O “plano B” do governo federal para ampliar a oferta de energia no Brasil será a construção de hidrelétricas em países vizinhos. A informação, apurada pela Folha de S. Paulo na edição de terça-feira (14/02), diz que o principal projeto de integração no uso de usinas hidrelétricas para geração de energia será com o Peru, mas há estudos e projetos em andamento em outros países, a maioria na Região Amazônica, especificamente Peru, Bolívia, Colômbia, Guiana, Suriname e Venezuela). A ferramenta preferencial por trás desses planos é a capacidade de financiamento do BNDES.
O acordo de integração energética entre Brasil e Peru foi assinado entre os dois países em maio de 2009. A escolha do Peru como parceiro não foi por acaso: o país responde por 14% do potencial hídrico da América Latina e tem baixa demanda interna por energia. O acordo binacional, que prevê a construção de seis usinas com capacidade de gerar 22 GW – quase duas Belo Monte – sofre resistência por lá devido aos impactos que pode causar sobre povos indígenas.
A hidrelétrica de Inambari, que deverá custar US$ 4 bilhões, foi cancelada em junho do ano passado até o governo peruano entrar em acordo com indígenas e populações tradicionais que seriam afetados.
Fora da Amazônia, o governo brasileiro constrói junto com a Argentina uma usina binacional de 4,8 bilhões de dólares: a Usina Hidrelétrica Binacional Garabi, que deve ser erguida no rio Uruguai, fronteira entre Brasil e Argentina, com capacidade estimada em 2.000 megawatts. Na Bolívia, também se encontra em estudos a construção de outra binacional, a exemplo da Itaipu (maior usina do mundo), construída com o Paraguai.
Além disso, o custo da energia no exterior pode ser mais baixo do que no Brasil. Na Bolívia, o MWh da Usina de Cachuela Esperanza, ainda em estudo, sairia por US$ 58. No Brasil, caso fosse implantada uma usina com esta capacidade, o custo seria de US$ 77, segundo projeções da consultoria PSR, ouvida pela Folha.
Não é apenas por acordo de cooperação entre países que o Brasil amplia sua influência. As empresas brasileiras também expandem seus negócios em projetos de grandes obras, com ajuda de financiamento do BNDES.
A Eletrobras, por exemplo, pretende acrescentar 18 GW ao sistema com unidades no exterior até 2020. Essas usinas estarão interligadas por 10 mil quilômetros de cabos. Ainda segundo a reportagem da Folha, essas obras consumirão recursos de pelo menos R$ 58 bilhões. Esse montante poderá ser totalmente financiado pelo BNDES, desde que as empresas nacionais sejam as controladoras.
E é também por este motivo (dentre outros) que o Brasil é acusado de imperialista pelas organizações de direito civil dos países envolvidos. Um artigo do New York Times relata o aumento da influência do Brasil nos países vizinhos e a crescente resistência que essa posição desperta. O jornal americano dá destaque ao papel do BNDES “um colosso financeiro que torna nanicos os empréstimos do Banco Mundial e que se transformou no principal meio do Brasil projetar o seu poder através da América Latina e além dela”.
A Comissão de Povos, Meio Ambiente e Ecologia do Congresso peruano e ambientalistas fizeram pressão para rever o acordo energético assinado entre os dois países. Uma das acusações aponta que o Brasil se beneficia da geração de energia produzida no vizinho, sem ter que compartilhar o impacto ambiental.
Em maio do ano passado, houve um fórum sobre o acordo energético Peru-Brasil e as implicações para o Peru. O vídeo “Decide informado decide consciente” (em espanhol), discutido durante o evento, fala dos efeitos do acordo energético e de seus impactos ambientais, como o desmatamento de um milhão e meio de hectares para a construção das cinco hidrelétricas previstas.
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