Colunas

Passeio em Copenhague, ou a Olim-piada dos insensatos

A festa lullesca da Rio 2016 foi muito mais noticiada do que as armações em marcha para impedir que os muitos impactos ambientais e desperdícios econômicos sejam detectados.

12 de outubro de 2009 · 14 anos atrás
  • José Truda Palazzo, Jr.

    José Truda é jardineiro, escritor, consultor em meio ambiente especializado em conservação marinha e tratados internacionais, e indignado.

Veículo cariocófilo, porém democrático, a´O ECO compete a árdua tarefa de me deixar fazer pouco da “conquista” de Lulla Roussef em trazer as Olimpíadas de 2016 para o rotundo e subsidiado seio da empresariada brasileira. Não me quererão menos meus colegas de redação por isso, estou certo, porque acredito que a minha indignação com o espetáculo circense do Einstein de Garanhuns chororô entre atletas aposentados e cartolas refestelados não seja só minha, mas de muitos brasileiros, inclusive cariocas, que possuam mais de um neurônio funcionante.

Copenhague não é perto. Portanto, imaginar que a Presidência de Pindorama deslocará para lá o caríssimo avião presidencial estrangeiro (francês) duas vezes no mesmo ano, é desconhecer a agenda de prioridades econômicas planaltenses. Lullão Metralha não irá à conferência do clima que decidirá não só o futuro do Brasil, mas de todo o planeta. Não. A prioridade é o futuro de seus aliados na eleição de 2010, que é o máximo que o Grande Líder e sua Plastificada Musa Candidata dos Empreiteiros consegue enxergar em termos de futuro. E para isso, a complementar a bolsa-esmola, o financiamento da construção civil predatória, insustentável e anti-qualidade de vida (vejam os projetos pipocando com grana da Caixa Econômica Federal), a enxurrada de carros particulares subsidiados para aumentar o caos urbano, as Olim-Piadas de 2016 vêm muitíssimo a calhar.

Bonito seria sediar os Jogos no Rio de Janeiro se fosse verdade a falácia de que isso vai melhorar em muito as mazelas sociais da cidade e seu entorno. Mas quem sobreviver ao crime de lesa-pátria das eleições compradas por antecipação de 2010 verá que é tudo farsa. Neste mesmo boquirroto veículo, Marcos Sá Corrêa acaba de demonstrar que a promessa de se plantar24 milhões de árvores para a Olimpíada é pura balela, uma impossibilidade física e apenas uma das muitas mentiras que cercam o “projeto” (melhor dito, loteamento a empreiteiros amiguinhos) do evento e suas muitas obras prometidas.

A festa lullesca em Copenhague foi muito mais amplamente noticiada do que estão sendo, e serão, as armações criminosas que agora o PoTestado stalinista porá em marcha para impedir que os muitos impactos ambientais, disfarces sociais e desperdícios econômicos sejam detectados, fiscalizados e corrigidos pela sociedade através dos mecanismos constitucionais de controle do Estado. Não é outra a indicação da notícia que deixa claro que o (des)governo e a claque empresarial que parasita o dinheiro público planejam mais um atraque político contra o TCU, o IBAMA e o Ministério Público, para impedir que se tomem medidas legais contra as obras da Olim-Piada.

Esquecendo-se (?) de que há em vigor no país um arcabouço legal para o meio ambiente, ameaça-se com uma “regulamentação do Artigo 23 da Constituição” que proponha um “marco regulatório” para a “questão ambiental”. Tradução: vamos aproveitar o oba-oba reinante para estuprar ainda mais a legislação ambiental e acabar com a supervisão do IBAMA e os poderes do Ministério Público e do TCU de suspender as ilegalidades. Não que isso seja novidade: já está em marcha coisa semelhante para destroçar a legislação que protege a biodiversidade, como denunciam as principais ONGs ambientalistas do país em recente manifesto.

Não por coincidência, nessa nova iniciativa genial do Einstein de Garanhuns para acabar com a gestão ambiental no Brasil, a farsa do pré-sal também pega carona, e vai se tentar também eximir a exploração e explotação de petróleo, com todos os seus impactos potenciais, dos processos normais e regulares de licenciamento ambiental e supervisão pelo TCU.

Também não por coincidência, a famigerada Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), que domina as discussões no Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico Social sobre o tema, está colada à brilhante iniciativa, dando seguimento ao seu histórico de representar o que há de mais troglodita no empresariado nacional naquilo que tange ao meio ambiente, como já vimos aqui mesmo nesta coluna. A mentalidade de combate explícito à proteção ambiental em grandes obras, que norteia a visão dessa gente, tem um excelente exemplo num documento lá de 2007 produzido para a Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica, que vale conhecer para entender qual a estratégia. As referências, neste documento, a chefetes políticos do Executivo como (Jerson) Kelman, verdadeiro faraó dos órgãos federais de águas e energia protegido de Dilma Roussef, e o folclórico deputado paranaense Michelletto, inimigo declarado da conservação da Natureza, deixam claro o âmbito de alianças que buscam destruir a legislação ambiental vigente para apressar a derrama de verbas públicas em empreendimentos faraônicos desnecessários, altamente impactantes e caríssimos, da genocida usina de Belo Monte às “infra-estruturas” capengas prometidas para o Rio de Janeiro até 2016.

Por isso, meus caros e minhas caras, o mesmo presidente (com p minúsculo) ignorante e prepotente em termos ambientais que acaba de rejeitar o desmatamento zero na Amazônia, para defender a mesma corja predatória que sustenta seu partido e aliados, e que se pendurou em Eike Batista para fazer o lobby do Rio 2016, não irá usar sua influência de ser “o cara” para gringos deslumbrados e influir positivamente nas discussões sobre o futuro do planeta que vem por aí. Mais petróleo, mais usinas, mais desmatamento pra usinas mal planejadas, vacas e soja, e dane-se que em 2050 nossos filhos e netos viverão num mundo infernal – afinal, se não aceitamos o terceiro mandato do Grande Líder, se ao menos aqui a cidadania ainda não se vendeu totalmente para a perpetuação da banda podre do PT no poder, pra que se preocupar com 2050? Viva então 2010 travestido de 2016!

Leia também

Notícias
27 de março de 2024

G20 lança até o final do ano edital internacional de pesquisa sobre a Amazônia

Em maio será definido o orçamento; temas incluem mudanças climáticas, risco de desastres, justiça ambiental e conhecimentos indígenas

Colunas
27 de março de 2024

O papel do jornalismo na construção de uma nova mentalidade diante da Emergência Climática

Assumir a responsabilidade com a mudança de pensamento significa assumir o potencial do jornalismo em motivar reflexões e ações que impactam a sociedade

Reportagens
27 de março de 2024

ICMBio tem menos de R$ 0,13 para fiscalizar cada 10.000 m² de áreas protegidas

Acidente com servidores no Amapá escancara quadro de precariedade. Em situação extrema, além do risco de morte, envolvidos tiveram de engolir o próprio vômito

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.