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I Fórum Baiano de Negócios Socioambientais: por que participar?

Cooperação entre ONGs e empresas vêm ajudando a ambas atingirem resultados significativos em suas áreas. A ideia é discutir essa parceria.

9 de dezembro de 2014 · 9 anos atrás
  • Suzana Padua

    Doutora em educação ambiental, presidente do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, fellow da Ashoka, líder Avina e Empreen...

Precisamos de boas notícias e essa é uma delas. Cada vez mais vemos empresas assumindo responsabilidades socioambientais de maneira criativa e com vistas a darem contribuições amplas à sociedade e ao planeta em geral. O que antes eram temas ou preocupações de uma minoria, em geral composta por organizações de fins ideais, sem o almejo de lucros, agora se estendem a outras esferas, principalmente do setor privado.

E por que isso é importante? O impacto de muitas empresas privadas é enorme e atinge muita gente. Se pensarmos na cadeia de produção de uma grande empresa, por exemplo, veremos que elas lidam com imensas variações de públicos, dos fornecedores e trabalhadores aos consumidores. Com isso, ao serem social e ambientalmente corretas, influenciam uma enorme gama de pessoas, que podem passar a perceber a importância de mudar posturas, comportamentos e valores. Ao invés de se pensar somente no lucro, esta tendência passa a levar em conta questões éticas como o valor da vida humana, adotando maior respeito pelos trabalhadores, clientes, fornecedores e prestadores de serviços relacionados às produções, como também aos recursos naturais e à vida encontrada na natureza.

Quem é correto em um aspecto em geral é em todos, seja no que tange ao social ou ao ambiental. E o que é melhor, “ser correto é cada vez mais lucrativo”. Ouvi esta frase de um empresário muito bem sucedido, que na época era diretor de um banco que se tornou modelo. Corajosamente, ele pediu a clientes que tinham posturas antiéticas, como trabalhos escravos ou semiescravos em suas propriedades, ou que devastavam a natureza sem critérios, que descontinuassem suas contas com o banco que dirigia. Aos menores dava assessorias específicas para que as atividades pudessem se tornar corretas quando não o eram. Muitos de sua diretoria e Conselho foram contra, pois dinheiro era visto como dinheiro, não importando de onde viesse. Todavia, acabou prevalecendo a ousada atitude de banir o que estava errado para adotar o certo. A estória é longa e complexa, mas o surpreendente no correr do tempo foi que esta política empresarial atraiu novos investidores, muitos grandes e poderosos, que ansiavam por ética nos negócios. Buscavam caminhos diferenciados e posturas exemplares de respeito à vida de uma maneira ampla. O resultado foi que o banco acabou lucrando mais do que antes, uma grata surpresa e uma consequência inusitada aos incrédulos iniciais.

Iniciativas

Na Bahia, onde o evento vai ocorrer, existem alguns casos que valem a pena ser mencionados. Um destes tem recebido reconhecimento e prêmios que atestam mudanças de postura frente a embates e conflitos. Refiro-me a Fibria, que já teve uma relação conflituosa com as comunidades onde desempenha suas atividades econômicas. Dentre as muitas questões controversas havia a retirada de eucalipto para carvão, atividade insalubre que incluía trabalho infantil. A empresa passou a adotar transparência nas relações e criar mecanismos de diálogo com as comunidades, que se reverteram em apoio mútuo ao longo do tempo. Ao ouvir com atenção as necessidades apontadas pelas pessoas locais e trabalhar junto e não contra, uns passaram a respeitar os outros e assim passaram a perceber onde havia sinergia e pontos de cooperação, propiciando ganhos maiores para todos. A Fibria também é apoiadora do Mestrado que relato a seguir.

“Ouvir, refletir, construir soluções conjuntamente é parte dos princípios que precisam estar sempre presentes. Essas são premissas para uma vida saudável, harmoniosa e sustentável(…)”

Outro exemplo é o Instituo Arapyaú, criado por um empresário para ajudar causas diversas ligadas à sustentabilidade, principalmente no Sul da Bahia. Um dos apoios é para o Mestrado oferecido em Serra Grande pela Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade – ESCAS, ligada ao IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas. O objetivo é trazer aos profissionais da região perspectivas de amplo alcance ligadas à sustentabilidade, que possam mudar o cenário regional ao longo do tempo. Isso já está ocorrendo em decorrência da atuação de muitos Mestres formados pela ESCAS, e talvez o próprio Fórum seja um fruto indireto dessa iniciativa, já que um dos organizadores, Juca Cunha é ex-aluno e Mestre por essa Escola, e hoje sócio do SER, empresa socioambiental. O Mestrado do IPÊ acabou gerando novas oportunidades, como o MBA que a ESCAS oferece em parceria com o CEATES – USP, que também participará do Fórum. O objetivo é contagiar e influenciar o setor privado com sustentabilidade tratada de forma ampla.

São muitas as fórmulas de cooperação, mas as parcerias entre organizações não governamentais (ONGs) e empresas vêm ajudando a ambas atingirem resultados significativos. As ONGs são conhecidas por terem objetivos bem delineados, já que são movidas por ideais específicos, ou seja, foram criadas para resolver questões ligadas à saúde, à educação, ao meio ambiente, entre outras causas socioambientais. As empresas se empenham na eficácia de sua gestão, resolvendo questões burocráticas com agilidade e eficiência. Ora, a junção desses perfis quando bem articulada é poderoso na mudança de realidades indesejadas, principalmente se houver respeito e formas transparentes e desburocratizadas de se traçar objetivos comuns. O melhor dos mundos pode ser atingido num espaço de tempo mais curto do que se essas esferas continuassem a atuar separadamente.

Claro que muitos aspectos devem ser observados, tendo sempre a ética como base das relações. Ouvir, refletir, construir soluções conjuntamente é parte dos princípios que precisam estar sempre presentes. Essas são premissas para uma vida saudável, harmoniosa e sustentável, seja em família, nos ambientes de trabalho ou nas relações sociais em geral.

Muitos desses aspectos serão discutidos durante o I Fórum Baiano de Negócios Socioambientais, que se realizará em Salvador de 9 a 12 de dezembro deste ano. O local será o Parque Unidunas que fica na Rua José Augusto Tourinho Dantas, 1001, Praia do Flamengo, Salvador, Bahia.

A inovação do tema promete um futuro mais maduro e consciente e por isso precisa ser amplamente divulgado para públicos e setores diversos. Trata-se de um paradigma bastante novo que merece atenção. Que muitos compreendam e adotem essas novas ideias, oxalá se alastrando cada vez mais. Só assim podemos ter perspectivas mais sustentáveis, que nos tragam orgulho de termos aderido a causas que valem a pena, que dão sentido e propósito à vida. Em meio ao lamaçal de notícias devastadoras que estamos presenciado em tantas setores e organizações, essa é uma boa fonte de energia e esperança, com potencial de nos trazer um futuro mais sustentável e ético.

 

 

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