Fotografia

Em fotos: Parque Nacional Cavernas do Peruaçu é novo patrimônio natural da humanidade

Cânion localizado no Parque, que fica no norte de Minas, é a nona área brasileira reconhecida pela Unesco. Em 2024, Lençóis Maranhenses também foram reconhecidos

Daniele Bragança ·
14 de julho de 2025

A Unesco declarou o Cânion do Peruaçu, localizado no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, como Patrimônio Natural da Humanidade. A decisão foi tomada por unanimidade na tarde deste domingo (13), durante a 47ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, realizada na sede da organização, em Paris. Formado por representantes de 20 países, o grupo destacou a beleza cênica e a singularidade do local como critérios determinantes para o reconhecimento internacional.

Esta é a nona área no país a ser reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural da Humanidade – a segunda em menos de um ano. Em julho de 2024, Lençóis Maranhenses também conquistaram o título. “Trabalhamos intensamente para elaborar, em tempo recorde, um dossiê técnico robusto sobre o Cânion do Peruaçu para a Unesco”, afirmou Bernardo Issa, coordenador-geral do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, em entrevista ao ((o))eco logo após a decisão do comitê.

O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu foi criado em 1999 e possui uma área de 56.448 hectares, que compreende os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, na região norte de Minas Gerais, em uma área de transição entre Cerrado e Caatinga. A área reconhecida pela Unesco, o Cânion do Peruaçu, possui 38.003 hectares de extensão. Uma parte do parque onde vive o povo Xakriabá não foi apresentada no processo na Unesco porque as lideranças, que lutam pela demarcação, disseram não ao serem perguntados na consulta prévia, livre e informada. “Essa foi uma das questões que poderia barrar o reconhecimento da área, mas os países entenderam que ao retirar ⅓ da área da delimitação, estávamos respeitando a decisão dos Xakriabá”, explica Issa. 

Segundo o coordenador, o Parque também possui capacidade de entrar na lista da Unesco como patrimônio cultural ou misto, que une o natural e o cultural, por causa dos registros de antiga ocupação humana no local, eternizadas nas pinturas rupestres presentes nas cavernas.“É um lugar único do mundo e um parque muito bem equipado para receber turistas, de forma limitada, com conselho consultivo instituído e atuante, uma gestão forte e população que vive dentro e no entorno do parque engajada pela preservação dele”, diz Bernardo Issa. “O reconhecimento da Unesco vai poder transformar a região em um polo de desenvolvimento local de uma forma mais integrada, já que essa joia estava ali, escondida e agora ela ganhou os olhos do mundo”, comemora. 

Com a inclusão do Cânion do Peruaçu, o Brasil passa a contar com nove áreas reconhecidas como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco. Além do novo sítio em Minas Gerais, integram a lista: Lençóis Maranhenses (MA), Pantanal (MT/MS), Amazônia Central (AM), Costa do Descobrimento (BA/ES), o conjunto das Ilhas Atlânticas (Fernando de Noronha e Atol das Rocas), Parque Nacional do Iguaçu (PR), Vale do Ribeira (PR/SP) e o complexo formado pela Chapada dos Veadeiros e Parque das Emas (GO).

O fotógrafo Lucas Nino esteve em Peruaçu em maio de 2024 e janeiro de 2025. Veja as belezas do mais novo Patrimônio Natural da Humanidade:

A vista aérea da entrada da Lapa do Rezar permite compreender a história geológica do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A vegetação densa do cerrado e suas raízes profundas fraturam o calcário e facilitam a infiltração da água da chuva. A dissolução dessa rocha, por sua vez, acaba causando derrubamentos, que formam as cavernas e vales da região. Foto: Lucas Ninno
Um turista é iluminado pela luz vinda de um das clarabóias no alto da Gruta do Janelão. Em algumas partes da caverna, fatravessada pelo Rio Peruaçu, o “teto” chega a 100m de altura. Foto: Lucas Ninno
Em uma noite estrelada, o biólogo Leonardo Quaresma ilumina uma das claraboias da Gruta do Janelão, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A paisagem subterrânea dessa região se forma pela ação contínua das águas do cerrado sobre o calcário, dissolvendo a rocha e provocando desabamentos ao longo de 600 milhões de anos. Foto: Lucas Ninno
Alguns painéis de arte rupestre podem alcançar 10-15 metros de altura, intrigando visitantes sobre como os habitantes antigos chegaram a lugares tão altos. A resposta é mais simples do que parece: ao longo das eras a vegetação mudou muito e em locais como este, provavelmente haviam árvores altas próximas ao paredão, por onde os artistas escalavam. Foto: Lucas Ninno
Um Sagui-de-tufos-pretos, pequeno primata presente no cerrado, descansa sobre um galho na mata. Foto: Lucas Ninno
Os espeleotemas do Parque Nacional do Peruaçu podem alcançar formas incríveis como esta, que ganhou o apelido de “cogumelo”. Foto: Lucas Ninno
As cavernas são ambientes de risco até mesmo para alguns animais, como essa ave Juriti, que se perdeu na Lapa do Rezar e nunca achou a saída. A foto usa uma técnica de light painting, iluminando a carcaça do animal com um laser. Foto: Lucas Ninno
O Arco do André é um dos pontos mais impressionantes do Parque Nacional do Peruaçu e também uma das maiores travessias, uma caminhada de nível difícil, com aproximadamente 11km de extensão. Foto: Lucas Ninno
Uma serpente conhecida como Azulão Boia captura uma Perereca-cabeçuda. Comum no Peruaçu, estas cobras não possuem veneno, mas são ágeis caçadoras. Em um lento processo de deglutição, podem demorar até 15 minutos para engolir completamente animais como este. Foto: Lucas Ninno
O Lobinho, também conhecido como Cachorro-do-mato, é um dos canídeos possíveis de avistar nas trilhas do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Foto: Lucas Ninno
A maior parte do Peruaçu é coberta por um grande manto de rocha calcária, que em alguns pontos “aflora”e fica exposta entre a vegetação. Foto: Lucas Ninno
A arte rupestre do Peruaçu mistura figuras de animais, representações humanas e padrões como linhas e trançados nas cores vermelha, preta, amarela e branca. Foto: Lucas Ninno
Em uma noite estrelada, o biólogo Leonardo Quaresma ilumina uma das claraboias da Gruta do Janelão, no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. A paisagem subterrânea dessa região se forma pela ação contínua das águas do cerrado sobre o calcário, dissolvendo a rocha e provocando desabamentos ao longo de 600 milhões de anos. Foto: Lucas Ninno
Em alguns paredões como este, as figuras rupestre se acumulam e estão sobrepostas, mostrando que o abrigo já foi habitado por diferentes grupamentos humanos ao longo de milhares de anos. Foto: Lucas Ninno
O biólogo e guia de cavernas Leonardo Quaresma atravessa a Lapa do Cascudo, gruta que faz parte do circuito do Arco do André, uma das travessias mais desafiadoras do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Foto: Lucas Ninno
A representação de uma figura humana é uma das pinturas que mais chama atenção no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Estima-se que a arte rupestre encontrada nos paredões de calcário tenham entre 2.000 e 12.000 anos, e foram realizadas por grupos de coletores e caçadores de diferentes períodos históricos. Foto: Lucas Ninno
Gruta do Janelão. Crédito: Lucas Ninno
  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

Leia também

Notícias
13 de fevereiro de 2017

Unesco mantém título de Reserva da Biosfera ao Pantanal

Após 15 anos sem ações, governos de MT e MS foram acionados pelo MMA e por ONGs para não perderem a chancela concedida pela Unesco

Salada Verde
26 de julho de 2024

Unesco reconhece Parna dos Lençóis Maranhenses como Patrimônio da Humanidade

Beleza cênica e fato de os Lençóis Maranhenses serem um fenômeno natural único no mundo levaram organização a conceder o título

Notícias
4 de dezembro de 2025

Quase a metade dos ambientes aquáticos do mundo está gravemente contaminada por lixo

Estudo de pesquisadores da Unifesp sintetizou dados de 6.049 registros de contaminação em todos os continentes ao longo da última década

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.