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Newsletter O Eco+ | Edição #139, Março/2023

Conflitos ressuscitados, Boipeba e tábuas de salvação para onças

Newsletter O Eco+ | Edição #139, Março/2023

19 de março de 2023

Entre as décadas de 1970 e 1980, os 14 mil hectares da Fazenda Bordon — hoje, Fazenda Soberana — foram um dos palcos da resistência dos seringueiros acreanos pelo direito de permanecer em suas “colocações” durante a política de ocupação da região pela ditadura militar. Uma das áreas de conflitos por terra na Amazônia que resultaram na morte de lideranças como Wilson Pinheiro e Chico Mendes, a Fazenda volta a protagonizar disputas entre os grandes donos de fazendas com extrativistas e pequenos agricultores. Fabio Pontes mergulha na nova configuração deste embate: se há 40 anos os fazendeiros vindos do Sul e Sudeste do país chegavam à Amazônia com a missão de derrubar a floresta para transformá-la em pasto para o gado, em 2023 os conflitos com os moradores tradicionais acontecem com uma nova e inusitada justificativa: a preservação ambiental. 

No início deste mês, o Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) da Bahia autorizou a implantação do empreendimento Ponta dos Castelhanos, um projeto turístico-imobiliário da Mangaba Cultivo de Coco que demandaria o desmate de quase 19% da ilha de Boipeba. ONGs, população e pesquisadores criticam a autorização, pois prejudicaria a Mata Atlântica, a vida de populações tradicionais e o acesso público às praias. Para o deputado Hilton Coelho (PSOL), a licença submete o desenvolvimento socioeconômico da ilha a vultosos investimentos privados em detrimento da proteção da Mata Atlântica, da cultura e dos direitos de povos tradicionais. “A licença é um absurdo. Está afrontando tudo isso”, ressalta. Aldem Bourscheit escreve sobre a proposta legislativa apresentada pelo parlamentar, que pretende derrubar a licença ambiental.

Também é de Aldem a cobertura de estudo publicado recentemente na revista Nature, que revela as unidades de conservação e as terras indígenas mais importantes para populações de onças-pintadas (Panthera onca) na Amazônia brasileira. “O estudo reforça a importância dessas terras para proteger a biodiversidade e as confirma como santuários para onças e outras espécies”, destaca Marcelo Oliveira, líder do Programa de Proteção de Espécies Ameaçadas da ONG WWF-Brasil e um dos co-autores do trabalho. Alvos de crimes como desmatamento e extração de ouro, essas áreas prioritárias, que abrigam cerca de 13% de todas onças-pintadas em terras protegidas na Amazônia brasileira, merecem atenção urgente do poder público.

Boa leitura!

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Redação ((o))eco

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· Conservação no Mundo ·

A resposta sempre esteve ali. No final de 2022, o Encontro Internacional Co-Patrocinado sobre Cultura, Patrimônio e Mudanças Climáticas, órgão de pesquisa patrocinado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou quatro relatórios que destacam que o patrimônio cultural humano desempenha um papel fundamental na compreensão das causas e impactos das mudanças climáticas e na elaboração de respostas. Povos indígenas e comunidades locais que se beneficiam de séculos de conhecimento trabalhando em estreita colaboração com a terra muitas vezes interagem com seu ambiente de maneiras que revelam profundas inovações e ferramentas ecológicas que podem beneficiar a resiliência climática e as iniciativas de mitigação. Ao mesmo tempo, muitas dessas ideias e as pessoas que as transmitem de geração em geração estão sob ameaça de um conjunto de fatores: as próprias mudanças climáticas, a pobreza, a rápida urbanização, e políticas que falham em reconhecer os direitos à terra ou em conceder acesso à recursos. [Mongabay]

 


 

Saiba o que está respirando. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que a poluição do ar causa mais de 4 milhões de mortes prematuras anuais em todo o mundo. Ainda assim, esse grande problema de saúde pública não é medido extensivamente. Com isso em mente, uma equipe de pesquisa do Massachusetts Institute of Technology (MIT) lançou uma versão de código aberto do Flatburn, um detector de poluição móvel de baixo custo que pode permitir que as pessoas rastreiem a qualidade do ar de forma mais ampla. O detector pode ser feito por impressão 3D ou pela encomenda de peças baratas. “O objetivo é que grupos comunitários ou cidadãos individuais em qualquer lugar possam medir a poluição do ar local, identificar suas fontes e, idealmente, criar ciclos de feedback com autoridades e partes interessadas para criar condições mais limpas”, diz Carlo Ratti, diretor do laboratório Senseable City do MIT. [ScienceDaily]

 

· Animal da Semana ·

O animal da semana é a saíra-apunhalada!

Sua população é estimada em 11 indivíduos. A saíra é considerada uma das aves mais ameaçadas do mundo e, consequentemente, também uma das mais raras.

Seu habitat é restrito a uma faixa de Mata Atlântica de altitude de aproximadamente 400 hectares nas montanhas no Espírito Santo e, desde 2016, pesquisadores atuam para garantir a sobrevivência da espécie.

Uma das estratégias adotadas pela equipe do Instituto Marcos Daniel (IMD), que coordena o programa de conservação da ave, é identificar e proteger os ninhos das saíras-apunhaladas.

🎨 Gabriela Güllich (@fenggler)

· Dicas Culturais ·

• Pra assistir •

Biocêntricos (2022) | Fernanda Heinz Figueiredo, Ataliba Benaim

Através dos olhos e da voz da bióloga Janine Benyus, o filme percorre diversos cantos do planeta para revelar o nascimento e os princípios da biomimética, uma metodologia de inovação inspirada na natureza que coloca a vida no centro.

Ingresso

• Pra ouvir •

Mulheres na Conservação | Mulheres na Conservação 

O Mulheres na Conservação é uma iniciativa multiplataforma (podcast, vídeos no YouTube e matérias especiais) na qual são relatadas as trajetórias de mulheres pesquisadoras que se destacam pelo empenho e liderança em projetos de conservação ambiental no Brasil. Idealizado pela jornalista Paulina Chamorro e pelo fotógrafo João Marcos Rosa, o projeto teve início em janeiro de 2020 e conta com o apoio da Fundação Toyota do Brasil.

Confira todos os conteúdos da iniciativa: podcasts no Spotify, vídeos no YouTube, além de reportagens no site da National Geographic e também no site do CicloVivo.

Spotify

• Pra ler •

Futuro Ancestral (2022) | Ailton Krenak

A ideia de futuro por vezes nos assombra com cenários apocalípticos. Por outras, ela se apresenta como possibilidade de redenção, como se todos os problemas do presente pudessem ser magicamente resolvidos depois. Em ambos os casos, as ilusões nos afastam do que está ao nosso redor. Nesta nova coleção de textos, produzidos entre 2020 e 2021, Ailton Krenak nos provoca com a radicalidade de seu pensamento insurgente, que demove o senso comum e invoca o maravilhamento. Diz ele: “Os rios, esses seres que sempre habitaram os mundos em diferentes formas, são quem me sugerem que, se há futuro a ser cogitado, esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.”

Companhia das Letras

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