Esperem um pouco donos de cachorros, gatos e afins. Falo de animais silvestres, principalmente de araras, papagaios, passarinhos, macacos e coisas que tais. Realmente é um prazer ter um periquito ou papagaio que fala e que encanta as crianças com suas graças, bicadas e beleza de plumagem. Talvez ainda mais interessante seja ter um macaco que por ser mais inteligente muitas vezes age como nós humanos. Mas ter animais da fauna silvestre como bicho de estimação é um crime contra a natureza, por mais que o amemos e o tratemos bem. Por isso mesmo a legislação é severa quanto a se ter animais silvestres em casa.
A fauna silvestre é do Estado, que nos representa a todos, e por bons fundamentos ecológicos, deve ficar preservada na natureza, livre e reproduzindo. O Brasil é um dos campeões do mundo em extinção de animais silvestres, não particularmente por causa dos animais de estimação, mas eminentemente pela destruição de seus habitats. Lamentavelmente, os animais silvestres de estimação provêem de um comércio triste e sujo e, acima de tudo, muito cruel, tanto que de certa forma rememora os piores momentos da escravidão humana e que, também por isso, é ilegal. Assim, quem tem uma arara, por exemplo, adquirida ilegalmente está contribuindo com o comércio e contrabando ilegais, que aí sim, significa um dos fatores de extinção porque se capturam muitos indivíduos de poucas espécies, as mais raras e caras ou aquelas prediletas dos cidadãos comuns, que querem egoisticamente tê-los em casa. Algumas araras raras (gostei da redundância!) têm preços que alcançam milhares de dólares e, acreditem, não são somente elas que alcançam valores vultosos. De outra parte, muitos também não querem entender que se lhes fosse dado o direito de ter animais silvestres, todos os outros brasileiros deveriam ter o mesmo direito. Qual seria então o volume de animais necessário, fora as perdas na captura e no transporte?
É impressionante como é difícil em nossos dias se manter populações geneticamente viáveis de animais silvestres. No caso da arara é surpreendente, pelo menos o foi para mim, saber que em uma reserva de 106 mil hectares, a do SESC Pantanal, em Mato Grosso, onde existe a maior população de arara azul conhecida do país, cerca de 300 indivíduos, nascem apenas de 30 a 35 crias por ano. Isto em uma enorme área protegida onde tudo é feito para garantir sua reprodução e proteção. A destruição das palmeiras e árvores que oferecem sua comida ou os locais para sua reprodução é o fator limitante principal de sua população e essas plantas estão cada vez mais raras, devido ao desmatamento, às queimadas e à exploração florestal.
Quando as autoridades constituídas, em geral o IBAMA, faz as apreensões no cumprimento da legislação, é uma choradeira… Principalmente para os estrangeiros que aqui vivem e quando se mudam para outro país querem levá-los a todo custo. Recorrem a políticos e autoridades e não se conformam com o indefectível “não”. A autoridade não tem o poder de arbítrio. Tem de cumprir a Lei, que felizmente é boa.
Então em nenhuma hipótese se pode ter animais silvestres como de estimação? Não é bem assim. Pode-se tê-los se provenientes de criadouros devidamente autorizados pelo IBAMA. Há muitos criadouros de jibóias, por exemplo. Não me perguntem por que muitos gostam de ter jibóias em casa. Há de pererecas e de muitos outros animais ou espécies, melhor dizendo. Pode-se adquiri-los legalmente, eles são “chipados” e estão sob total controle das autoridades. Já li na imprensa que os criadores de jibóia têm uma grande demanda e os preços são bem salgadinhos. Em outros países as rãs e pererecas fazem enorme sucesso também. Mas há criadores de animais mais simpáticos como de bicudo e curió, ou de outras belas aves. Infelizmente não tenho notícias de criadores de gatos silvestres. Bem que eu gostaria de ter um gato em casa, fora o meu marido, é claro.
Meu conselho a quem quer ter animais silvestres como pets é adquiri-los de criadouros legais, quando são reproduzidos em cativeiro. Garanto: são iguais aos da natureza e quem comprá-los não vai ter a consciência pesada de estar contribuindo para um contrabando que envolve animais silvestres e drogas, que em geral é de mão dupla e faz um simples cidadão transformar-se em um criminoso asqueroso.
Ter um animal silvestre como de estimação sem riscos é possível, mas os animais domésticos são simpáticos também. Meu cachorro até já aprendeu a me chamar quando os sagüis vêm comer frutas no meu quintal. E olha que o nome dele é Estupidus…
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