O mundo está melhorando. Ao mesmo tempo, falta muito para ficar bom. Partindo desse ponto, Bjorn Lomborg, cientista político e estatístico dinamarquês, lançou um ousado ataque contra os ambientalistas mais alarmados. Seu livro O ambientalista cético” , publicado em 2001, provocou reações coléricas no meio.
Ele começa denunciando o que chama de ladainha ambientalista, usada para apavorar as pessoas e conquistar adeptos à causa. São quatro os temas mais repetidos: os recursos naturais estão acabando, o crescimento populacional é insustentável, a biodiversidade está sendo reduzida a taxas alarmantes e, por fim, a poluição do ar e da água está cada vez pior.
Em cerca de 500 páginas que misturam prosa clara com uma torrente de números, gráficos e citações, Lomborg defende que, olhando os grandes números, as perspectivas ambientais e humanas são boas.
Hoje, as reservas dos metais mais importantes e dos combustíveis fósseis são maiores do que há 30 anos. A prática tem mostrado que o maior limitador para aumentar essas reservas não é a escassez natural, mas os investimentos em pesquisa de novas áreas de exploração. No nível de consumo atual, as reservas conhecidas de petróleo são suficientes para mais 150 anos.
A biodiversidade no planeta está diminuindo, porém a um ritmo lento. Os mais pessimistas previam uma extinção de até metade do número de espécies nas próximas décadas. Mas áreas que sofreram forte desmatamento não mostraram tanta fragilidade biológica. A estimativa de Lomborg é que, nos próximos 50 anos, o número de espécies extintas deve ficar próximo de 0,7% do total. As florestas tropicais estão diminuindo. Mas não a uma velocidade de 2% a 4% ao ano, mas, sim, a 0,5%. E a cobertura florestal do mundo, como um todo, surpreendentemente ficou estável no século XX. Houve até um pequeno ganho.
A qualidade do ar nos países desenvolvidos melhorou dramaticamente nos últimos 100 anos. Em Londres, o auge da poluição foi em 1890, caindo rapidamente ao longo do século XX. Em parte dos países em desenvolvimento, a poluição urbana ainda é alta ou crescente. Mas Lomborg especula que, à medida que enriqueçam, também possam reduzir o problema.
A taxa de crescimento da população humana está em rápida desaceleração. O pico do crescimento populacional, de 2% ao ano, ocorreu na década de 60. Desde então, o ritmo caiu para 1,26%, hoje, e estima-se que estará em 0,46% em 2050. Ao mesmo tempo ocorreu a revolução verde na agricultura. Juntas, as duas mudanças reduziram a proporção de famintos de 45%, em 1949 , para cerca de 18%, hoje. A tendência deve continuar, com queda para 12%, em 2010, e 6% em 2030. Nunca se produziu tanta comida. Nos países em desenvolvimento, a produção de grãos per capita aumentou 52% desde 1961, permitindo que seus habitantes aumentassem seu consumo de calorias em 38%.
Lomborg não faz mesmo questão de agradar. Nem mesmo o protocolo de Kyoto ele alivia. Apesar de admitir o efeito estufa, ele argumenta que o acordo terá efeitos minúsculos sobre o aquecimento global, mas custará entre 160 e 340 bilhões de dólares. Com essa quantia seria possível prover saneamento e água potável para 2,3 bilhões de pessoas, 40% da população mundial, que ainda não tem acesso a esses serviços. Como resultado, se evitaria dois milhões de mortes e 500 milhões de doentes por ano.
Bjorn Lomborg cresceu em um ambiente pouco convencional. Seus pais eram religiosos engajados em um movimento alternativo ligado ao catolicismo. Sua mãe oferecia curas espirituais. É vegetariano e abertamente gay. Diz que o estilo de vida dos pais e suas escolhas o acostumaram a não temer o lado politicamente incorreto dos debates. Para começar, contrariando o pendor místico da família, foi um ótimo estudante de matemática.
Mas seus críticos questionam sua honestidade intelectual e credenciais científicas, já que sua formação não foi nas ciências ambientais. Ele é doutor em ciência política pela Universidade de Copenhague e ensinou estatística na Universidade de Aarhus. Ele se descreve como um ambientalista empenhado, ex-membro do Greenpeace, para o qual contribuiu durante anos. Mas o próprio Greenpeace nega ter registros de sua participação.
Quando o “O ambientalista cético” foi publicado, ganhou elogios daqueles que acham que falta bom senso a boa parte dos ativistas. O influente semanário The Economist, por exemplo, aplaudiu o livro. Mas Lomborg sofreu um pesado ataque da revista Scientific American, que dedicou um editorial de 11 páginas, assinado por alguns dos cientistas que o próprio Lomborg contradiz no livro. Insatisfeito com o pequeno espaço concedido pela Scientific American para a sua réplica, Lomborg disponibilizou o editorial no seu site e escreveu uma detalhada resposta. A revista ameaçou processá-lo por quebra de direitos autorais e, em retorno, foi acusada de censura.
Lomborg também foi processado no Comitê Dinamarquês de Desonestidade Intelectual e, na primeira decisão, considerado culpado por omitir dados contrários às suas conclusões. Lomborg considerou o julgamento político e apelou. Acabou ganhando. O governo dinamarquês considerou que o próprio comitê não foi capaz de substanciar a condenação.
Toda essa controvérsia está bem documentada no site de Lomborg, no verbete sobre ele na Wikipedia (com vários links interessantes) e no site de um crítico, o biólogo Kåre Fog, seu conterrâneo. A The Economist também publicou um editorial sobre o assunto, defendendo-o. Nele, cita textualmente Stephen Schneider, um dos autores da feroz crítica da Scientific American. Nas palavras de Schneider, “Each of us has to decide what the right balance is between being effective and being honest” (“Cada um de nós tem que decidir qual o equilíbrio entre ser eficaz e ser honesto”), defendendo que a missão dos cientistas envolve sensibilizar o público, mesmo tendo que exagerar ou mentir para sensibilizá-lo para as questões ambientais.
Será? Lomborg pode estar correto ao dizer que o mundo está melhorando. Mas ele ainda é um lugar com problemas suficientemente amedrontadores.
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