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De olho na COP: iniciativa acompanha de perto a cobertura dos preparativos do evento

Observatório põe notícias do evento global de mudanças climáticas, que este ano será realizado no Brasil, na lupa do jornalismo ambiental

18 de agosto de 2025
  • Nico Costamilan

    Estudante de Jornalismo da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e bolsista de extensão do Observatório de Jornalismo Ambiental, vinculado ao Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

  • Eloisa Beling Loose

    Professora e pesquisadora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS) e coordenadora do Laboratório de Comunicação Climática (CNPq/UFRGS). Doutora em Comunicação pela UFRGS e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR (Universidade Federal do Paraná).

No ano de preparações para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), a primeira vez que ela será sediada no Brasil, o evento e seus desdobramentos se tornaram pauta constante na mídia: obras estruturais, crise no setor hoteleiro, participação popular, contradições políticas internas e investimentos milionários. Em meio a airbnb’s por centenas de milhares de reais e delegações desistindo de integrar a conferência, pautas ambientais impulsionadas pelo evento se perdem entre as informações noticiadas. Observar a cobertura do maior evento climático mundial é também promover uma série de reflexões necessárias aos jornalistas – e aos seus públicos. A três meses da COP, o que o jornalismo põe em destaque? E por quais razões?

Para acompanhar o desenrolar da cobertura da COP30, ponto de referência para o enfrentamento climático, o Observatório de Jornalismo Ambiental tem uma nova seção quinzenal, impulsionada pelo Laboratório de Comunicação Climática da UFRGS e PET Educom Clima da UFSM. A iniciativa “De olho na COP”é um esforço coletivo de pesquisadores na área para discutir as informações que circulam no campo jornalístico acerca dos desafios e potencialidades da COP-30.

Os textos publicados no Observatório de Jornalismo Ambiental constituem críticas midiáticas, que atuam em uma relação estreita com o fortalecimento da democracia e da cidadania, de modo a avaliar a imprensa para incentivar uma pedagogia crítica do público. Além de tentar trazer novos olhares para a cobertura, esse trabalho busca  provocar os consumidores de notícias a uma leitura mais crítica da produção dos meios de comunicação, implicando  uma demanda por parâmetros mais alinhados ao cuidado ambiental no jornalismo.

Questionar discursos sobre a COP-30 à medida que estão sendo construídos e apresentados aos públicos permite que os profissionais da comunicação sejam incentivados a produzir conteúdos, matérias e reportagens cada vez mais aprofundadas e coerentes com a realidade ambiental brasileira. De outra forma, leitores aprendem mais sobre os mecanismos da lógica jornalística e as disputas existentes no campo ambiental.

Publicado no início de julho pelo “De olho na COP”, a análise “O valor da hospedagem em pauta: Quais são as implicações para o enfrentamento climático?”, de Letícia Pasuch e Eloisa Loose, já tratava dos desafios acerca da hospedagem em Belém. As autoras verificaram a abordagem do assunto pelos veículos O Globo, Estadão, UOL, Folha de São Paulo, Sumaúma e Brasil de Fato, e observaram que os desafios logísticos da COP-30 em Belém foram  principalmente  relacionados à crise diplomática e à imagem internacional do Brasil.

Nesse texto, é indicado que as reportagens, muitas vezes, minimizam a questão da hospedagem, reforçando a ideia de que a importância simbólica de sediar o evento na Amazônia superaria os problemas de infraestrutura. Essa narrativa priorizou a tensão entre o setor hoteleiro e o governo, enquanto a imprensa alternativa e alguns poucos veículos da mídia hegemônica deram atenção às implicações financeiras e sociais – em algumas reportagens, o debate trouxe as consequências da ausência de atores-chave, como países em desenvolvimento, ativistas e a sociedade civil brasileira.

A crítica da cobertura jornalística ambiental apresentada traz os limites de uma lógica estruturada sob o “agora”, que dificulta  enquadramentos sistêmicos. O texto reflete sobre a própria lógica jornalística de escolher o que é notícia a partir do assunto mais recente, ao invés de tratar temas de forma integral – preferindo contexto e aprofundamento.

Publicado no início de agosto, o texto “No prato e na pauta: a importância da agricultura familiar no debate da COP-30”, de Jéssica Thaís Hemsing e Cláudia Herte de Moraes, discute a presença no cardápio da conferência de alimentos oriundos de agricultura familiar e de povos e comunidades tradicionais e a abordagem jornalística do tema. As autoras questionam a medida além do seu simbolismo, mas como um ponto de partida para um compromisso histórico com a valorização da agricultura familiar, da agroecologia e mitigação das mudanças climáticas pela agricultura sustentável.

No texto, as autoras observaram a falta de repercussão do assunto na mídia, e analisaram as recentes publicações da revista Veja e do jornal independente Brasil de Fato. Segundo a análise, a relação da crise climática com a agricultura familiar é um assunto que merece centralidade nas discussões da COP, mas que aparece invisibilizado na cobertura da cúpula.

Também discutindo a visibilidade de pautas na cobertura do evento, o texto “Os desafios do Brasil como anfitrião: expectativas internacionais e contradições internas expostas” , publicado no final de julho, de Fernanda Vargas e Alice Balbé, trata da repercussão internacional de recentes contradições políticas brasileiras com a preservação do meio ambiente. Entre elas, a confirmação da construção da gigantesca estrada de quatro faixas pela Floresta Amazônica, o leilão de blocos de exploração da Agência Nacional do Petróleo (ANP) meses antes da COP-30, e a aprovação no congresso da Lei do Licenciamento Ambiental.

As autoras observam manifestações de veículos como o alemão Deutsche Welle, os portugueses O Público e Rádio Comercial, o espanhol El País e o britânico The Guardian. A partir disso, o texto explica que o Brasil se tornou alvo de críticas da imprensa internacional pelo contraste entre o discurso diplomático de protagonista de ações contra a mudança do clima, e as políticas internas de devastação no país. A partir dos espaços de cobertura jornalística, as possibilidades e contradições da COP-30 no Brasil se mostram fonte de diversos e necessários debates sobre os desafios políticos e econômicos das mudanças climáticas.

A iniciativa segue até o final do ano. O projeto “De olho na COP” é divulgado nos perfis das instituições no Instagram: Laboratório de Comunicação Climática (@comclima.ufrgs ), PET Educom Clima (@peteducomclima) e Grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental (@jornalismoemeioambiente). Os textos também podem ser acessados no site do Observatório de Jornalismo Ambiental, em: https://jornalismoemeioambiente.com/observatorio/.

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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