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Conservação no Pantanal

Combinar, em equilíbrio e harmonia, conservação, ecoturismo e pesquisa não é fácil. Mas vale à pena. É o que acontece na fazenda Rio Negro, no Pantanal.

12 de junho de 2005 · 20 anos atrás
  • Sérgio Abranches

    Mestre em Sociologia pela UnB e PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell

Pita o piloto do Cesna que nos leva de Aquidauana à Fazenda Rio Negro, no Pantanal do Mato Grosso do Sul, vai apontando os principais pontos de interesse – o rio Aquidauana, a serra de Maracaju, o Rio Negro – e os pontos de desmatamento e destruição. A precisão com que vai mostrando o que é bom e o que é ruim no Pantanal, revela não apenas sua experiência – são trinta anos pilotando na região – mas um tipo de preocupação e engajamento, que fui encontrando por toda parte que passei e com todas as pessoas com quem conversei.

O Pantanal é sempre imperdível, pela beleza da luz de seus crepúsculos e profusão de suas espécies. Descer o rio Negro remando uma canoa canadense, em silêncio, deixando apenas falar as aves é uma experiência arrebatadora. Lico estava sempre pronto a negociar a entrada de baías já quase separadas do rio por bancos de areia. Por vezes, bem no meio, o rio ficava tão raso que era preciso parar o motor da chata e encontrar uma parte onde a lâmina d’água ainda permitisse passar. Outras vezes, embora não fossem imediatamente visíveis, havia tocos na areia no leito do rio minguante. Lico acelerava, desacelerava o barco com maestria. “É preciso aprender a ler o rio”. Estou convencido de que é preciso mais que isto. É preciso aprender a ler a natureza toda, ouvir dela os gritos e sussurros, deixar que ela nos vá mostrando um jeito de curar suas feridas e, da mesma forma, que nos vá revelando suas belezas e sua lógica. Guimarães Rosa encontrou grandes pensadores entre os sertanejos que percorriam o cerrado quase virgem de suas grandes veredas. Gente de frases curtas e sabedoria profunda. Conheço essa luz íntima do sertão que acende as inteligências. Encontrei amostras parecidas no meio pantaneiro. Gente de olhos sinceros, que sabem ler suas terras, ou suas águas.

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