Um dia, um pesquisador de opinião pergunta ao porteiro de uma grande montadora de caminhões, “o que o senhor faz aqui? ”. E o porteiro diz sem pestanejar, “eu produzo caminhões”. Pois é assim que deveria ser a realidade aqui em Bonito. Quando alguém perguntasse ao caixa do supermercado: “Do quê você vive?”, a resposta devia ser clara como eram as águas do Rio da Prata, ou Curé, seu nome indígena: — Eu vivo da natureza!
Em Bonito, mais que na maioria dos municípios do Mato Grosso do Sul, vivemos da Natureza, seja no turismo, agricultura ou na pecuária, vivemos todos das benesses auferidas de solos férteis, chuvas frequentes, etc. No turismo, então, a coisa ainda é mais escandalosa, já que não há nada mais importante do que um ambiente bem cuidado para que os visitantes fiquem ainda mais maravilhados.
Infelizmente, se qualquer pesquisador de opinião perguntar ao caixa ou ainda aos operadores e donos de passeios, é provável que a resposta não seja tão clara. E por quê? Por existir uma dissociação dos diversos setores de nossa cidade daquilo que move nossas vidas e economia.
A resposta pode ser simples ou mais elaborada, mas o fato é o mesmo. Em Bonito, Jardim, Bodoquena e até em Porto Murtinho, a cultura regional não se deu conta do grande barato que é viver da Natureza. Isto ainda não é fonte de orgulho. Dá-se pouca importância ao privilégio de ter araras e tucanos voando sobre nossos telhados; tamanduás e lobinhos cruzando nossos cerrados, pantanais e estradas, ainda que com risco da maldição dos atropelamentos.
Mas é exatamente por isto que os visitantes pagam (e bem!) para visitar nossos rios e se admirar com os nossos animais. Eles dão valor a natureza, pois estes recursos naturais como rios límpidos e animais abundantes são raros em suas regiões de origem, e assim tornam-se cada vez mais valorizados.
É um princípio da economia clássica: quanto mais raro mais caro.
Infelizmente, tanto o caixa do supermercado, quanto muitos “donos” e operadores do turismo regional não compreenderam inequivocamente, e menos ainda, se posicionam com clareza quanto ao fato: se a Natureza ou a qualidade da experiência que tem o visitante se deteriora, o seu valor cai.
Do Prefeito ao cidadão
Todo o esforço de anos na construção de um destino turístico de categoria mundial vai para o vinagre!
Em minha opinião, os maiores defensores da Natureza num lugar como Bonito devem ser o Prefeito (independente de quem seja) e a Câmara de Vereadores, já que teriam que zelar pelo interesse público e pelo emprego de mais de 60% dos seus eleitores que, no fim do dia, direta ou indiretamente, vivem da Natureza!
Desafortunadamente, em nosso país, a opinião da população sobre o valor da Natureza ainda é limitada e a capacidade de mobilização engatinha.
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Desafortunadamente, em nosso país, a opinião da população sobre o valor da Natureza ainda é limitada e a capacidade de mobilização engatinha. Portanto, caberia aos mais informados, por exemplo, os membros do Conselho de Turismo e de Meio Ambiente a pressionar por uma agenda de proteção à Natureza mais firme nestes municípios, com apoio irrestrito daqueles que constitucionalmente, são responsáveis pelos chamados: Direitos Difusos da sociedade.
O que está em jogo vai muito além de seus interesses diretos, posto que, além de viverem desta Natureza, serão os responsáveis por deixarmos ou não, este legado às futuras gerações, com bem falou o Papa Francisco.
O que se observa nestas cidades é uma distância inconcebível entre estes organismos e seus interesses em oposição aos interesses de seus netos. E esta distância é mantida por aqueles que não querem que a sociedade entenda que um ambiente rural sustentável — com economia, justiça social e ambiente saudável — é o único caminho a seguir. Sobretudo, uma visão míope e de curto prazo impossibilita que tenhamos benefícios tanto na qualidade de vida, quanto da experiência de nossos visitantes, todas as vezes que turvam as águas dos rios Formoso e Curé.
Isto reduz os lucros dos negócios ligados ao turismo e também afeta a viabilidade desta atividade no longo prazo. Afinal, é o turismo que cria as condições para a existência não de um, mas quatro supermercados, que pagam os salários dos seus operadores de caixa. As melhores práticas no uso e ocupação do solo não são um luxo ou uma posição ecológica xiita, mas uma necessidade!
A criação de áreas protegidas, a fiscalização e controle do desenvolvimento habitacional, o problema do lixo e do esgoto são necessidades da sociedade, um dever de cuidar de nós mesmos! Portanto, não devem ser flexibilizadas, pois comprometem a vida de todos que vivem em Bonito.
Chega de divisão entre o ambientalista e o agricultor, o comerciário e o guia de turismo, a consciência de que vivemos da natureza gera cidadãos conscientes de que sem conservação da Natureza o Bonito Desaparece!
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Prezados,
Creio que temos uma excelente oportunidade com a matéria do Pelegrini para discutir algo essencial para a proteção de áreas úmidas no Brasil e entender como e quais modelos podemos utilizar para evitar que o lucro de curto prazo destrua as possibilidades de lucros e qualidade de vida de longo prazo (vele lembrar que o Brasil é signatárioda convensão de RAMSAR de áreas úmidas).
É certo como esclarece o Sr. Milano que o processo de criação de áreas úmidas e sua valorização para a atividade de caça, pesca ou simplesmente do desfrute de ambientes selvagens e silvestres (Wilderness) nos EUA decorre de uma profunda crise ambiental principalmente pela perda de grandes áreas pela degradação agrícola. Principalmente pela perda de mais da metade do Everglades na Flórida para a cana de açucar e fruticultura, e pela contaminação do lençol freático, mas também pela perda de ecossitemas costeiros em diversas áreas da costa leste e oeste.
Em reação a perda de áreas úmidas e de espécies, foram introduzidas dua peças legais essenciais para a valorização de ambientes naturais intactos e pela restauração de ambientes degradados. Esta leis chamadas respectivamente de Lei da água limpa (Clean Water Act) e lei de espécies ameaçadas (Endagered Species Act-ESA) oportunizaram a criação de mercados para que os proprietários de areas pudessem recuperar e mater ambientes preservados através dos chamados Banco de Biodiversidade (BioBanks). Estes bancos estão findamentados na lógica de perda zero de biodiversidade (No Net Loss), e servem para compensar eventuais supressões de áreas úmidas (wetlands) e habitats de espécies ameaçadas.
É verdade todavia que como disse o Nicholas, restaurar e criar wetlands em ambientes temperados é muito mais fácil e barato (apesar de intrisecamente complicado) recriar wetlands temperadas que wetlands megadiversas. Estima-se que o custo de restauração da parte perdida dos Everglades na Florida é 20 vezes maisor que haveria sido sua conservação apropriada.
Hoje os Bancos de Biodiversidade (mais de 5 mil) são uma febre por lá e muita gente adquire áreas degradadas para restauração e venda no futuro para compensar perdas chamadas de inevitáveis (no caso de obras para o bem comum).
Quem fiscaliza estas duas leis são a EPA e o USACE (agencia ambiental e o corpo de engenheiros do exercito) e nenhuma alteração ocorre sem que sejam calculadas as perdas e as medidas mitigaatórias.
Temos no brasil hoje duas leis que poderiam fazer o mesmo, e creio que é isto que está em jogo no Brasil, a valorização destes ambientes como peças essenciais ao funcionamento de algo que é tão importante para o produtor para o turismo, e para os ambientalistas (que na realidade são tão cidadãos quanto os outros e portanto merecem respeito e água limpa como todos os outros). Hoje o código florestal e a lei do ICMS Ecológico podem ter o mesmo papel que o CWA e o ESA nos EUA, gerando recursos para quem gerencia de forma adequada seus recursos naturais.
Assim perder um banhado que beneficia a apenas umas poucas pessoas, quando poderíamos gerar recursos e benefícios para os três grupos, parece insensatez ou ignorância, certo?
Os bancos de Biodiversidade se corretamente instituidos no Brasil poderiam funcionar como mediadores entre quem tem e quem precisa compensar passivos ambientais sejam eles espécies ameaçadas, ecossistemas em risco ou cidades a beira da escassez de água. Em ambos os casos este tipo de instituição oferece segurança e garantia de equidade e qualidade nas trocas.
Finalmente lembro que Economia e Ecologia tem a mesma origem, e tratam de nosso futuro comum, NÂO o MEU, NEM o SEU, MAS do NOSSO e de nossa casa, e se não cuidamos dela, infelizmente corremos todos o mesmo risco…
Atenciosamente
Reinaldo Lourival – PhD Post Doc Fellow na UFMS e na Univ. de Queensland.
PARTE DA MATERIA!NA REALIDADE DÃO VALOR PORQUE DESTRUIRAM A NATUREZA QUE TINHAM!POR SÃO RAROS..MUITOS SÃO MUNICIPIOS RICOS E SEM SUA NATUREZA.
"Eles dão valor a natureza, pois estes recursos naturais como rios límpidos e animais abundantes são raros em suas regiões de origem, e assim tornam-se cada vez mais valorizados."
ola Beth, isto não nos livra da responsabilidade de fazermos nossa parte, não é mesmo!
Eu não coloco a minha cabeça no trilho do trem, porque alguém o fez e perdeu a sua…
Temos que aprender com os erros dos outro e ser melhor, senão o feio vence o bonito!
Precisamos compreender que nossa espécie é apenas mais uma no contexto da natureza. Precisamos e dependemos dela, como faziam os povos da floresta – autênticos conhecedores da importância dessa convivência saudável. O que fizeram com eles? Foram assassinados! Suas populações foram substituídas pelos invasores europeus que nada entendiam de convivência com florestas nativas neotropicais. Sua política era de "arraso". A cultura indígena de "convivência" foi eliminada para dar lugar a uma cultura de "conveniências" e interesses essencialmente oportunistas. Os índios deveriam ser nossos conselheiros de como usar a terra. Perdemos essa preciosa chance no século XV e nos subsequentes. Resta-nos agora que exista um mínimo de bom senso entre os invasores oportunistas – para que percebam o erro cometido. Quem sabe ainda há tempo para se salvar alguma alma invasora ou algum precioso bem natural de uma pátria chamada Brasil.
A premissa que envolve uma potencial aliança entre diferentes atores em prol do bem comum demanda, antes de tudo, de uma compreensão sobre a importância estratégica da manutenção de áreas naturais em qualquer território. Todo o viés que alterou o Código Florestal em 2012, por exemplo, demonstrou a imposição de um interesse setorial que deixou de lado o valor da natureza para impor uma condição de uso intensivo das propriedades, relegando a último plano os aspectos de conservação. Bonito, a partir de sua história recente e pelos apelos muito bem evidenciados pelo Reinaldo, poderia representar um caso a parte, alinhando negócios e conservação de maneira determinante para perpetuar as atividades de turismo de natureza – sua maior riqueza – com atividades agrícolas que respeitem os limites para não interferir num mecanismo que agrega empregos e diversifica negócios. A delimitação e o respeito a Unidades de Conservação em pontos estratégicos da região são pressupostos fundamentais para que esta agenda seja adequadamente costurada. Cabe perguntar se esta região especial cairá na vala comum da degradação irresponsável ou representará uma prática exemplar de gestão territorial em prol do coletivo e da prosperidade. Como a população de Bonito e seus gestores serão reconhecidos daqui a alguns anos mais dependerá da determinação e da habilidade de hoje em colocar a conservação da natureza numa posição de destaque nas suas estratégias de desenvolvimento.
Esse futuro de Bonito é uma metáfora ao Brasil, prezado Clovis: as Unidades de Conservação devem ser locomotivas de um processo de desenvolvimento local, um círculo virtuoso. Hoje em Bonito as propriedades à jusante deveriam reconhecer e recompensar a conservação das propriedades à montante, que garantem águas cristalinas com sua mata ciliar preservada. Um cinturão de UCs públicas e privadas – tendo como seu centro o P.N.Serra da Bodoquena e RPPNs ao redor – deveria ser estabelecido e fomentado. Neste diálogo quem deveria entrar era a prefeitura e o IMASUL. Mas estes que deveriam arbitrar as discussões entre o setor produtivo e os 'donos das fábricas de serviços ambientais' adotam uma postura passiva.
Não nos iludamo, estes impunham as bandeiras dos agrotóxicos, desse mato só sai devastação, esse é o lado agora, aquele outro que tá passando ainda permitia que os comprometidos lutasse pela causa, estes n isso querem permitir, a ordem é sufocar aniquilar, uma pena, em vez do avanço o retrocesso.
Rei, maravilhoso o texto. Ontem na minha entrevista para o dotourado, quando a Neiva perguntou o que meu projeto (de design) tinha a ver com o desenvolvimento sustentável. Eu respondi exatamente isso. Adorei. A população não tem consciência que produz produtos da natureza para a natureza e para turista. Que se não preservar não terá mais como produzir. Parabéns bjs
Eu concordo com a criação de áreas de preservação. Não só em cidades turísticas, mas em todas. Só que essas áreas tem que ser criadas com bases em estudos para que aja um melhor aproveitamento do espaço. E não de forma arbitrária… O texto expõe algo que deveria acontecer que é a interação entre produtores, donos de passeios, comerciantes e guias de turismo.
Show! Artigo claro e límpido como as águas dos rios de Bonito.
Bonitas e bonitos de Bonito apoiem a criação das unidades de conservação municipais. Defendam seu patrimônio!!!!