Antes de mais nada, o colunista pede um presente de Natal e de Ano Novo: cartas dos leitores. Não tem a menor graça escrever uma coluna se você não consegue fazer nem inimigos com ela. Ou pior, se eles te tratam com tanta indiferença que não se dão ao trabalho de criticá-lo. Elogios, claro, são bem-vindos, mas mãe e amigos cumprem bem esse papel. O que faz falta mesmo é crítica e feedback. Fica registrada a queixa.
Como essa é a última edição de 2004 do O Eco, veio o peso das reflexões de fim de ano, dos desejos para 2005 e todo o blá-blá-blá de que pouparei o leitor. A reflexão que quero compartilhar aqui diz respeito à seguinte pergunta: Por que dedicar-se ao tema da economia ambiental? Aparentemente, palavras com pouca associação nas cabeças. A natureza lembra criação, tudo o que não tem limite, o que não é obra humana. E a economia, desde o seu início, foi chamada de dismal science (ciência lúgubre), porque limita e põe números nos sonhos. Mas ecologia e economia são palavras com o mesmo radical. Eco, que significa casa, lar.
A palavra ecologia foi cunhada em 1870 por Ernest Haeckel, um médico alemão que, influenciado pela leitura da “Origem das espécies”, de Darwin, voltou-se para a biologia. Trabalhou classificando espécies, das quais nomeou 150. Pensador prolífero, mais tarde acrescentou às suas áreas de interesse a antropologia e a psicologia, sempre com idéias instigantes. A biografia de Haeckel desbotou ao longo da história porque ele formulou uma versão da teoria da evolução diferente da idéia que vingou: a seleção natural de Darwin.
Haeckel definiu Ecologia como “… o conjunto de conhecimentos relacionados com a economia da natureza – a investigação de todas as relações entre o animal e seu ambiente orgânico e inorgânico, incluindo suas relações, amistosas ou não, com as plantas e animais que tenham com ele contato direto ou indireto – numa palavra, ecologia é o estudo das complexas inter-relações, chamadas por Darwin de condições da luta pela vida”. Vê-se que, na sua primeira definição, a ecologia já incorpora a economia.
Ele também era um pensador influenciado pelo romantismo e idealismo da filosofia alemã, por autores como Goethe, em contraste com o utilitarismo inglês de Jeremy Bentham e John Stuart Mill, que está por trás de todo o pensamento econômico tradicional. Uma das principais ferramentas dos economistas é a análise de custo-benefício, dissecação das coisas que causa arrepio à maioria dos mortais e, muitas vezes, resseca a personalidade de quem a pratica. Mas apesar da maioria não gostar do assunto, se os princípios econômicos têm alguma utilidade e alguma universalidade é porque os indivíduos, mesmo sem saber, tomam decisões utilitárias, olhando para frente e comparando benefícios e custos, ou dor e prazer, na linguagem de Bentham.
Queremos reduzir o lixo, fazer as pessoas pensarem antes de comprar embalagens descartáveis? Cobre-se por cada saco de lixo gerado. Os peixes estão acabando? Transforme-se os pescadores em fazendeiros. Os parques nacionais estão sendo mal administrados por uma burocracia distante? Aumente-se a autonomia e a responsabilidade pelos resultados dos chefes de parque. Queremos que os agricultores preservem áreas verdes? Crie-se interesse pelo bolso, um dos órgãos mais sensíveis do corpo humano. Esses foram alguns dos assuntos deste espaço. Soa frio? Talvez. Mas não vivemos mais em vilas, e sim em sociedades de massa. Elas geram muita divisão do trabalho, permitindo mais produtividade e mais variedade de consumo. Mas pedem mecanismos impessoais para controlar seus excessos.
Eis a razão para combinar ecologia e economia. As duas dedicam-se a arrumar a casa. A primeira admira a sua originalidade, quer preservar a sua pureza. A segunda deve ser uma encarada como uma ferramenta. Não tem desejo nem propósito próprio. É um dos instrumentos disponíveis para atingir os objetivos humanos. A combinação de ecologistas com economistas deve ser um fermento para atingir da forma mais eficiente possível a meta de proteger a natureza.
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