Prof. Roberto Schaeffer – Professor Associado do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ. Doutor em Política Energética pela Universidade da Pensilvania, EUA, foi um dos Autores-lideres do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima da ONU (IPCC), lançado em 2007.
2007 foi o ano em que a meia-noite para as mudanças climáticas globais finalmente chegou, e com isso a carruagem onde a problemática do efeito estufa viajava virou abóbora.
2007 foi o ano que, com a divulgação do Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental de Mudanças Climática da ONU (IPCC), finalmente a seriedade, e a urgência, do fenômeno das mudanças climáticas passou a ser do conhecimento dos corações e mentes da sociedade e dos governos de todos os países do mundo.
2007 foi o ano em que os cientistas comunicaram muito claramente, que se tem não mais do que uma ou duas décadas, no máximo, para se reverter um processo em andamento, através da redução substantiva das emissões de gases de efeito estufa a partir da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento, para com isto se estabilizar a concentração destes gases na atmosfera em níveis considerados seguros.
Se bem entendida a mensagem passada pelos cientistas, 2007 talvez possa ter sido o ano, a partir do qual, o homem passou a cuidar, de fato, da saúde do único planeta que lhe está disponível, no momento, para continuar a sua saga civilizatória.
Sérgio Besserman – mestre em economia e professor da PUC-Rio. Entre outros cargos, ocupou a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 1999 e 2002. Atualmente é Presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.
O grande historiador do século XX, Eric Hobsbawm, considerou o século XX como o século breve, porque teria começado em 1914 com a Primeira Grande Guerra e terminado em 1989 com a queda do muro de Berlim. Alguns, com base nessa imagem, precipitaram-se e disseram que o século XXI teria começado no dia 11 de setembro de 2001, por conta do atentado às torres gemeas em Nova York. Não é o caso, teremos certamente muitas tragédias causadas pelo terror, mas não serão esses ecos do passado que irão caracterizar a agenda das próximas décadas.
O século XXI começou no dia 2 de fevereiro de 2007, não porque nessa data foi divulgado o relatório do IPCC, o Painel Intergovernamental Para Mudança Climática, recém agraciado com o prêmio Nobel da Paz. Afinal, não há nele novidades científicas, apenas uma maior segurança nas estimativas e um grau maior de detalhe.
O século XXI começou no dia 2 de fevereiro desse ano porque nessa data ocorreu pela primeira vez na história da civilização um processo político e cultural inteiramente novo. Em todas as cidades da terra, em todos os cantos do planeta, algo que não existia surgiu, a opinião pública mundial, a semente da sociedade civil planetária. Todas as pessoas “antenadas” do mundo pararam e prestaram atenção, através de diferentes midias, ao relatório de uma rede global de cientistas trabalhando para a ONU sobre o aquecimento global. E depois reagiram e não pararam mais.
A história do século XXI é essa. Criar um novo desenvolvimento que seja consistente com os limites dos bens e serviços que a natureza do planeta renova e nos oferta. Valorar nas contas nacionais e na contabilidade de custos das empresas esses serviços. Conscientemente colocar o caráter ecologicamente deletério do capital em escala planetária sobre controle e regulação democrática. A Mudança Global do Clima é uma janela da história. Viva o ano de 2007, o ano em que o século XXI nasceu!
Humberto Ribeiro da Rocha – Professor Associado Departamento de Ciências Atmosféricas/IAG/Universidade de São Paulo
2007 foi marcado por dois fatos muito relevantes no assunto das Mudanças Climáticas. O primeiro, no início do ano, no relatório AR4 do IPCC, salienta a fortíssima afirmação de que “as mudanças do clima são inequívocas”. O segundo, no final do ano, na reunião da Conferencia das Partes em Bali, de que os Estados Unidos concordam em participar de um plano comum de metas de redução, a ser definido até o fim de 2009.
O primeiro fato decorre de um corpo de resultados científicos que pouco difere dos relatórios anteriores do IPCC, mas expressa uma opinião de que praticamente sumiram as incertezas quanto às mudanças do clima. O que ainda não se sabe muito bem é em quanto tempo as mudanças podem tornar-se perigosas. O cenário que envolve o termo “perigosas” situa-se em um limiar de aumento da temperatura ao redor de 2 graus, que poderia ocorrer na escala de 20 a 50 anos do presente, período de tempo este que portanto ainda não está exatamente demarcado.
O segundo fato relaciona-se à posição da sociedade em “cumprir a ciência”, ou seja, tomar medidas que visem à mitigar, amenizar, e/ou se adaptar aos efeitos perigosos reportados sobre as mudanças do clima. Há uma série de resistências de porquê estas medidas não evoluem com facilidade, mas de certa forma a maioria delas tem uma origem comum, que é o enfraquecimento de mercados poluentes como a produção de petróleo, gás e carvão, e todas as ramificações industriais que delas dependem. Embora poucos divulguem, o Brasil tem um pézinho nessa responsabilidade, que é o elevado consumo de óleo diesel no transporte rodoviário por caminhões. No entanto a maior responsabilidade brasileira, no momento, é reduzir as taxas de desmatamento na Amazonia e no Cerrado, mas parece que o encargo e responsabilidade de uma ação nesse sentido são fortes demais para que nossos governos queiram assumir metas.
Leia o que foi publicado sobre o tema em O Eco:
O acordo de Bali – Sergio Abranches (16/12/2007)
Relatório político – Sergio Abranches (07/04/007)
Nem tudo foi dito – Manoel Francisco Brito (09/02/2007)
Excelência em eficiência – Entrevista com Roberto Schaeffer (02/05/2007)
Admirável mundo novo – Fabio Olmos e João Teixeira da Costa (01/02/2007)
O poder da palavra – Andreia Fanzeres (01/02/2007) (especial IPCC, com várias matérias)
As últimas de Bali – Gustavo Faleiros
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