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Carta – Verde Para Sempre até quando? IV

De Marcos Sá Corrêa e Manoel Francisco BritoCaro José Augusto,Suas críticas publicadas na Caixa Postal de O Eco merecem resposta. Primeiro, por...

Redação ((o))eco ·
20 de agosto de 2006 · 18 anos atrás

De Marcos Sá Corrêa e Manoel Francisco Brito

Caro José Augusto,

Suas críticas publicadas na Caixa Postal de O Eco merecem resposta. Primeiro, por sermos amigos. Mas, também, porque sempre tentamos afinar nossas opiniões pela clareza de suas idéias e o rigor de suas análises. E, sobretudo, porque lhe devemos, e não é de hoje, uma noção mais ou menos razoável do que seria a tal rede múltipla de conservação, tecida ao redor dos constituintes de 1988 por ambientalistas sinceros, como você.

O que se queria na época era complementar as clássicas unidades de uso indireto, como os parques nacionais, com reservas extrativistas e territórios indígenas. E não substituí-las. Mas não foram só os homens públicos e os partidos políticos que se corromperam no Brasil de lá para cá. Os projetos originais do regime civil, também. E isso, a nosso ver, fica notório sempre que a prioridade interesseira, conferida pelos políticos às reservas extravistas e aos territórios indígenas , serve para invadir ou mutilar parques nacionais, e não para ampliar a fronteira da conservação para dentro dos pastos e campos de soja, que devastam o país em geral e a Amazônia em particular.

É o que ameaça ocorrer agora no Parque Nacional do Jaú. E aconteceu recentemente em vários exemplos relatados neste site pelo biólogo Fábio Olmos. Portanto, cabe uma pergunta: quando isso acontece, de quem lhe parece que partiram as hostilidades de um modelo de conservação contra o outro? Dos ambientalistas que subverteram a política ambiental, usando para dividir e encolher o que foi criado para somar e expandir? Ou dos jornalistas que noticiam esses atentados?

Não fomos nós, d’O Eco, que generalizamos, ao tratar das reservas extrativistas. O governo Lula generalizou-as, ao adotar o que era secundário como instrumento primordial de sua política para o meio ambiente, como disse com todas as letras a ministra Marina Silva na abertura do IV Congresso de Unidades de Conservação, em 2004. O mesmo congresso em que, por sinal, o biólogo Carlos Peres contou, a um auditório lotado por quase duas mil pessoas, a saga dos castanheiros que, num século de extrativismo, transformaram um produto florestal que os brasileiros chamam de “castanha do Pará” e o mundo conhece como “Brazil” num artigo cuja presença no mercado internacional é hoje garantida, sobretudo, pelas árvores remanescentes da Amazônia peruana. Os jornalistas podem não ter as credenciais para questionar a inata vocação ambiental do extrativismo, pelo menos se ela for confiada exclusivamente aos costumes das chamadas populações tradicionais. Mas o professor Carlos Peres tem títulos de sobra para isso, inclusive como filho de um exportador de castanhas. Mas sequer sua advertência foi ouvida pelas autoridades de Brasília.

Você tem toda a razão aos dizer que jornalistas não devem generalizar. Um dos fundamentos da linha editorial adotada aqui em O Eco é generalizar o menos possível e preferir a reportagem ao panfleto. No caso da Verde Para Sempre, o que se publicou era, antes de mais nada, o resultado de uma avaliação técnica de seu impacto ambiental feita pelo Imazon, fonte para lá de idônea de notícias sobre o assunto. Mas sem perder de vista que o instituto começou pela Verde Para Sempre um estudo geral sobre o efeito das reservas extrativistas na Amazônia sobre a preservação da floresta. Logo, essa avaliação tende a generalizar-se, queira O Eco ou não. Se, no fim do processo, os pesquisadores concluírem que o novo modelo de conservação da Amazônia funciona bem, o site tratará essa boa notícia com toda consideração, como tem tratado invariavelmente as boas notícias que lhe chegam ou que seus repórteres vão em qualquer lugar do Brasil. Mas, no dia em que as notícias forem ruins e não pudermos publicá-las para preservar a harmonia no front ambiental, francamente não saberemos mais dizer o que estamos fazendo aqui.

Afetuosamente,

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