O Ministério do Meio Ambiente convocou a imprensa nesta tarde (14/11) para divulgar a taxa anual de desmatamento. O desmatamento voltou a subir na Amazônia, chegando ao patamar de 5.843 km² de floresta derrubada, contra 4.571 km² registrado no ano passado. O aumento foi de 28% em relação ao ano passado. Desde 2008, a taxa de desmatamento caiu todos os anos. A ministra aproveitou para dividir a culpa e passar um sabão nos estados, no Imazon e em outras Ongs, sem esquecer de responder à Marina Silva.
O Pará desmatou sozinho 2.379 km², o equivalente a 41% do corte raso registrado em toda a Amazônia Legal. Ficou em primeiro lugar no ranking dos estados. O segundo lugar foi para o Mato Grosso, que desmatou 1.149 km².
Os dados por área são diferentes das variações por estado, que mede o quanto evoluiu ou decresceu o desmatamento nos estados em relação ao mesmo período do ano anterior. Nessa variação, o Pará fica em quarto lugar e Mato Grosso pula para o primeiro (veja gráfico).
Responsável pelo cálculo, o INPE fechou os números no fim de semana. Pelo seu lado, o governo manteve a tradição de divulgar os dados do desmatamento ao longo da Conferência das Partes do Clima (COP 19), que esse ano acontece na Polônia. A divulgação dos dados durante a COP acontece desde a COP 13, em Bali, ainda durante a gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente.
Visivelmente irritada, a ministra foi ácida nos seus comentários. Chamou atenção dos estados onde o desmatamento foi alto, em especial Mato Grosso e Pará. “É inaceitável um desmatamento desse tamanho (…). Como o estado não está enxergando um desmatamento desse tamanho? Eu tenho que sair daqui e ir lá ver o que está acontecendo na frente deles? Desmatamento do lado do aeroporto”, alfinetou.
Aproveitou para mostrar um gráfico que ilustrava por que os dados produzidos pelo Imazon não podem ser usados para prever os dados do Prodes, frisando a diferença de método do INPE versus o Imazon, que é uma ONG independente do governo.
Izabella Teixeira mandou recado aos jornalistas presentes, em especial ao Estadão, por afirmar que o aumento do desmatamento era consequência do enfraquecimento dos investimentos destinados ao Ibama. A ministra negou a inferência: “a oscilação do desmatamento não está ligada à redução de investimentos na área de fiscalização”, e afirmou que não retirou dinheiro da verba de fiscalização do Ibama.
A bronca se estendeu às ONGs ambientais em geral, que segunda a ministra, elogiam internamente e “lá fora falam mal”.
No meio da coletiva, a ministra rebateu as críticas feitas por Marina Silva numa palestra realizada ontem (13) na Universidade Presbiteriana Mackenzie e publicadas pelo Jornal Valor Econômico. De acordo com a ex-ministra, o plano de combate ao desmatamento, criado durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente, em 2004, reduziu a devastação em 80%. “Infelizmente, tanto fizeram que mudaram a lei [Código Florestal] porque não conseguiam mudar o plano”, disse Marina.
Izabella respondeu: “Desde que eu aqui cheguei, os números [do desmatamento] estão em queda. Como técnica, funcionária de carreira, em respeito a esta instituição, eu posso afirmar que nunca ouvi nada que pudesse dar a entender que o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal [PPCDAM] deveria ser flexibilizado. Muito pelo contrário, o que recebi de orientação do presidente Lula era para ser firme no plano”, disse com o semblante sério.
Intolerância com desmatamento ilegal
O trabalho de manter equipes em regiões problemáticas não foi suficiente para conter o avanço sobre a floresta, principalmente no Pará, o que já havia sido antecipado pelo ((o))eco em agosto. É ao longo da BR-163 que os polígonos maiores, com mais de 1.000 hectares, foram encontrados.
O Ibama deflagrou grandes operações de combate ao desmatamento, como a Onda Verde e a operação Arãtareimo, nas quais as equipes ficaram mais de três meses em campo, sem voltar para casa.
O Ministério do Meio Ambiente não divulgou os números fechados das operações, pois grande parte delas são feitas em conjunto com o Ministério da Defesa e, por questão de segurança, seus dados são mantidos em sigilo. “Quem está dizendo que o Ibama está sozinho na Amazônia, eu peço para se informar mais”, ironizou Izabella.
Segundo ela, quase 4 mil processos inquéritos policiais foram abertos por causa de crimes envolvendo o desmatamento ilegal. Servidores públicos do próprio Ibama foram afastados por suspeita em esquema de venda de área embargada. “Estamos cortando na carne”, disse a ministra. “Um cara que desmata mil hectares sem ser preso está sendo acobertado”.
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