Presidente da ICCAT, Fábio Hazin. (crédito: acertodecontas.blog.br) |
A decisão do Ministério da Pesca e da Aquicultura de abrir as águas brasileiras para que navios estrangeiros possam ajudar o país a atingir a cota do atum espadarte causou polêmica entre ambientalistas. ((o))eco entrou em contato com Fábio Hazin, presidente da Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico (ICCAT) para saber sua opinião. Este é o órgão internacional que regulamenta a cota de pesca dos seus 48 países membros. Para Hazin, preocupações em relação à sustentabilidade da espécie não procedem, mas ele reconhece que a pesca do espadarte pode atingir outros peixes. (Thiago Camara)
Como presidente da ICCAT, como o senhor avalia a decisão do governo brasileiro em conceder benefício para embarcações estrangeiras?
Fábio Hazin– Como Presidente da ICCAT não me cabe avaliar a posição do governo brasileiro, nem de nenhum dos 48 países membros da Comissão. Não tenho mandato para isso.
A necessidade do Brasil em atingir sua cota anual não prejudica a sustentabilidade da espécie do atum espadarte?
FH– De forma alguma. Tanto o estoque do espadarte do Atlântico Norte como do Atlântico Sul se encontram com as suas biomassas acima do nível necessário para assegurar o Rendimento Máximo Sustentável. Considerando-se que essas espécies já vêm sendo capturadas há mais de 50 anos, a boa condição dos seus estoques é um testemunho de que as medidas de ordenamento adotadas pela ICCAT tem sido adequadas para assegurar a sustentabilidade de sua exploração. Além de não se encontrarem sobrepescados, as capturas desses estoques vêm sendo, já há vários anos, estritamente controladas por meio de uma Captura Máxima Permitida, e de quotas individuais de captura para os diversos países. Desde que o Brasil não ultrapasse as suas quotas de captura, portanto, não haverá qualquer prejuízo para a sustentabilidade do estoque. O que certamente ocorrerá se o Brasil não for capaz de usufruir de suas cotas de captura, no entanto, é que outros países, mais cedo ou mais tarde, terminarão certamente por ocupar o espaço aberto pelo Brasil.
O processo de pesca do atum espadarte não prejudica outras espécies como tubarões e tartarugas marinhas?
FH- A pesca do espadarte captura, sim, outras espécies, como tartarugas e tubarões. A vantagem de se assegurar que essa pesca ocorra a partir do Brasil é que, diferentemente de outras frotas estrangeiras, o País poderá impor medidas de redução da captura dessa fauna acompanhante, como anzóis circulares, para reduzir a captura de tartarugas, estropo de náilon ao invés de aço, para reduzir a captura de tubarões, tori-lines, para reduzir a captura de aves, etc. Além disso, diferentemente da frota nacional, cuja fiscalização é altamente deficiente, todas as embarcações estrangeiras arrendadas em operação no País só podem sair do porto para o mar com a presença de um observador a bordo e monitoramento por satélite, além da obrigatoriedade do preenchimento dos mapas de bordo, com registro detalhado de todas as capturas, incluindo a fauna acompanhante, medidas que garantem um controle muito mais eficiente da atividade dessa frota do que no caso dos barcos nacionais.
Saiba mais
Mar aberto para pescadores estrangeiros
Leia também
COP da Desertificação avança em financiamento, mas não consegue mecanismo contra secas
Reunião não teve acordo por arcabouço global e vinculante de medidas contra secas; participação de indígenas e financiamento bilionário a 80 países vulneráveis a secas foram aprovados →
Refinaria da Petrobras funciona há 40 dias sem licença para operação comercial
Inea diz que usina de processamento de gás natural (UPGN) no antigo Comperj ainda se encontra na fase de pré-operação, diferentemente do que anunciou a empresa →
Trilha que percorre os antigos caminhos dos Incas une história, conservação e arqueologia
Com 30 mil km que ligam seis países, a grande Rota dos Incas, ou Qapac Ñan, rememora um passado que ainda está presente na paisagem e cultura local →