Conservação
Maria Tereza Jorge Pádua – Fundadora da Funatura, integra o Conselho da Fundação O Boticário e da Comissão Mundial de Parques Nacionais da UICN. Foi diretora de Parques Nacionais por 14 anos e presidente do Ibama em 1992.
Realizou-se de 17 a 21 de junho de 2007 o V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, em Foz do Iguaçu, no estado do Paraná. Este evento, que contou com 1.800 participantes, sendo a grande maioria de estudantes, guardas e gerentes de unidades de conservação, diferencia-se dos demais, por vários motivos: i. Congrega os maiores especialistas no assunto das Américas; ii. Os conferencistas são os mais conhecidos e famosos no ramo dos “parquistas”; iii. Durante o próprio Congresso os participantes já têm à sua disposição os anais do mesmo, que são conferências ou artigos da maior atualidade e profundidade técnica, sobre as unidades de conservação;iv. Os participantes tiveram a oportunidade de visitar um dos Parques Nacionais mais antigos e bem manejados do país: o Parque Nacional do Iguaçu e ainda o seu contíguo na Argentina. Este Congresso é obra da Rede Nacional pró Unidades de Conservação e da Fundação o Boticário de Proteção à Natureza. O V Congresso teve ainda suporte do MMA e do IBAMA, com participação de inúmeros funcionários dos mais diversos escalões.
Leia aqui o artigo na íntegra.
Amazônia
Paulo Moutinho – Coordenador-geral do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)
Angústia e esperança. Esta combinação, por mais estranha se pareça, resume o ano de 2007 para a Amazônia. Angustia pelo fato de estarmos ainda assistindo a destruição da floresta em larga escala, destruição esta que continua gerando conflitos sociais e pouca perspectiva econômica para o povo amazônico. Angústia maior pelas intenções políticas contrárias a busca de valorização da floresta amazônica, como é o caso da discussão apressada sobre Código Florestal no Congresso Nacional ou sobre obras de infra-estrutura na região. Mas, esperança por estarmos mais conscientes do papel da Amazônia para o equilíbrio climático do planeta. Esperança ainda devido às perspectivas de que este papel seja reconhecido e compensado pela comunidade internacional, como indicou a última reunião da ONU sobre clima neste final de ano. Finalmente, esperança por sermos potencialmente capazes, como país, de alcançarmos a governança sobre o desmatamento na região e suas conseqüentes mazelas, entre elas a violência rural, o desmatamento ilegal e a falta de perspectivas econômicas em bases sustentáveis.
Caatinga
Paulo Pedro de Carvalho – coordenador do Programa de Políticas Públicas da ONG Caatinga e Ponto Focal Nacional da Sociedade Civil no Programa Nacional de Combate à Desertificação
No Semi-Árido, as preocupações mais fortes são a degradação da Caatinga e a desertificação, pois comprometem a biodiversidade e vida das populações. Frente a essa realidade, o governo e o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tem ações ainda muito tímidas para conservar recursos naturais e prover o desenvolvimento humano. As ações de combate à desertificação do MMA são referenciais para ações mais amplas em todo o bioma, como zoneamentos e planos estaduais, somando 13 projetos apoiados em nove estados. Mas a grande maioria delas está no nível de planejamento e de delineamento de estratégias, poucas atingiram as bases, onde estão as populações mais vulneráveis aos problemas ambientais. Para 2008, a perspectiva é de mais recursos para ampliar o trabalho.
Cerrado
Ricardo Bomfim Machado, D.Sc. – Coordenador de Programa Cerrado-Pantanal da Conservação Internacional
O ano de 2007 foi para o Cerrado como 2001 foi para a geração de energia elétrica: um verdadeiro apagão, só que ecológico. Ações concretas em prol da proteção do bioma ficaram a desejar. No âmbito governamental, registra-se apenas a criação de uma reserva extrativista, de 11.900 hectares, no Maranhão. Propostas voltadas para a criação de unidades de conservação não faltaram, pois diversas ONGs e instituições de pesquisa submeteram sugestões e estudos técnicos, quase sempre a pedido do próprio governo. Durante a inércia do Estado, a sociedade lançou importantes iniciativas. A Fundação Boticário criou uma RPPN de 8.700 hectares na região da Chapada dos Veadeiros. A Conservação Internacional e a Oreades, juntamente com a Bunge, lançaram uma Aliança em prol da conservação da biodiversidade em terras privadas. O Ministério de Ciência e Tecnologia, o MMA, a Universidade de Brasília e instituições como a Embrapa, Universidade de Goiás e UFMG, lançaram a ComCerrado. Trata-se de uma rede de cooperação em ciência e tecnologia para a conservação e o uso sustentável do Cerrado. Mas enquanto as ações ficam no papel, a ocupação do Cerrado continua avançando. Um estudo sobre a expansão das áreas de plantio para a produção de etanol divulgado pelo ISPN mostra que áreas indicadas como prioritárias para a conservação da biodiversidade estão sendo rapidamente desmatadas. Em tempo: a PEC do Cerrado e Caatinga comemorou em 2007 seu 12o ano de tramitação no Congresso.
Mata Atlântica
Clodoaldo Armando Gazzetta – 38 anos, é Biólogo, Professor e Coordenador do Programa Mata Atlântica do Instituto Ambiental Vidágua, do qual foi um dos fundadores em 1994. Fundador do Partido Verde de Bauru, foi Secretário Municipal de Meio Ambiente da cidade de 93 à 96, e já atuou como coordenador e consultor de projetos socioambientais para instituições públicas e não governamentais do país.
Quando em 25 de setembro de 1990, o então Secretário Nacional do Meio Ambiente José Lutzenberger editou o decreto federal 99.574/90, que vedava totalmente o corte e a exploração da vegetação nativa da Mata Atlântica no Brasil, a sociedade brasileira foi despertada para situação de colapso que o Bioma atravessava, devido à extrema degradação histórica imposta ao mesmo. O referido decreto, apesar de ter suscitado reações adversas em diferentes setores, inclusive com críticas veladas até mesmo do movimento ambientalista, foi à primeira instrução legal relacionada diretamente ao Bioma, após o mesmo ter sido considerado como patrimônio ambiental brasileiro pela constituição de 1988.
Na verdade este “choque” provocado por este instrumento legal que posteriormente deu lugar ao decreto federal 750/93, que trazia em sua redação as delimitações do que se julgava ser os limites fitogeográficos da Mata Atlântica, além da possibilidade de uso de seus recursos naturais, mostrou, teoricamente, que seria possível tentar modificar os cenários de degradação atual através de medidas instrucionais.
Leia aqui o artigo na íntegra.
Pampa
Paulo Brack – professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Consema/RS), onde representa a ONG Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá)
O Pampa só existe no Rio Grande do Sul e países limítrofes, e é o bioma menos protegido do País. Resta metade de seus 17 milhões de hectares originais e a cada ano se perdem 200 mil hectares pelo avanço da fronteira agrícola e da silvicultura. Ações governamentais se caracterizem por ambigüidade e descaso. O Ministério do Meio Ambiente promoveu um mapeamento dos Campos Sulinos (2006), realizou seminários sobre áreas prioritárias para conservação, mas em 2007, só o Ibama teve atuação favorável, rejeitando o atual licenciamento da silvicultura. O governo estadual e dirigentes da Sema/RS não esboçaram nenhuma ação para atender à biodiversidade e a sustentabilidade socioambiental do Pampa. Empresas de celulose doaram mais de R$ 1,5 milhão para candidatos na campanha ao governo do estado e ao Legislativo.
Pantanal
Adalberto Eberhard – Adalberto Eberhard é veterinário de formação e criou, em 1989, a Fundação Ecotrópica. A organização conservacionista, sediada em Cuiabá, é responsável pela preservação de quatro reservas particulares no Pantanal. Elas fazem parte de um dos complexos de áreas úmidas mais importantes do planeta.
“Escrever sobre o Pantanal é sempre um pesadelo renovado. Isto porque, enquanto as ações de conservação da natureza avançam a milímetros por ano, as ações de degradação vem em sentido contrário, atropelando, a quilômetros por segundo.”
Escrevi esta frase há quase trinta anos e sempre que me pedem para fazer uma retrospectiva anual da situação do Pantanal, eu a repito, na expectativa de perceber uma mudança na equação colocada. Foi tolice minha avaliar os avanços em conservação da natureza em milímetros ao ano, uma vez que agora fica difícil encontrar uma unidade menor que o milímetro e que tenha o charme do mesmo. Poderia falar em mícron, mas perderia muito do alcance em comunicação. Na outra extremidade, na destruição da natureza, poderia ter usado decâmetro ou hectômetro para poder nos dias de hoje, ampliar para quilômetro, para dar uma justa noção do que está acontecendo na região.
Reconheço que na extremidade milimétrica ocorreram coisas fantásticas no ano que se finda. No entanto, é lamentável a ausência do poder público neste lado da equação. Se não levarmos em conta o esforço extraordinário da administração do Parque Nacional do Pantanal em garantir a proteção do mesmo e a boa equipe que foi montada para isto, veremos que neste lado da equação quase todos os avanços foram da iniciativa privada. Plataforma de diálogo com empresários, aquisição de áreas para conservação, gestão de Reservas Privadas, foram iniciativas que enriqueceram o cenário pantaneiro. Concordo com a afirmação de que as ONGs ambientalistas estão mudas e que nem tudo está indo bem neste setor. Mas aí eu pergunto: quem se habilita a doar recursos para ONG militante e ativista? Quem deseja colocar seu nome ao lado da militância ecológica?
Leia aqui o artigo na íntegra.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Proteção mínima – Andreia Fanzeres (09/04/2007)
O Eco no V Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (17 a 21 de junho/2007)
Flanco aberto – Gustavo Faleiros (16/07/2007)
A lógica escondida das APAs – Marc Dourojeanni (14/06/2007)
PAMPA
Ilustre desconhecido – Silvia Marcuzzo (17/07/2007)
Plantando ilegalidade – Aldem Bourscheit (06/12/2007)
MARINHO
Nibs – O campeão do micro lixo marinho – Frederico Brandini (10/05/2007)
A latitude dos cavalos – Frederico Brandini (27/06/2007)
Robalo de volta ao mar – Dimitri do Valle (24/03/2007)
A grande sardinhada – Fabio Olmos (20/11/2007)
PANTANAL
Rasgando dinheiro – Gustavo Faleiros (26/02/2007)
Passagem conturbada – Andreia Fanzeres (01/08/2007)
Lenda pantaneira – Andreia Fanzeres (02/08/2007)
Estratégia de guerra – Felipe Lobo (06/06/2007)
CERRADO
Salta uma reserva mal passada – Marcos Sá Corrêa (11/08/2007)
O ‘cansei’ do Cerrado – Aldem Bourscheit (01/11/2007)
O Cerrado em jogo – Gustavo Faleiros (10/04/2007)
Estratégia para acabar com o Cerrado – Verônica Theulen (31/08/2007)
Deu cana na conservação – Aldem Bourscheit (01/12/2007)
CAATINGA
Umbu no pão francês – João Manoel da Rocha Lima (24/04/2007)
Floresta branca ou Sem floresta? – Adriano Gambarini (21/04/2007)
AMAZÔNIA
Yes, nós temos desmatamento – Marcos Sá Corrêa (21/03/2007)
Anúncio vazio – Sergio Abranches (07/12/2007)
Trator na Amazônia – Gustavo Faleiros (22/01/2007)
De olho no pequeno estrago – Gustavo Faleiros (10/08/2007)
Reservas de eletricidade – Gustavo Faleiros (22/08/2007)
Os bagres de Lula – Gustavo Faleiros (20/04/2007)
Mostra o dinheiro – Andreia Fanzeres (23/08/2007)
Terra sem lei – Andreia Fanzeres (22/08/2007)
Estouro no Xingu – Andreia Fanzeres (16/05/2007)
Os donos da floresta – Andreia Fanzeres (23/10/2007)
Santo câmbio – Andreia Fanzeres (25/05/2007)
Quilombo até embaixo d’água – Andreia Fanzeres (02/07/2007)
Lágrimas de crocodilo – Eric Macedo (02/06/2007)
A troco de nada – Eric Macedo (11/08/2007)
Aqui se faz, aqui se paga – Juliana Michaela (28/08/2007)
MATA ATLÂNTICA
História de uma tragédia – Manoel Francisco Brito (17/01/2007)>
Em nome do progresso – Romeu de Burns (27/11/2007)
De volta à tona – Carla di Cologna (20/07/2007)
Chuva em terras sem lei – Juliana Fernandes e Nai Frossard (13/01/2007)
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