Manaus, AM – O cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é um animal pouco conhecido e raro, apesar de ser encontrado em quase todo o território brasileiro, da Mata Atlântica até a Amazônia. Só por isso, um vídeo gravado no Parque Estadual Veredas do Peruaçu, norte de Minas Gerais que mostra um indivíduo, já seria motivo de comemoração. Mas as imagens valeram não só pelo registro, mas também porque serviram para reavaliar a área de ocorrência da espécie.
O cachorro-vinagre é um canídeo peculiar. Tem um corpo alongado e pernas curtas e lembra uma lontra. “Quando o dinamarquês Peter Lund descobriu a espécie, em 1842, chegou a pensar que era uma lontra, mas depois que o animal morreu, na dissecação ele descobriu que era um canídeo”, conta o biólogo Guilherme Ferreira, do Instituto Biotrópicos. Além disso, alimenta-se exclusivamente de carne, o que não é comum para canídeos pequenos como ele, que chega a pesar 5 quilos e medir 70 centímetros de comprimento e 30 de altura.
Ele é um bicho social, vive em bandos permanentes de até 10 animais, o que permite caçar presas com o mesmo tamanho que ele. Tatus e patos são seus principais alvos. O nome vem do cheiro da urina, que lembra o vinagre. Ele nada e mergulha muito bem, auxiliado por membranas entre os dedos.
Uma semana antes da gravação, o biólogo Guilherme Ferreira participou de um encontro onde estava sendo discutida a preservação desse animal. Havia sido elaborado um mapa das áreas com possibilidade de a espécie ser encontrada. Assim que o vídeo foi feito, os dados foram revistos e novas áreas foram incluídas, como aquela entre o Norte de Minas Gerais e e Noroeste da Bahia.
Antes desse vídeo, os últimos registros da espécie em Minas tinham sido rastros e animais mortos. A espécie é classificada como vulnerável no país e está criticamente ameaçada em Minas Gerais. Além do desmatamento, sofre com ataques e doenças transmitidas por animais domésticos, segundo o WWF.
O Parque Estadual Veredas do Peruaçu faz parte de um mosaico de unidades de conservação espalhadas por quase 2 milhões de hectares no norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, que incluem também o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e o Parque Estadual da Mata Seca. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais também são parceiros na pesquisa.
“O registro deixa claro o papel das áreas protegidas, especialmente no Cerrado, que tem menos de 3% de sua área efetivamente resguardada pelo poder público”, ressalta o superintendente de Conservação do WWF- Brasil, Michael Becker, “Só assim o Brasil conseguirá cumprir suas metas de conservação da biodiversidade e manter serviços ambientais, como regulação do clima e fornecimento de água”, completa.
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