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15 anos de pesquisa em Jornalismo Ambiental

Grupo de Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) destaca desafios e avanços da área

7 de dezembro de 2023
  • Isabelle Rieger

    Estudante de Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e bolsista de iniciação científica vinculada ao Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS)

  • Eloisa Beling Loose

    Professora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), pesquisadora e vice-líder do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

Em 2023, o Grupo de Pesquisa de Jornalismo Ambiental completa 15 anos. Durante esse tempo, foram publicadas teses, dissertações, monografias e artigos, frutos de pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenado pelas professoras doutoras Ilza Girardi e Eloisa Beling Loose, o grupo é caracterizado por intercâmbios e trocas de saberes entre diferentes campos do conhecimento,  afinal, é necessário entender o que acontece no entorno e para além do jornalismo. Além disso, uma outra marca do grupo é a relação estreita com a prática profissional, ocasionando diversos eventos e parcerias com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS). 

Nesse contexto, a publicação “Retrospectiva e avanços na pesquisa em Jornalismo Ambiental” traz um balanço acerca dos trabalhos desenvolvidos assinado pelas coordenadoras do grupo, as professoras Ilza Girardi e Eloisa Beling Loose. Recorda-se que antes mesmo de sua institucionalização, já havia estudos na pós-graduação sobre jornalismo ambiental que buscavam compreender quais sentidos do meio ambiente estavam presentes nos discursos que se diziam sustentáveis. Com o desenvolvimento das pesquisas, foi identificado que o gênero reportagem é o mais propício ao paradigma ecológico, por permitir explorar com mais fôlego a contextualização e pluralidade de vozes. Nos primeiros anos do grupo, o enfoque predominante era verificar quais sentidos de meio ambiente estavam presentes nas coberturas jornalísticas de diferentes meios. 

Já entre 2011 e 2015, houve um esforço em compreender como o jornalismo ambiental estava sendo estudado, sobretudo no Brasil. Verificou-se que praticamente não havia distinção entre o jornalismo ambiental e o jornalismo de meio ambiente nos trabalhos publicados, denotando desconhecimento sobre tal distinção. O que difere os dois, primordialmente, é que o segundo não se identifica com o engajamento na defesa do meio ambiente, nem assume a perspectiva ambiental como ponto de partida, enquanto o profissional atuante no jornalismo ambiental compreende de forma crítica a relação entre sociedade e natureza.  

Nesses anos de atividade ininterrupta, vários estudos se debruçaram sobre temas emergentes, que pouco a pouco foram tendo mais visibilidade no noticiário diário. Atualmente, os últimos estudos estão orientados para a discussão dos pressupostos epistemológicos do Jornalismo Ambiental.

O desafio – a ser concluído – é rever os aspectos que sustentam este tipo de jornalismo e demarcar aquelas características que são próprias de um jornalismo comprometido com a vida. 

Esse texto expõe também uma proposta de agenda para pesquisa, envolvendo aproximação com o pensamento emancipador e da crítica colonial, com estudos sobre recepção de mensagens, relação com a desinformação e negacionismo, além da maior visibilidade a temas como acidificação dos oceanos e perda da biodiversidade, por exemplo. Os próximos passos podem ser estes, mas com cuidado, para não ser transformado em um falso jornalismo salvador que promova alternativas isoladas e que seja, assim, uma nova forma de greenwashing. Deve-se promover coberturas que possam disseminar alternativas frente à degeneração ambiental.

O jornalismo ambiental é uma área engajada na qualificação de informações que contribuam com a mudança de pensamento em relação à coletividade, à natureza e a outras formas de vida. Além disso, promove a cidadania planetária e a ética de cuidado, na tentativa de desnaturalizar a concepção hegemônica, baseada na racionalidade econômica, de que as pessoas não são parte do meio ambiente. Diante de uma sobreposição de crises ambientais e da urgência em evitar os piores cenários, é preciso que a perspectiva ambiental transborde para todos os espaços jornalísticos, para permitir outras compreensões do mundo, que respeitem os limites do planeta.

Obs.: Em novembro, o Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental realizou uma mesa virtual com pesquisadores relevantes para a maturação dos estudos brasileiros na área. Confira aqui o evento comemorativo que contou com a participação de Wilson da Costa Bueno e Luciana Miranda Costa.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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