Mais uma onça-pintada entrou para as estatísticas de morte por atropelamento na BR 262. Encontrado no último domingo (19) pela Polícia Militar Ambiental de MS, o corpo do animal estava no trecho que conecta os municípios de Miranda e Corumbá. Com o ocorrido, subiu para 20 o número de onças-pintadas mortas por colisões com veículos na rodovia desde 2016, segundo levantamento do Instituto Homem Pantaneiro.
Conhecida como “Rodovia da Morte da Fauna”, a BR 262 é a nona maior rodovia do Brasil, com 2.213 km de extensão, que interliga Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. A estrada federal é gerida pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), principalmente no trecho que corta o Pantanal, e acumula elevados índices de atropelamento de animais.
De acordo com um estudo publicado por pesquisadores do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), entre 2017 e 2020, foram registradas 12,4 mil mortes de animais. Entre eles, 363 eram de espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada, a onça-parda, o lobo-guará, o tamanduá-bandeira e a anta. Cerca de metade desses animais era de porte grande e cerca de 90% das colisões ocorreram durante a noite, quando há maior atividade da fauna e menor visibilidade da pista.


E por mais trágico que o número pareça, a realidade é mais cruel que a contabilizada – a estimativa é que menos da metade dos animais mortos entram nas estatísticas. A maioria deles, ferida pelas colisões, tenta fugir do local e morre minutos depois, já longe da rodovia, dificultando o encontro dos corpos. Para além disso, a frequência dos acidentes também assusta: a cada três dias, dois tamanduás-bandeira morrem somente no trecho da BR-262 que liga Aquidauana a Corumbá, o que tem reduzido pela metade o crescimento de sua população.
O projeto Bandeiras e Rodovias, também desenvolvido pelo ICAS, apresentou que de maio de 2023 a abril de 2024 foram encontrados 2,3 mil animais vítimas de colisões no trecho de Campo Grande até a ponte do Rio Paraguai, cerca de 350 km de estrada, abrangendo os biomas Cerrado e Pantanal. Entre as espécies mais atingidas estão: tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato.
Instituições protestam
Em de maio de 2023, o Instituto SOS Pantanal coordenou a realização de um protesto realizado em frente à sede do DNIT, junto com outras quatro entidades: Chalana Esperança, Espaço Silvestre, Instituto LiBio e Fridays for Future. O protesto reuniu elementos como a exposição de carcaças de animais vitimados por atropelamentos ocorridos no trecho que liga Campo Grande a Corumbá.
Segundo o Instituto, o “tratamento de choque” para escancarar a urgência de implantação de medidas preventivas surtiu efeito. Em 2024 foi aprovado o Plano de Mitigação, elencando uma série de ações que visam diminuir o risco de colisões. A iniciativa prevê a realização de obras como: cercamento de trechos da estrada; construção de passagens inferiores e superiores de fauna; e a instalação de novos radares e redutores do excesso de velocidade, um dos principais fatores para o elevado registro de atropelamentos. O IHP reclama, porém, que embora tenha se avançado no plano, as consequências foram “tímidas até o momento”.
Leia também

Menos de um ano depois de voltar à natureza, loba-guará Pequi morre atropelada
Reintegrada à natureza em abril deste ano, Pequi foi atropelada na noite de quarta-feira (13), em Goiás, ao tentar atravessar uma rodovia →

Acaba em breve consulta pública sobre plano contra atropelamentos de fauna em São Paulo
Quase 7,7 mil colisões com animais ocorreram no estado no ano passado, perfazendo uma média de 21 acidentes diários →

Macaco na pista! Brasil é o segundo país que mais atropela primatas no mundo
Base de dados global compila ocorrências de atropelamentos de primatas. Brasil soma 788 registros, a maioria deles na região sudeste e na Mata Atlântica →