórico: a adesão do Estado do Espírito Santo à Rede Brasileira de Trilhas (RBT) e o início da implantação da trilha de travessia do Parque Estadual de Itaúnas (PEI), com mais de 30 km.

A ação se deu durante a Oficina de Sinalização e Manejo de Trilhas de Longo Curso realizada de forma conjunta pelo PEI e a RBT, com o objetivo de capacitar e engajar pessoas para atuação na trilha de Itaúnas e na implementação de uma rede de trilhas de longo curso no estado. Tivemos mais de 30 participantes, de Itaúnas, de outros municípios da região costeira e das montanhas capixabas.

Os instrutores Ivan Amaral (Rede Brasileira de Trilhas) e Álvaro de Souza (Parque Nacional da Tijuca/ICMBio) compartilharam conhecimento e experiências enriquecedoras. Com latas de tinta spray e moldes em punho iniciamos a aplicação da sinalização rústica nos primeiros dois quilômetros de trilha, lembrando das regras de ouro enfatizadas por Ivan: “sinalização é o carro-chefe da trilha. O turista não pode se perder”!

A Trilha de Itaúnas ligará a sede do município de Conceição da Barra à praia do Riacho Doce, passando pela Vila de Itaúnas, importante destino turístico do Espírito Santo. Será o pontapé inicial para uma trilha de longo curso cortando a costa capixaba e integrando o eixo maior da trilha litorânea nacional do Oiapoque ao Chuí.

Pegada símbolo da trilha_o rio Itaúnas, uma árvore de mangue, as dunas e o sol em alusão à roda de uma bicicleta. Foto: Acervo PEI

Seu projeto foi iniciado em 2020, quando gestores de unidades de conservação capixabas conheceram a Rede Brasileira de Trilhas. Em abril de 2021 um grupo de trabalho foi criado reunindo usuários da trilha, sociedade civil organizada, poder público e setor privado. Nesse coletivo definimos o traçado do primeiro trecho da trilha, com 20 km, seu nome e sua pegada.

A Trilha de Itaúnas como equipamento turístico, com sinalização e manejo padronizados, começa então a sair do papel, mas os caminhos e histórias que nos levaram até ela são antigos e merecem ser relembrados.

Pelas trilhas de Itaúnas caminharam os povos originários, como os indígenas aimorés, dizimados em sucessivas batalhas e perseguições; por elas vagaram os negros da resistência quilombola do “Sapê do Norte”, sob a ameaça constante dos feitores. Nessas matas caminhou Zacimba Gaba, princesa angolana escravizada no Brasil, que estabeleceu seu quilombo na região do Riacho Doce e resgatou centenas de escravizados atacando navios negreiros no litoral de Itaúnas.

Muito antes da existência da estrada que hoje corta a região, caminharam por suas trilhas moradores do promissor entreposto comercial de Itaúnas; pescadores de um rio com pesca farta; e os devotos de São Benedito rumo à celebração do Ticumbi na antiga Vila de Itaúnas, soterrada pelas dunas entre 1940 e 1970.

A história do lugar ainda vive na memória dos mais velhos. Dos que viram descer pelo rio Itaúnas, às margens de nossa trilha, grandes balsas formadas por toras de madeira de lei extraídas na região. Dos que testemunharam a derrubada de florestas convertidas em pastagens e monoculturas.

A Trilha de Itaúnas desponta como oportunidade de reconexão com a história da região e um chamado à sustentabilidade. Quem se aprofunda nessa história passa a valorizar o que ainda temos e a reconhecer a importância do respeito aos povos e à natureza em nosso território, componentes essenciais para o turismo de baixo impacto.

Com isso em mente, lembremos do potencial das trilhas como instrumento de geração de renda e promoção de saúde, especialmente diante de uma pandemia que nos deixou sedentos por experiências renovadoras de contato com a natureza.

A Trilha de Itaúnas. Foto: Frederico Pereira

Nos últimos anos, o número de caminhantes e ciclistas que percorrem as florestas de Itaúnas tem crescido, mas limitado pela falta de manejo e sinalização. O projeto da Trilha de Itaúnas vem suprir essa lacuna e permitir que muitos possam contemplar as riquezas da região: o manguezal da Guaxindiba, os jardins de bromélias sob a floresta de restinga, as revoadas de papagaios-chauá, o pôr-do-sol das dunas de Itaúnas. E que outros tantos possam se engajar como voluntários no processo de implantação e manejo de trilhas de longo curso, assim como nos mutirões de restauração florestal que certamente virão.

Isso porque a oficina que fizemos nos mostrou que a restauração é um caminho natural para quem se envolve com a trilha. Durante os trabalhos de campo o tema surgia naturalmente na fala dos participantes: uma clareira a ser recuperada, um trecho de floresta aguardando o manejo de espécies exóticas. A trilha tem vida própria e nos influencia para seu bem, ou melhor, para nosso bem comum. E assim como nela plantamos uma proposta de turismo sustentável, ela plantou em nós uma semente de ânimo e motivação. Algo de valor inestimável nos tempos em que vivemos.

Assista a live da Rede Brasileira de Trilhas em parceria com ((o))eco sobre a Trilha de Itaúnas:

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

  • Gustavo Rosa

    Agente de Desenvolvimento Ambiental do Parque Estadual de Itaúnas do IEMA-ES

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Comentários 1

  1. Alice diz:

    Eu tava acordada a noite agora, com medo desse som e acabei descobrindo seu site incrível 😁 são 3 da manhã agr que sei que era um pássaro vou dormir