Manaus, AM – Ficar no ninho, protegendo os ovos, enquanto a fêmea vai cuidar da vida, não é nenhum problema para os opiliões da espécie Iporangaia pustulosa. Na verdade, esta é uma estratégia para fugir de predadores e atrair outras fêmeas para o ninho. O comportamento desse invertebrado foi descrito em um artigo publicado essa semana na revista PLOS One, de autoria de Gustavo Requena, biólogo da Universidade de São Paulo, e colegas. Antes de explicar como funciona a malandragem, é bom apresentar esse animal pouco conhecido. Os opiliões são um dos 11 grupos de aracnídeos. São numerosos, embora menos falados e conhecidos do que as primas aranhas, escorpiões e ácaros. Existem mais de 6.300 conhecidos. É um grupo diverso, com espécies que vivem em áreas bastante restritas. Segundo os pesquisadores, o I. pustulosa foi encontrado em grande concentração em uma área de 5 por 200 metros, na Mata Atlântica do Sudeste Paulista, onde Requena realizou os estudos. “Fora dessa área, a concentração de bichos fica pequena”, disse o pesquisador. O I. postulosa é robusto. Um adulto tem comprimento de 10 centímetros no total, com um corpo de cerca de 1,5 centímetro. Os opiliões até se parecem com as aranhas, têm o corpo pequeno em comparação com as longas pernas, mas guardam diferenças importantes. Primeiro, os opiliões não têm veneno, emboram tenham glândulas que secretam substâncias que ajudam na sua proteção e reprodução. Diferente das aranhas, que têm o corpo dividido em duas porções, o corpo do opilião funde essas duas porções em apenas uma. Além disso, entre invertebrados, os opiliões são um caso raro de possuir pênis. Estratégia preguiçosa do macho Existem dois motivos para que um opilião enfrente o perigo da floresta: procurar fêmeas ou buscar comida. No caso do I. pustulosa, após a postura dos ovos, a fêmea vai em busca da própria sobrevivência, enquanto o macho faz o sacrifício de ficar semanas sem se alimentar, para proteger os ovos de predadores, que podem ser grilos, formigas, aranhas e até mesmo outros opiliões. Aí é que começa a malandragem do bicho. Requena explica que o maior risco na floresta está nos deslocamentos, já que os principais predadores do opilião adulto são aranhas que ficam paradas, aguardando a presa cair na armadilha. “A espécie tem atividade diurna e esperávamos que fosse predada por pássaros, mas isso é raro”, conta o pesquisador. “E na região encontramos também poucas formigas.” Ou seja, no ninho, o opilião fica sem comer, mas também evita virar comida de outro bicho. Além de proteger contra um esbarrão letal com um predador, cuidar dos ovos é estratégia de sedução entre os opiliões. Fêmeas interessadas em botar ovos e se mandar logo em seguida buscam parceiros que possam cuidar bem da prole. O pai abandonado, então, mantém a casa em ordem na expectativa de atrair outras candidatas. “É a mesma história dos tios que levam os sobrinhos para passear”, diz Requena. E a tática funciona muito bem, pelo menos entre os opiliões. “Eles podem se acasalar com várias fêmeas e podem ficar até 4 meses sem se alimentar”. Os ovos demoram cerca de um mês para eclodir e os juvenis rapidamente desaparecem na floresta. Requena conta que é difícil o macho pai passar mais de dois meses no mesmo ninho. “Eles ficam muito fracos e é possível que em alguns casos abandonem os ovos para buscar comida”. Mas o bom macho resiste, enquanto pode.
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